quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Defesa pode dar campeonato ao Corinthians, mas antes o ataque precisa vencer jogos


Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Tite oriente time do Corinthians no empate com o Fluminense no Maracanã
Tite orienta time do Corinthians no empate com o Fluminense no Maracanã.
"Ataque ganha jogos, defesa ganha campeonatos". A célebre frase de Phil Jackson, treinador multicampeão na NBA, vale para o basquete e também se encaixa no futebol. Mais ainda no Campeonato Brasileiro.
Não é ode ao defensivismo, são os números que comprovam. Desde o Fluminense de 2010 a defesa menos vazada leva o título. Em 2009, o campeão Flamengo sofreu apenas dois gols a mais que o São Paulo, que no ano anterior faturou o tri levando apenas um a mais que o vice Grêmio. Nas duas conquistas anteriores, Rogério Ceni foi o goleiro que menos buscou bolas nas redes.
Só em 2005 houve uma discrepância, com o Corinthians de Tevez ganhando a taça com apenas a quinta defesa mais eficiente, sofrendo dez gols a mais que o Internacional. Mais um "asterisco" para aquela edição de exceção.
Apenas por este aspecto, o Corinthians vai bem em 2013. Apenas seis gols sofridos em 14 rodadas. Um a mais que o São Paulo 2007, defesa menos vazada da era dos pontos corridos, com o mesmo número de jogos.
A equipe de Tite segue sólida sem a bola. Compacta os setores em 30 metros de campo como nenhuma outra no futebol brasileiro. É a referência.
Também posiciona a última linha com coberturas bem sincronizadas, fecha as possibilidades de passes e pressiona o homem da bola com intensidade. Time organizado, com movimentos e modelo de jogo definidos e toda a execução do 4-2-3-1 perfeitamente assimilada. Líder nos desarmes certos até aqui, com 368. Média de 26 por jogo (Footstats).
Reprodução TV Globo
Flagrante do Corinthians compactando das linhas com os dez jogadores de linha em cerca de 30 metros de campo e pressão no homem da bola.
Flagrante do Corinthians compactando das linhas com os dez jogadores de linha em cerca de 30 metros de campo e pressão no homem da bola.
Falta, porém, cumprir a primeira parte da frase de Jackson: o ataque precisa ganhar jogos. São apenas treze tentos, menos de um por partida. Só São Paulo, com dois jogos a menos, e o lanterna Náutico foram piores.
Na conquista de 2011, os números também não foram animadores. 53 gols marcados, apenas o oitavo ataque mais positivo. Mas a média de 1,4 por jogo tornou viável a campanha vitoriosa. Agora, se a meta é o hexacampeonato, se igualando a Flamengo e São Paulo, a ordem é evoluir ofensivamente. E muito.
As causas? Reduzir a análise à uma suposta "retranca" parece simplismo. O atual campeão mundial é o quarto com mais posse de bola na competição e o líder em passes certos. Não é o Barcelona ou o Bayern que Guardiola tenta moldar, mas também está longe de ser um time reativo, que sempre abre mão do controle da bola e especula em contragolpes.
A sentida saída de Paulinho é uma justificativa plausível. Se o substituto Guilherme contribui para a fluência ofensiva articulando mais de trás, o volante da seleção brasileira e agora do Tottenham entrava na área para finalizar. E o melhor: com eficiência.
Ainda assim, talento não falta. Renato Augusto e Alexandre Pato qualificaram o elenco. Guerrero é o típico nove que finaliza e faz o trabalho de pivô, Romarinho já mostrou seu valor, Danilo tem ótimo timing para concluir as jogadas e Emerson é atacante de decidir jogos, como fez na Libertadores do ano passado.
O time ataca pelos lados, com o apoio alternado dos laterais Edenilson e Fabio Santos. Movimenta o quarteto ofensivo para desorganizar a marcação do oponente. Trabalha a bola parada, com os zagueiros Gil e Paulo André aparecendo na frente como opção para os cruzamentos.
O que falta, então? Contundência é a palavra! O Corinthians é o sexto time que menos finaliza no campeonato. A média de 4,1 conclusões na direção da meta por jogo é pífia, superior apenas à de Vitória, Atlético-MG e Criciúma. Mas a de arremates errados também é baixa: sete por partida. A sexta entre os 20 times.
Tite já prometeu e cumpriu nos treinamentos: "Vou inchar as pernas dos atacantes com treinos de finalização". Mas parece não ser o suficiente. Falta fome, o ímpeto de seguir atacando e fazendo o goleiro adversário trabalhar depois da vantagem construída. O time é essencialmente administrativo, pragmático. Faz poucos jogos "malucos", com gols e viradas.
Talvez faltem concentração e paciência para a competição mais longa e o Corinthians, depois dos títulos estadual e da Recopa Sul-Americana, priorize, ainda que instintivamente, a Copa do Brasil. Em caso de conquista, o saldo no ano pode até ser considerado positivo. Mas é possível fazer mais e melhor.
Os sete empates, um a cada dois jogos, não são acaso. A equipe que se defende bem e trabalha a bola é menos ameaçada. Na hora de decidir, porém, falha ou arrisca pouco.
Com isso, não ganha os jogos que levam a taça para casa. Ou ao menos garantem o G-4, do qual se afastou depois do empate sem gols com o Fluminense no Maracanã vazio. Mais uma partida em que a melhor defesa não bastou. Um novo sinal de alerta.
Olho Tático
O 4-2-3-1 habitual do Corinthians, com a formação inicial contra o Flu: defesa forte, controle da bola, mas pouca efetividade no ataque.
O 4-2-3-1 habitual do Corinthians, com a formação inicial contra o Flu: defesa forte, controle da bola, mas pouc