Rodrigo Coca/Agência Corinthians
"Ataque ganha jogos, defesa ganha campeonatos". A célebre frase de Phil Jackson, treinador multicampeão na NBA, vale para o basquete e também se encaixa no futebol. Mais ainda no Campeonato Brasileiro.
Não é ode ao defensivismo, são os números que comprovam. Desde o Fluminense de 2010 a defesa menos vazada leva o título. Em 2009, o campeão Flamengo sofreu apenas dois gols a mais que o São Paulo, que no ano anterior faturou o tri levando apenas um a mais que o vice Grêmio. Nas duas conquistas anteriores, Rogério Ceni foi o goleiro que menos buscou bolas nas redes.
Só em 2005 houve uma discrepância, com o Corinthians de Tevez ganhando a taça com apenas a quinta defesa mais eficiente, sofrendo dez gols a mais que o Internacional. Mais um "asterisco" para aquela edição de exceção.
Apenas por este aspecto, o Corinthians vai bem em 2013. Apenas seis gols sofridos em 14 rodadas. Um a mais que o São Paulo 2007, defesa menos vazada da era dos pontos corridos, com o mesmo número de jogos.
A equipe de Tite segue sólida sem a bola. Compacta os setores em 30 metros de campo como nenhuma outra no futebol brasileiro. É a referência.
Também posiciona a última linha com coberturas bem sincronizadas, fecha as possibilidades de passes e pressiona o homem da bola com intensidade. Time organizado, com movimentos e modelo de jogo definidos e toda a execução do 4-2-3-1 perfeitamente assimilada. Líder nos desarmes certos até aqui, com 368. Média de 26 por jogo (Footstats).
Reprodução TV Globo
Falta, porém, cumprir a primeira parte da frase de Jackson: o ataque precisa ganhar jogos. São apenas treze tentos, menos de um por partida. Só São Paulo, com dois jogos a menos, e o lanterna Náutico foram piores.
Na conquista de 2011, os números também não foram animadores. 53 gols marcados, apenas o oitavo ataque mais positivo. Mas a média de 1,4 por jogo tornou viável a campanha vitoriosa. Agora, se a meta é o hexacampeonato, se igualando a Flamengo e São Paulo, a ordem é evoluir ofensivamente. E muito.
As causas? Reduzir a análise à uma suposta "retranca" parece simplismo. O atual campeão mundial é o quarto com mais posse de bola na competição e o líder em passes certos. Não é o Barcelona ou o Bayern que Guardiola tenta moldar, mas também está longe de ser um time reativo, que sempre abre mão do controle da bola e especula em contragolpes.
A sentida saída de Paulinho é uma justificativa plausível. Se o substituto Guilherme contribui para a fluência ofensiva articulando mais de trás, o volante da seleção brasileira e agora do Tottenham entrava na área para finalizar. E o melhor: com eficiência.
Ainda assim, talento não falta. Renato Augusto e Alexandre Pato qualificaram o elenco. Guerrero é o típico nove que finaliza e faz o trabalho de pivô, Romarinho já mostrou seu valor, Danilo tem ótimo timing para concluir as jogadas e Emerson é atacante de decidir jogos, como fez na Libertadores do ano passado.
O time ataca pelos lados, com o apoio alternado dos laterais Edenilson e Fabio Santos. Movimenta o quarteto ofensivo para desorganizar a marcação do oponente. Trabalha a bola parada, com os zagueiros Gil e Paulo André aparecendo na frente como opção para os cruzamentos.
O que falta, então? Contundência é a palavra! O Corinthians é o sexto time que menos finaliza no campeonato. A média de 4,1 conclusões na direção da meta por jogo é pífia, superior apenas à de Vitória, Atlético-MG e Criciúma. Mas a de arremates errados também é baixa: sete por partida. A sexta entre os 20 times.
Tite já prometeu e cumpriu nos treinamentos: "Vou inchar as pernas dos atacantes com treinos de finalização". Mas parece não ser o suficiente. Falta fome, o ímpeto de seguir atacando e fazendo o goleiro adversário trabalhar depois da vantagem construída. O time é essencialmente administrativo, pragmático. Faz poucos jogos "malucos", com gols e viradas.
Talvez faltem concentração e paciência para a competição mais longa e o Corinthians, depois dos títulos estadual e da Recopa Sul-Americana, priorize, ainda que instintivamente, a Copa do Brasil. Em caso de conquista, o saldo no ano pode até ser considerado positivo. Mas é possível fazer mais e melhor.
Os sete empates, um a cada dois jogos, não são acaso. A equipe que se defende bem e trabalha a bola é menos ameaçada. Na hora de decidir, porém, falha ou arrisca pouco.
Com isso, não ganha os jogos que levam a taça para casa. Ou ao menos garantem o G-4, do qual se afastou depois do empate sem gols com o Fluminense no Maracanã vazio. Mais uma partida em que a melhor defesa não bastou. Um novo sinal de alerta.
Olho Tático