Efetivado como treinador da seleção argentina, Sergio Batista dá pistas, desde as Olimpíadas de 2008, de que não encontra ou confia em outros jogadores para a posição de enganche que não sejam Riquelme, do Boca Juniors, e D’Alessandro, do Internacional. Pastore, do Palermo, mesmo integrando às listas das últimas convocações, parece aposta futura, pós-Copa America 2011.
Na conquista do ouro olímpico em Pequim, Riquelme, já com 30 anos, foi o único enganche clássico dentro do elenco montado por Batista. José Sosa, hoje no Napoli, e Diego Buonanotte, do River Plate, eram, na verdade, dois meia-atacantes. E foram os que, naquele grupo, mais se aproximaram do perfil que deveria possuir um autêntico reserva para Roman.
No dia 5 de maio deste ano, Diego Maradona, então técnico da seleção argentina que iria disputar a Copa do Mundo, divulgou a sua lista de 30 nomes, depois reduzida para 23. Pastore e o posteriormente cortado, Sebástian Blanco, do Lanús, eram os meias de criação – enganches – autênticos, de origem.
O ex-treinador levou para o Mundial um exagerado número de sete atacantes. Na meia-cancha priorizou volantes que jogam pelos lados do campo, como, Di Maria, do Real Madrid, ex-Benfica; Jonas Gutiérrez, do Newcastle, – atuou como dublê de lateral-direito – e Maxi Rodriguez, do Liverpool. Este substituiu Verón, do Estudiantes, contra sul-coreanos, mexicanos e alemães, atuando fixo pela extrema direita.
Conca participou de todos os jogos do Fluminense no campeonato brasileiro de 2010
Isso sobrecarregou, no setor central, Javier Mascherano no combate e Messi na armação das jogadas, obrigando o camisa 10 a recuar de forma demasiada. Só assim ele recebia o primeiro passe e podia puxar contragolpes a partir da intermediária defensiva. Verón chegou à Copa, segundo o próprio Maradona, como o ‘Xavi da albiceleste’, mas terminou na reserva.
Javier Pastore, no pouco que atuou contra os gregos e mexicanos, assumiu e executou de forma satisfatória – em que pese a precária noção tática de Diego – sua função. Cabia a ele de municiar Messi. Pois assim, com o auxílio de Verón e Pastore, “La Pulga” foi mais incisivo e perigoso.
Maradona não apostou em jogadores com características fundamentais para organizar o meio de campo, ou seja, pensar o jogo, fazer a leitura do adversário a partir de uma visão privilegiada da metade oposta do campo. Sergio Batista pensa, tanto que Banega e Gago são prioridades dele, mas a alegria proveniente de tal constatação dura pouco.
O ex-volante central campeão do mundo em 1986 ao lado do próprio Maradona tem desenvolvido uma equivocada estratégia para se garantir no cargo até a próxima Copa do Mundo. É nítido seu imediatismo – lê-se Copa America 2011 – sem o necessário compromisso com 2014. Assim, insiste em uma zaga envelhecida e fraca tecnicamente.
À frente, insiste em D’Alessandro e declara sua intenção de reconduzir Riquelme à albiceleste. Enquanto isso quem espera oportunidades na seleção argentina é Dario Leonardo Conca. O maestro do Fluminense está se superando fisicamente na temporada, atuou em todos os jogos do time no Brasileirão 2010.
No quesito passe com qualidade e inteligência, aquilo que faltou a Lionel Messi na África do Sul, Conca comprova ser um candidato privilegiado, já que possui a impressionante marca de 16 assistências no campeonato. Taticamente o tricolor também leva vantagem sobre a incógnita física e técnica chamada Riquelme – retornando de longa contusão – e dos seus compatriotas, Montillo e D’Alessandro.
O Cruzeiro de Cuca tem volantes e outros meias de bom passe. Além disso conta com o atacante Thiago Ribeiro, que se destaca mais do que todos no elenco nas assistências. Montillo têm explorado mais sua diferenciada qualidade técnica pelo setor do campo próximo a meia-lua adversária como meia-atacante. Contundente e vertical não só para servir aos seus companheiros, mas também para produzir ótimas jogadas individuais e concluir em gol com freqüência. É diferente de Conca.
No Internacional de Celso Roth, D’Alessandro passou a realizar sua tarefa de organizar e criar as jogadas ofensivas da sua equipe, a partir dos lados do campo dentro do 4-2-3-1. Apesar de ter sido fundamental para a conquista da Libertadores, foi, a meu ver, coadjuvante do jovem e promissor Giuliano, autor, inclusive, de gols decisivos.
Atuando sob o comando de Muricy Ramalho, fã confesso do futebol do argentino desde os tempos em que treinava o São Paulo, Dario Conca tem sido o clássico meia de criação que pensa e organiza o jogo. E antevê jogadas. Com facilidade para criar as tramas ofensivas e com visão ampla da intermediária ofensiva, é referência para receber o passe na saída de bola.
No Fluminense ele inverte jogadas, aciona os laterais e atacantes, produz com qualidade e naturalidade, dá passes longos e demonstra sistematicamente uma excelente vitalidade física para aproximar-se dos companheiros de frente. O pequeno camisa 11 serve, ainda, como opção de tabela, triangulações e arremata em gol.
Dario Conca é cinco anos mais jovem que Riquelme, 32, e tem dois anos a menos que D’Alessandro, 29. Esta constatação permite realçar outra vantagem que leva sobre os eleitos de Batista: sua dedicação tática. Tal comprometimento lhe permite apresentar-se em prol da equipe quando esta não está com a bola. E ainda sobra dedicação e vigor no combate aos volantes e defensores adversários na saída de jogo do time oponente.
Por essas e outras, Conca merece uma chance na seleção da Argentina.Abaixo, diagrama tático de uma seleção argentina virtual, já para a Copa America de 2011 e visando 2014. Equilibrada na mescla de idade, principalmente nos setores de defesa e meio-campo, e composta por jogadores que, mesmo jovens, têm apresentado destacada qualidade técnica e personalidade. Conca pode se tornar a referência técnica e tática mais produtiva, dentro deste processo de renovação.
Time organizado com base em um flexível 4-3-2-1. Pode variar para o 4-3-3 e
4-3-1-2, com os deslocamentos de Pastore e Messi dentro da cancha
4-3-1-2, com os deslocamentos de Pastore e Messi dentro da cancha
Os 11 jogadores:Goleiro - Sergio Romero, 23 anos, AZ de Alkmaar/Holanda
Lateral direito – Gabriel Mercado, 23 anos, Estudiantes
Zagueiro – Federico Fernandez, 21 anos, Estudiantes
Zagueiro - Hugo Nervo, 19 anos, Arsenal de Sarandí
Lateral esquerdo – Emiliano Papa, 28 anos, Vélez Sarsfield
Volante central – Claudio Yacob, 23 anos, Racing Club
2º Volante – Éver Banega, 22 anos, Valencia/Espanha
Meia armador – Dario Leonardo Conca, 27 anos, Fluminense
Meia-atacante – Javier Pastore, 21 anos, Palermo/Itália
Meia-atacante – Lionel Messi, 23 anos, Barcelona/Espanha
Atacante – Gonzalo Higuaín, 22 anos, Real Madrid/Espanha
* Renato Zanata La Bruja Arnos, 43 anos, é professor de História, músico e idealizador do blog Bruxas & Leões de La Plata — clique aqui para acessar —colunista da revista Camisa 13 e analista tático do futebol argentino.