segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Português

18h15 Olhanense 3x4 Braga

Messi é a resposta

Não existe um jeito certo de jogar contra o Barcelona. O jeito errado é como o Santos atuou ontem, especialmente no primeiro tempo. O erro não é necessariamente a opção pelos três zagueiros, que não funcionou.

Mas o pior foi afundar a defesa inteira dentro de sua própria grande área. Danilo e Léo recuaram na mesma linha dos três beques, os dois volantes também se meteram dentro da área defensiva e houve espaço de sobra para Xavi, Iniesta, Fábregas e Messi na intermediária.
Talvez a situação fosse a mesma até com outro sistema, mas fatos são fatos. Em 24 partidas desta temporada, o Barcelona fez 3 a 0 no primeiro tempo seis vezes. O Al-Sadd resistiu mais.
Muricy diz que não parou de pensar no Barcelona desde que ganhou a Libertadores. Que nem em seu campinho conseguia marcar. Não é fácil mesmo entender o funcionamento do carrossel, mas há sempre uma certeza.
O time sem centroavante recua Messi e o faz jogar perto de Fábregas, Xavi e Iniesta. É preciso marcar esse setor. O Santos não fez isso.

Com a escalação do Barcelona anunciada, ontem, era previsível o 3-4-3 utilizado. A surpresa foi Thiago na ponta esquerda, Iniesta por dentro - poderia ser o inverso. Para diminuir o tamanho do tombo, seria necessário que Léo marcasse Daniel, e Henrique jogasse atrás de outra linha de quatro, com Danilo, Arouca, Ganso e Léo. A marcação na intermediária não houve e não seria o único requisito para fazer um jogo digno. O passe também seria fundamental. Sem uma coisa nem outra, a única chance seria Neymar manter a discussão sobre quem é melhor. A final de Yokohama, não deixou dúvida. A resposta é Messi.

A grande lição

Na tarde de 5 de julho de 1982, um jornalista italiano me cumprimentou, no saguão do Estádio Sarriá, pouco antes de Brasil x Itália, e lascou a seguinte frase: "A seleção de vocês precisa ganhar, para o bem do futebol". Infelizmente, não lembro o nome daquele colega visionário. Mas acertou em cheio na profecia. A fabulosa equipe de Telê Santana levou de 3 a 2, foi massacrada por críticas impiedosas, levianas, e a queda dela iniciou mudança na forma de atuarmos. Para pior.

Nos últimos 30 anos, o Brasil conquistou outros dois títulos mundiais, muito por genialidades individuais e menos por esquemas atraentes. Nossos times também levantaram taças de todos os formatos. Mesmo assim, desde a trágica data na Espanha ficou arraigada a certeza de que não adianta jogar bonito e perder. Gerações cresceram ouvindo a ladainha de que espetáculo não ganha jogo, o que vale são os três pontos, interessa só a vitória, até por meio a zero, com gol de mão, aos 47 do segundo tempo. E outras bobagens do gênero. Tivemos, nesse período, o Flamengo de 81/83, em parte o São Paulo de Cilinho e o de Telê, o Palmeiras de 93/94 e 96. Exceções.
Passamos a nos envergonhar do virtuosismo, da troca de passes, do drible, dos deslocamentos, do estilo ofensivo, do atleta formado em casa. Tudo o que o Barcelona tem feito à perfeição, que enche os olhos de plateias pelo mundo, que transforma adversários poderosos em marionetes e que ontem atropelou o Santos. O show espanhol nos 4 a 0 em Yokohama foi lindo, magnífico, emocionante. Exibição para ser aplaudida de pé, para ser reverenciada de joelhos.
Mas não é nova nem revolucionária essa maneira de jogar. Pep Guardiola e seus rapazes são ótimos e não reinventaram o jogo de bola. Seguem uma filosofia do clube e adaptaram para os tempos que correm episódios de excelência.
A Holanda de 74, o primeiro Brasil de Telê e a seleção tricampeã do mundo em 1970, para ficar em três exemplos limitados a equipes nacionais, inspiraram o Barça atual. O próprio treinador catalão deu a deixa da chave do sucesso, na entrevista depois da decisão, ao lembrar que o pai lhe contava as proezas dos times brasileiros - incluído aí, claro, o Santos de Pelé. O Barcelona joga como o futebol brasileiro de antigamente, visto como obsoleto por pragmáticos e medíocres que ditam tendências por aqui.
O Santos não foi vulgar nem Muricy Ramalho se revelou um energúmeno. O campeão da Libertadores, assim como já ocorreu com outros incautos, tentou surpreender o Barcelona. O treinador optou por esquema com três zagueiros, fórmula com a qual não está habituado a apresentar-se. Não deu certo, pois faltou qualidade (Durval, Dracena, Bruno falharam em lances cruciais). Saiu tudo errado, principalmente porque a turma catalã joga demais.
O Barcelona é tão superior que reduz times com jogadores experientes a bando de casados e solteiros. Tem tanta consciência de sua altivez que, na medida do possível, liquida as vítimas no primeiro tempo. Como foi ontem. Ou usa o jogo todo para impor-se, como fez em duas finais europeias contra o Manchester United ou nos duelos recentes com o Real.
O Santos poderia ter feito melhor? Até que tentou. A questão foi outra: não viu a cor da bola (71 a 29% de posse) e logo jogou a toalha. Não é hora, porém, de sacrificar Neymar (pipocaram comentários agressivos contra o rapaz), Ganso & Cia. É hora de aprendermos a lição de que o Brasil voltará a ser grande quando tiver a coragem de recuperar o futebol que lhe valeu fama, fortuna, respeito e inveja.

Que seja verdade

A lógica joga muito, mas não joga todo dia. Quem enfrenta o Barcelona não precisa esperar pelo fim da partida para saber que terá pela frente um adversário tática e tecnicamente brilhante, de posse de bola na faixa dos 70%, de controle quase absoluto das ações no campo.

Muricy Ramalho acreditou na formação de uma defesa com três zagueiros, mas contra este Barça todo cobertor é curto, a lógica joga muito. Com um jogador a mais na última linha defensiva, a marcação no meio de campo santista ficou ainda mais vulnerável. Apenas Henrique e Arouca para deter a transição de Messi, Fábregas, Xavi e Iniesta, o setor onde toda a base ideológica do futebol catalão é produzida, é pouco. O Barcelona mostrou mais uma vez ter superado a sistematização tática. No lugar dela prevalece o posicionamento, a ocupação de espaços e a circulação da bola, independentemente do jogador.
Para Pep Guardiola, o fundamental é a abertura lateral, ter sempre jogadores pelos lados do campo, expandindo a equipe, função cumprida ontem por Daniel Alves e Thiago Alcântara. Montado em triângulos e treinado para isso, o nível técnico individual absurdo do Barça produz um futebol quase imbatível. Em Yokohama, os dois "pontas" naturalmente prenderam os laterais no fundo do campo. Sobraram, então, três zagueiros para marcar quem?
Se o jogo é construído no meio de campo, com passes curtos, como Arouca e Henrique seriam capazes de impedir a máquina de Guardiola de funcionar? Uma linha de três se justifica quando existe quase a certeza de que o adversário vai se encaixar nela. Contra uma equipe que leva todos os seus adversários para dentro da área, pressiona e triangula a bola como ninguém, o Santos facilitou demais ao espremer a defesa contra o gol de Rafael. O resultado prático foi o desaparecimento de Neymar, Ganso e Borges, praticamente eliminando o contra-ataque, o caminho mais consistente para a vitória devido a característica do Santos.
"Aprendemos a jogar futebol com o Barcelona", disse Neymar, decepcionado, maduro o suficiente para perceber que não é possível imitar o futebol do adversário, mas que admirá-lo é o caminho para tentar entendê-lo e, quem sabe, trazê-lo para mais perto da realidade brasileira.
O Barça não pode ensinar ao Brasil como se pratica o futebol brasileiro. Afinal, esse estilo de posse e de passe pode surpreender a muita gente, mas não deve ser tratado como novidade por aqui. Por mais problemas táticos que o Santos tenha apresentado, é preciso deixar bem claro que a partida cumpriu seu ritual técnico, o das diferenças que carimbam em cada time sua identidade.
E nisso o Barcelona é gigante. Com três ou quatro na última linha, dificilmente o Santos venceria o grupo de Guardiola. Deu a lógica, que não entra em campo todo dia, mas tem jogado muito pelo Barça. Neymar tem razão, estamos aprendendo futebol com eles. Que seja verdade.

O Brasil vai pensar depois do massacre do Barcelona. Mas não por causa dele

As redes sociais explodiram no domingo à tarde discutindo a derrota do Santos. E muita gente emendou a conclusão de que a derrota é um sinal da decadência do futebol brasileiro. Menos.

É fato que o Brasil deve discutir profundamente a mudança de seu futebol, a perda do toque de bola, a formação de times à base de potência e velocidade, marcação e contra-ataque. Tudo isso é verdade.

Mas nada disso tem a ver com Barcelona 4 x 0 Santos.

O Barcelona é um time extraordinário, está fora da curva, é o melhor time do planeta e massacra adversários indiscutíveis há três anos.

Nos últimos três anos, fez 4 x 0 no Bayern de Munique, 4 x 1 no Arsenal, 6 x 2 no Real Madrid no Bernabéu e 5 x 0 no Camp Nou. Na atual temporada, das mudanças táticas e de gente dizendo -- eu mesmo -- que não estava vencendo os jogos grandes, o Barça jogou 26 vezes entre Liga dos Campeões e Campeonato Espanhol. Em seis delas, fez 3 x 0 no primeiro tempo. A sétima, contra o Santos.

Os 4 x 0 não representam que estamos às portas do apocalipse.
A palavra-chave não é conformismo, porque o Santos não perdeu com dignidade. Caiu por 4 x 0.
Também não é pavor.
A palavra-chave é compreensão.

É preciso entender o que o Barcelona de hoje representa.
Em outra frente, é preciso também pensar sobre o que se tem feito, como se tem trabalhado no futebol brasileiro.

Mas uma coisa é independente da outra.

O dia em que Guardiola apontou para o nosso "elo perdido"

Nada poderia ter sido melhor para o futebol brasileiro do que o humilhante massacre do Barcelona sobre o Santos. Não que este Barça não venha fazendo isso por aí, contra qualquer um, em qualquer lugar. Mas no caso específico desta final de Mundial, o mesmo sentimento generalizado, unânime tomou conta do país: em algum lugar do passado, em algum momento, perdemos o passo, a mão, a bola, o bolo desandou. O tiro de misericórdia para não deixar dúvidas sobre a necessidade de uma reflexão profunda veio na coletiva de Guardiola: "O que tentamos fazer é tocar a bola o mais rápido possível. Na verdade, é o que o Brasil sempre fez, segundo me contavam meus pais e meus avós". Devastador. É preciso entender e traduzir as palavras do treinador: no lugar de provocar, tripudiar, escolheu a elegância habitual quase em tom de pedido, súplica de amante do futebol para que o Brasil retome suas origens. Foi isso que Guardiola fez: um pedido de amante do futebol, que se dói com esse Brasil do cínico pragmatismo.

Coisa para bom entendedor, daqueles para quem meia palavra basta. No caso, disse com todas as letras. Provavelmente desperdiçaremos a imensa chance para a reflexão. As palavras de Mano Menezes em seu blog pós-jogo indicam isso. Falaremos dela logo abaixo. Algumas breves pitacadas em busca desse “elo perdido” do futebol brasileiro se fazem necessárias. Coisas de dentro e de fora do campo.

Em primeiro lugar é preciso entender o que aconteceu, onde e no que perdemos o tal elo. Naquele exato momento em que se trocou a posse de bola, o toque envolvente do Brasil (agora do Barcelona e da Espanha) pela correria, pela obsessão do tal contra-ataque, pela bola parada, pelos duzentos zagueiros e pelos volantes cabeçudos em detrimento dos que sabem sair pro jogo. Quando deixamos de fabricar o meias, pegando todo garoto habilidoso da base e jogando pra frente ou pra volante paradão.

Enquanto isso, lá fora, estava em gestação o futebol de posse de bola, deslocamentos, jogadores sem posição fixa, troca de posições. O que o mesmo Japão tinha visto no Flamengo de Zico, em 1981.

É preciso todo cuidado do mundo agora para que a metralhadora não aponte para todos os lados. Ao contrário do que muitos irão dizer, ainda formamos bons jogadores. Mesmo para meias ou volantes com saída de jogo. Veja o atual brasileiro sub-20. Existem algumas pistas. Adryan, talentoso meia, transformado em homem de frente, aberto num 4/2/3/1, espelhando o esquema da moda por pura macaquice, e mais um talento se esvaindo. O mesmo é verificável nas demais equipes. Algum talento, sufocado em esquemas-espelho da mediocridade do time de cima.

Um pragmatismo cínico cada dia mais incorporado em nossas vidas responde muito por isso. Em todas as esferas. No torcedor que se omite e se exime da obrigação de tentar ver se a seleção ou seu time estão jogando bem, aceitando acriticamente o discurso cínico dos “professores”, que ironizam os que “querem ver espetáculo, que deveriam ir ao teatro”. Nesse falso dilema entre competição x espetáculo, perdeu-se o óbvio: a questão não é dar espetáculo, é JOGAR BEM, sempre o caminho mais indicado para a vitória. Jogando bem, forçosamente o tal espetáculo vem, mais isso é outra história.

Numa zona de conforto de salários astronômicos, nivelados com os maiores treinadores da Europa, referendados por cartolas mais preocupados em outras coisas do que na responsabilidade de ver seu time JOGAR BEM, nossos professores em sua maioria inundam seus times com 32 volantes cabeçudos, 88 zagueiros, contra-ataques e bolas paradas como arma maior. É o tal pragmatismo cínico que nos assolou e vai mudando nossa história.

O mesmo pragmatismo cínico que vi após a vitória do Barcelona dito tranquilamente na televisão em uma análise. “O jogo de hoje provou que precisamos repensar os conceitos de nosso futebol”. Dito por gente que há um ano atrás defendia com voracidade o pragmatismo de Dunga. Ora, das duas uma: ou você defende que se repensem conceitos depois de ver o Barça da posse de bola, da troca de passes e dos deslocamentos de jogadores sem posição fixa, ou você defendia vorazmente o modelo de Dunga, a antítese do Barcelona. Contra-ataque, bola parada, volantões fixos, meias pouco criativos...

A calma que o momento pede não pode permitir também o ressurgimento do complexo de vira-latas, ou querer ver isso aqui ou acolá. Achar que nos curvamos ainda no túnel (o que não houve), que isso ou aquilo, teorias que sempre surgem quando o Brasil perde, vindas geralmente de nossas classes dirigentes e elites, que assim, jogando a culpa na raia miúda, se exime de suas patacoadas e responsabilidades.

Estamos falando de um país capaz de uma das mais assombrosas transformações da história da humanidade: em menos de meio século, passamos de um país agrícola e subdesenvolvido para um país com assento entre as potências econômicas, o país onde o futuro chegou antes do que se esperava, a grande esperança para problemas da humanidade. Falta tanto, divisão de renda, educação, mas a transformação foi assombrosa, a ser contada um dia nos livros de história. E de mais a mais, quando Baggio olhou Romário no túnel ninguém elaborou teorias diminuindo o povo italiano. É preciso manter o foco na floresta, e não se distrair com o dedo que aponta a árvore...

A lição irá desgraçadamente se esvair. Basta ver as palavras de Mano Menezes depois do jogo em seu blog. No lugar da urgente autocrítica, o único culpado nominado foi... a crítica. “Aqui, nossos críticos ainda estão rotulando uma equipe de ofensiva ou defensiva pelo número de atacantes ou volantes que o seu técnico escala na formação inicial, e isso passa para o torcedor”. Então tá, a culpa é da crítica, que tem lá as suas, mas essa não, mano velho...Técnicos, assim como seu chefe na CBF, c...e andam para a crítica. Então olhe para o espelho e vamos aproveitar o momento para ver os próprios erros.

Falando no seu chefe, alguém imagina o mandatário acordando no domingo, às 8h30, vendo o jogo, a aula do Barça e depois ligando pro Mano, trocando ideias de futebol, falando da necessidade de reformularmos as coisas, novos conceitos, ou melhor, resgatar antigos conceitos, como disse Guardiola? Podemos explicar parte de nossos problemas por aí, não é, "Professor"?

A calma que pedimos para analisar o que se passa por aqui é providencial para falarmos do Barcelona. Um senhor time de futebol. Para a história. Um privilégio ver isso acontecendo em nosso tempo. Um belo trabalho na base. Mas é só. E isso é muita coisa. Muita coisa mesmo. É que temos também a mania, hipócrita e fruto também do cinismo, de querer que coisas do futebol, do campo, dos atletas, se transformem em “exemplos para a sociedade”.

 E o cinismo das pessoas e muitas vezes a inocência de outras geralmente embarca nessa. Assim, acriticamente vamos aceitando idealizações sem respaldo na verdade. Ao Barcelona basta e já nos dá demais sendo um time espetacular de futebol, protagonista de uma revolução nas quatro linhas. Quando nos deixamos levar por idealizações, mundos perfeitos, exigir que homens se transformem em modelos, negligenciamos a verdade que não é tão aparente, nos deixamos levar por manipulações. O Barça, (suas categorias de base, seus princípios, seus atletas), não é modelo a ser seguido pela sociedade, como já se escuta aqui e ali, principalmente quando começam a mergulhar na busca das razões para o sucesso do time catalão.

Na presidência, está Sandro Rosell, amigo íntimo de Ricardo Teixeira, que vive em acusações mútuas também com seu antecessor. O homem que levou o patrocínio da Fundação Catar para o uniforme azul-grená. Um corpo que gerou e alimenta Sandro Rosell está longe de ser o modelo de sociedade que sonhamos. Um Barça que busca meninos talentosos na África ou América, ao arrepio da lei do artigo 19 da Fifa, um Barça com todos os pecados do mundo do futebol, e dificilmente seria diferente, sendo ele parte disso tudo. Um Barça que fez uma revolução nos campos, e isso, repito, é muita coisa. Isso diz respeito ao jogo que veneramos, e portanto a nossas vidas. Mas lá como aqui, devemos rejeitar idealizações. Digo porque começo a ver isso se repetir toda hora.

Mas isso é o menos importante aqui e agora. O importante é buscar o elo perdido, que é nossa sobrevivência como brasileiros, mestiços, cafuzos, mamelucos, capoeiras, Manés, Pelés, moleques. Aqueles que os avós do Guardiola contaram um dia ao menino. Algo que se perdeu no tal pragmatismo cínico aqui tratado, exemplificado nos nossos "professores", cartolas, imprensa acrítica, adepta do jornalismo de resultado, das arquibancadas cada dia mais gélidas e cínicas também, elitizadas sem o crioulo sem dente que botava água no feijão para levar seu amor incondicional ao estádio, substituído a cada dia pelo almofadinha que não conhece a derrota na vida. É ele que legitima esse modelo cínico da vitória a qualquer custo que vai nos matando em essência, conteúdo e forma. Até sermos cobrados por um técnico estrangeiro em coletiva.


Ps- só pra descontrair porque o assunto acima é muito sério e diz respeito a nossa sobrevivência como povo, no qual o futebol é parte fundamental de nossa identidade, uma pergunta que tenho me feito nos últimos dias e para qual ainda não arrumei resposta: quem é mais otimista ou crédulo, o sujeito que gasta uma nota preta para ver seu Santos do outro lado do mundo enfrentar o poderoso Barça, ou o sujeito que gasta uma nota preta comprando um ingresso antecipado para um show do João Gilberto?

Fico com Neymar: foi uma aula do Barcelona

A conclusão é de um dos melhores jogadores do mundo: Neymar. “O Barcelona nos deu uma aula de como jogar futebol.” Ponto. Reconhecer o fato foi o que de melhor o jogador do Santos fez contra o Barcelona. O tamanho da goleada (4 a 0) já fala por si só. Mas o que ocorreu no Estádio de Yokohama foi o confronto de dois estilos diferentes, de duas escolas distintas, de uma equipe madura em todos os sentidos e de uma em formação.
Não só Neymar e os jogadores do Santos devem tirar lição do que aconteceu no Japão. O futebol brasileiro precisa aprender com o Barcelona também. Os dirigentes brasileiros precisam acreditar mais em seus profissionais, como nos técnicos. Qualquer time do Brasil pode jogar como o Barcelona. Basta treinar e ter uma filosofia de jogo – claro, recheada de bons jogadores.
Bons jogadores aqui tem também. Ocorre que técnico nenhum trabalha com uma filosofia porque sabe que se não ganhar vai ser mandado embora. O mesmo acontece com os clubes. O único verbo que os cartolas conhecem é vencer.  Vencer a qualquer custo.
O Barcelona, que todos nós agora reverenciamos, joga dessa mesma maneira há 30 anos. Valoriza o toque de bola, aposta nas bases, começa a formar jogador nas categorias inferiores sabendo que um dia vai usar o menino no time principal. No Brasil se trabalha o almoço para faturar o jantar.
O Santos perdeu porque não jogou nada. É verdade. Mas também por ser refém do futebol brasileiro da atualidade. Que sirva a lição.

Santos vai do sonho à realidade pior que pesadelo

Santos sonhou com o terceiro título mundial e acordou com uma realidade mais dura que o pior dos pesadelos: surra de 4 a 0 para o Barcelona, fora o baile, como se dizia no meu Bom Retiro de antigamente. O supertime espanhol deu mais um show, uma aula de futebol, uma exibição antológica. Conseguiu transformar mais uma disputa importante em tarefa fácil.
Messi e seus súditos jogam tanto que qualquer adversário parece timeco de churrasco de fim de semana. Time formado depois de festival de picanha, maminha e farofa, com todo mundo de pança cheia e tanque repleto de cerveja. Ou seja: mal se consegue ver a cor da bola, quando aquele exército de azul e grená começa a tocar pra lá e pra cá.
Caramba, tem coisa errada aí: o Barça não joga com 11, mas com uns 18, 19. É bom que os rivais e os árbitros comecem a prestar atenção nisso. Tem algum truque que não foi possível descobrir ainda: cada vez que um coitado adversário pega na bola tem 3, 4 barcelonistas em cima. E, quando roubam a bola, aparecem mais uns 6 ou 7 no ataque. Aí tem mágica!
A mágica do Barcelona se traduz em entrega, desdobramento, múltiplas funções da maior parte dos titulares. E, claro, da qualidade deles. Não há um jogador grosso na orquestra dirigida por Pep Guardiola. Não tem um perna de pau, um botinudo, um cabeça de bagre. E, para completar, ainda tem Messi! Daí vira covardia. O argentino joga demais, desequilibra, encanta, hipnotiza os marcadores. Dá o ritmo ao time.
Pois foi Messi que iniciou a demolição do Santos com o gol aos 17 minutos. A equipe de Muricy Ramalho, toda preocupada em marcar, repetiu o erro dos que pretendem parar o Barça dessa forma. Resultado: encolheu-se, deu espaço e levou o primeiro. Sentiu o baque, a ponto de sete minutos mais tarde tomar o segundo, com Xavi.
Daí o que era natural virou moleza. O Barcelona aumentou o percentual de posse de bola (chegou a 76% contra 24%), toca daqui, toca dali e fez o terceiro com Fábregas aos 45. O Santos tentou reagir no segundo, teve algumas arrancadas, deu um calorzinho nos catalães, mas ainda levou o quarto, também de Messi, fora duas bolas na trave.
Resumo: o Barcelona é demais. E ainda há quem o considere “monótono”. Ah, faça-me o favor…

Lição de Messi a Neymar

Neymar descobriu neste domingo em Yokohama o quanto ainda é imaturo para enfrentar marcadores europeus. Escondido na ponta-esquerda, ele não passou por Puyol, um veterano zagueiro, nenhuma vez na final do Mundial de Clubes entre Santos e Barcelona.
Não arriscou um drible, não fez uma grande jogada, pouco se movimentou pelo ataque. Na única chance que teve, tremeu frente ao goleiro Valdez. Para quem diz que o garoto não precisa jogar na Europa para ser rei, a lição de Messi neste domingo contraria a maioria das teses apaixonadas.
Ser rei no seu quintal, na sua praia, é um pouco fácil, difícil é se impor diante de marcadores acostumados a enfrentar os maiores jogadores do mundo. Messi navega nessas águas todos os dias. Neymar ainda precisa aprender a nadar.
Não adianta também arrumar como desculpa o fato de que o Barcelona é o um time do outro mundo. Neymar também não era? O craque precoce do Brasil percebeu em Yokohama que tem de remar muito para chegar ao topo. No seu primeiro grande teste, diante de olhares de milhões de apaixonados por futebol, ele ficou devendo.
Não por acaso reconheceu ao final da partida que o “Barcelona deu uma aula de futebol”. Não foi o Barça como um corpo único que deu a lição. Lionel Messi também ensinou muito a Neymar. O argentino pulverizou o brasileiro.
Neymar precisa ouvir gente mais qualificada, não se deixar levar por encantos de dirigentes, como o presidente Luis Alvaro de Oliveia Ribeiro, que pregam a sua permanência no futebol brasileiro. Eles na verdade estão de olho no dinheiro que Neymar pode proporcionar.
Jogando só no Brasil, Neymar não vai passar de príncipe herdeiro à espera da coroa do rei. Se quer mesmo ficar com o trono, tem de jogar na Europa para desbancar Messi. Por aqui vai continuar recebendo apenas aplausos dos inocentes e de muitos oportunistas.

Javier Villegas, campeão mundial de freestyle motocross 2011

Javier Villegas striper Javier Villegas, campeão do Mundial de Freestyle Motocross em sua primeira temporada completaFoto: Oliver Franke/IFMXF.com
Remi Bizouard venceu a décima segunda etapa do Campeonato Mundial de Freestyle Motocross. O evento fechou a temporada 2011, hoje (17), em Sófia, capital da Bulgária. O francês conquistou a vitória manobrando precisamente, variando movimentos, destacando-se dos demais por saltos como backflip cliffhanger. Mesmo vencendo, o título parou nas mãos do segundo colocado, Javier Villegas. Com 17 pontos de vantagem para Bizouard no ranking, o chileno precisava apenas abrir a volta classificatória para confirmar o campeonato. Maikel Melero terminou em terceiro, repetindo o melhor resultado deste ano.
Remi Bizouard backflip shaolin Remi Bizouard, Sófia marcou sua quarta vitória seguida, o retorno à forma de campeãoFoto: Oliver Franke/IFMXF.com
Seguindo as previsões, Bizouard e Villegas concentraram a briga pelo topo do pódio. Villegas valorizou manobras chave dentro da rotina, segurando os movimentos no pico das extensões. Caso do backflip sucide e tsunami. Esticados e demorados. Ainda aproveitou o tempo no ar por meio de combinações consistentes. Destaque para o sidesolid incrementado com um superman seat grab indy, e no hands candy bar para no hander lander.
Maikel Melero variou o espectro de manobras, buscando diferentes direções, desde erguer-se num cliffhanger, até voar ao lado da moto num sidewinder. O auge veio num backflip double grab, estrategicamente disparado no Double Up, salto complementar à volta com pontuação dobrada.
Maikel Melero double grab Maikel Melero fechou a temporada com um terceiro posto, repetindo seu melhor resultado no ano Foto: Oliver Franke/IFMXF.com
Antes da final, Melero venceu o Highest Air, superando 7,10 metros de altura. Massimo Bianconini ficou em segundo, com a marca de 6,80 metros. Na terceira posição, Jose Miralles, saltando 6,40 metros.
Com o título, Villegas torna-se o primeiro latino-americano a conquistar o Mundial. Ou como o próprio frisou durante recente entrevista, o primeiro piloto das Américas a conquistar o título. Constância foi ponto fundamental. Ao longo da temporada, terminou apenas uma vez fora do pódio (7º etapa, Rússia). Campeão em sua primeira temporada completa no Mundial, hoje o chileno tem lugar nas maiores competições. Diante disto, e considerando a forma de Bizouard e o desempenho de Sheehan no Mundial, a próxima temporada será imprevisível.

Resultado Final - 12º Etapa Mundial de FMX - Bulgária

  • 1. Remi Bizouard 417 pontos
  • 2. Javier Villegas 409 pontos
  • 3. Maikel Melero 403 pontos
  • 4. Petr Pilat 402 pontos
  • 5. Jose Miralles 389 pontos
  • 6. Massimo Bianconcini 355 pontos

Classificação Final Mundial de FMX 2011 - Após 12 etapas

  • 1. Javier Villegas (CHL) 210 pontos
  • 2. Remi Bizouard (FRA) 195 pontos
  • 3. Jose Miralles (ESP) 158 pontos
  • 4. Maikel Melero (ESP) 145 pontos
  • 5. David Rinaldo (FRA) 118 pontos
  • 6. Libor Podmol (CZE) 114 pontos
  • 7. Josh Sheehan (AUS) 96 pontos
  • 8. Petr Pilat (CZE) 91 pontos
  • 9. Fabian Bauersachs (ALE) 89 pontos
  • 10. Massimo Bianconcini (ITA) 69 pontos

Santos toma baile em Yokohama

Como campeão da Taça Libertadores – apesar da campanha irregular no Campeonato Brasileiro – confesso que esperava mais do Santos diante do Barcelona, na decisão do Campeonato Mundial de Clubes no Japão. Mas a verdade é que o time de Vila Belmiro tomou um baile do Barcelona e só perdeu de 4 a 0 por acaso. Era para tomar uma goleada histórica, principalmente no primeiro tempo, quando não jogou rigorosamente nada.

Durante toda a partida, o Barcelona, do argentino Messi, teve sempre mais de 70 por cento de posse de bola e os 4 a 0, repito, ao final das contas, saíram barato para a equipe brasileira. Não sei qual foi a estratégia do técnico Murici Ramalho, mas cheguei a ficar envergonhado, principalmente na etapa inicial.

Neymar? Não jogou nada. Ou seja, o mesmo que Ganso e Elano. Fiquei com a impressão de que os jornais brasileiros incensaram por demais o garoto Neymar, de apenas 19 anos. E o pior de tudo é que os argentinos, agora, vão deitar e rolar em cima de nós que fizemos pouco de Messi – claro que os argentinos torceram fervorosamente para o Barcelona.

Tomara que esse baile, movido a castanholas, tenha servido de lição para o futebol brasileiro, que anda capengando, com todos os times jogando um futebol rastaquera. Afinal, a Copa do Mundo de 2014 está aí mesmo e nem podemos dizer que temos um time razoável. Sob esse aspecto, a goleada tomada pelo Santos teve certa utilidade. O futebol que estamos jogando nada se parece com o futebol que se joga na Europa. E outra decepção, como a da Copa de 1950, será uma tragédia.

No segundo tempo – perdido por 100, perdido por 1000 – o Santos melhorou um pouco. Mas só um pouco. Tanto é que ainda conseguiu tomar o quarto gol e quase tomou outros. O jornalista Juca Kfouri acha que o placar mais justo seria 7 a 1 Barcelona. Não chego a tanto. Mas uns 5 a 0 não seria de assustar ninguém. E nessa altura, fico com pena de Pelé, que foi bicampeão mundial em 1962 e 1963 e que, na televisão, estava todo animado com o seu Santos.

O futebol mudou, Pelé...

De Özil a Ganso: contra o Barcelona, não dá para só assistir

Sobre mais uma exibição de gala do Barcelona, de 13 títulos em 16 possíveis na era Guardiola, muitos companheiros já falaram com propriedade. Mais do que a capacidade de manter a posse da bola e envolver o adversário com constante movimentação e troca de posições, o time impressiona pela obsessão em recuperá-la o mais rápido possível.

Contra um elenco que trata o objeto do jogo com tanta devoção, é inadmissível que qualquer jogador do rival seja indiferente, quase indolente. Em dois jogos cruciais para o Barça, o time do outro lado contava com um meia indiscutivelmente talentoso na hora de criar jogadas (Özil, pelo Real Madrid, e Ganso, pelo Santos), mas incapaz de participar da fase defensiva do jogo.

Mourinho blefou na véspera do clássico ao declarar, através do auxiliar Karanka, que o time voltaria a usar o esquema com três volantes diante do Barcelona - algo que funcionava na semifinal da Champions League até a expulsão de Pepe. Na hora H, acreditou que o melhor momento, comprovado pelas campanhas, e o fato de jogar em casa permitiriam usar o habitual 4-2-3-1. Não deu certo.

Poderia funcionar se Özil ajudasse sem a bola, mas o alemão optou por apenas assistir, dando o espaço que o Barça adora ter. Assim, o Real Madrid acabou vendido no setor em que os jogos se decidem. Se um não corre para trás, os outros têm de correr mais para ajudar, e as peças de ataque acabam mais distantes do gol adversário.

A história se repetiu na decisão do Mundial. Ganso deu seu par de bons passes para os companheiros - e seu talento para encontrar a jogada inesperada não se discute -, mas sua inércia quando a bola não chega a seus pés assusta. É como se desinteressasse por completo do jogo. Neymar, o mais importante do time, voltava, mas Ganso não.

Algo inexplicável em qualquer circunstância, em especial contra o Barcelona. Se o 10 santista não perceber rapidamente que apenas o passe genial não basta, terá problemas para alcançar o que se projeta para sua carreira. Ainda há tempo de corrigir.

O futebol dá cada vez menos espaço a jogadores incapazes de colaborar com e sem a bola. Da mesma maneira que espera-se de um volante que não saiba apenas roubar a bola e tocar de lado, um meia completo precisa não apenas encontrar os companheiros em boa posição, mas também ajudar a desarmar o adversário. Inspiração é fundamental, mas sem suor não basta.

Barça: tudo começou no bico de uma chuteira verde-amarela

Muito pior do que o pesadelo em que se transformou o sonho da terceira estrela de ouro no enxoval santista foi a incrível revelação de Pep Guardiola após a conquista de mais um título.

Tudo começou no bico dourado de uma chuteira verde-amarela. “O time toca a bola como os meus pais diziam que o Brasil fazia”, confessou Guardiola, dono de um currículo modesto – 13 canecos em 16 possíveis ao longo de três anos e meio.

Pois é, nada se cria, tudo se copia. E a última vítima do roda, roda e avisa foi o melhor time do esporte bretão nacional, o Santos.

O Barcelona completou apenas 186 jogos consecutivos com mais posse de bola que o adversário – em Yokohama, o placar foi apertado, 71% a 29%.

Desde janeiro de 2010, o ‘dream team’ catalão disputou 119 partidas, obtendo um pequeno saldo de 88 vitórias, contra 22 empates e absurdas nove derrotas. A equipe fez somente 311 gols e tomou incontáveis 76.

Dos 110 passes que deu durante a final, Xavi acertou... todos. Já Iniesta errou um em 101, de acordo com o ‘Datafolha’. O Barcelona distribuiu 770 passes, contra 235 do Santos.

Números que justificam plenamente os minguados elogios de Neymar, a pérola santista: “Tomamos uma aula de futebol do melhor time do mundo.”

Uma equipe recheada de alunos aplicadíssimos, que souberam aproveitar o curso ministrado por chuteiras que um dia já encantaram o planeta e hoje se limitam a copiar o que há de pior no esporte. Dentro e fora de campo. Acorda Brasil!
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Pai Jeová. Depois da tempestade vem a enchente... O banho de bola dado pelo Barcelona deverá respingar no meia Ganso como ducha. A cartolagem não engoliu a venda de 10% de seus próprios direitos à DIS, inimiga número 1 do clube. Pior: Ganso revelou a transação no Japão e muita gente torceu o nariz. Não são poucos os que aprovam a venda do atleta. O garoto de ouro Neymar também se molhou. No momento em que treinadores e dirigentes europeus estavam de olho em seu futebol, decepcionou. Já ‘Muriçoca’ Ramalho perdeu o salvo-conduto conquistado com a Libertadores...

Sugismundo Freud. Uma derrota ensina muito mais do que uma vitória.

Twitface. O duelo entre Barça e Santos bombou nas redes sociais. Às patacoadas da galera: ‘Os gandulas tiveram mais posse de bola que o Santos’; ‘Dos males, o menor: Neymar não ganhou o Toyota, mas foi aquinhoado com quatro ‘Gols’; ‘Barcelona depenou o Ganso e fritou o Peixe’; ‘Barça fez sashimi de lambari no Japão’; ‘Santos TRIstemente humilhado’; ‘Patrocínio do Santos é o BMG - Barcelona Me Goleou’; ‘Neymarelou’.

Zapping. Executivos globais saborearam um ótimo sushi: o duelo Santos x Barcelona rendeu 32 pontos de audiência na Grande Pauliceia das pontes condenadas. O índice é o mesmo registrado por programas no horário nobre. Enquanto a bola corria do outro lado do mundo, a Record cravava 2,7 pontos, e o SBT, 2,5.

Tiro curto. Algum time brasileiro conseguiria parar o Barcelona ou pelo menos desempenhar um papel melhor que o Santos?

Gilete press 1. O bicampeonato mundial do Barça na mídia: ‘A Terra é do Santos. Barcelona é de outro planeta. Na verdade ficou barato, porque 7 a 1 seria o placar mais verdadeiro’ – de Juca Kfouri, no ‘Uol’; ‘Deuses e Santos’ – do espanhol ‘Sport’; ‘Peixe demasiado santinho para Barcelona de luxo’ – do português ‘Record’; ‘Messi demole o Santos’ – do ‘La Gazzetta Dello Sport’.

Gilete press 2. ‘Barcelona dá show e ratifica supremacia’ – do site da Fifa; ‘O Barcelona deixou claro que nesse momento é o rei do futebol’ – do espanhol ‘Marca’; ‘Foi muito mais fácil do que se pensava. A equipe catalã confirmou que já é uma das melhores da história do futebol’ – em ‘Veja’; ‘O Barcelona sobrou em campo, liquidou o jogo no primeiro tempo e deu uma aula de futebol’ – no ‘Globo’; ‘Gênio só existe um. Barcelona humilhou o Santos’ – do argentino ‘Olé’;

Tititi d’Aline. O Santos não voltará com prejuízo total na bagagem. Como vice, receberá R$ 7,4, milhões. Pelo show, o Barça embolsará R$ 9,3 milhões.

Você sabia que... a goleada por 4 a 0 foi a mais elástica em decisões de apenas um jogo em Mundiais de clubes?

Bola de ouro. Valdés, Daniel Alves, Puyol, Pique, Abidal, Busquets, Xavi, Thiago Alcântara, Pedro, Iniesta, Messi, Fábregas e Guardiola. Simplesmente o melhor.

Bola de latão. Neymar. Muito cartaz para pouca meritocracia – por enquanto.

Bola de lixo. Mundial. Um torneio político com a cara da mamãe Fifa. Menção honrosa: José Maria Marin. O são-paulino presidente em exercício do Circo Brasileiro de Futebol é um tremendo pé-frio. Acompanhou o Santos e deu no que deu.

Bola sete. “Se coloco o time no 3-7-0, como jogou o Barcelona, iriam chamar a polícia” (de ‘Muriçoca’ Ramalho, sobre o tico-tico sem fubá no duelo contra o flamenco).

Dúvida pertinente. Messi ou Neymar: ainda dá para comparar?

VÍDEO: Barça massacra e dá choque de realidade no futebol jogado aqui

Não houve jogo, disputa, duelo, peleja, embate. Teve massacre, passeio, totó, olé, baile, banho de bola. Bola jogada com os pés, rolando no gramado, como fizeram as escolas brasileira e argentina em seus melhores dias. É o já conhecido jogo espanhol — ou seria catalão? O estilo do Barcelona, hegemônico no planeta. Bonito, competitivo, eficiente. E com o especial tempero que é a presença do gênio Messi.

Campeão sul-americano e um dos melhores times do Brasil, o Santos possui o melhor jogador do hemisfério sul. Neymar é espetacular, tem um futuro brilhante pela frente, mas existem diferentes níveis de futebol pelo mundo. E o que se pratica no Brasil não está entre os melhores. O grupo que o cerca basta para que ele possa mostrar do que é capaz no âmbito continental, não no mundial.

Se o Barcelona está um degrau acima de todos os rivais, mesmos os europeus como o inimigo número um da Catalunha, o Real Madrid, fica evidente até para os mais ufanistas que a distância entre a bola que se joga no Brasil e entre os grandes europeus é bem diferente. A distância não é pequena. Se contra o Real Madrid o Barça vence, há disputa, duelo. Diante dos santistas o time branco parecia um... Al Sadd.

Um choque de realidade para o futebol brasileiro. Manter Neymar, recontratar craques em fim de carreira, como Ronaldo e Ronaldinho, ou artilheiros sem mercado lá fora, como Fred, basta para melhorar o nível por aqui. Mas não é o suficiente para que tenhamos futebol disputado no Brasil como um dos melhores, nem mesmo perto disso. A goleada barcelonista deixou isso ainda mais claro.

O futebol brasileiro renega há anos sua escola e adota bola parada e jogadas de velocidade como armas prediletas. Bola no chão, jogo cerebral, toque, troca de passes, criatividade, lucidez, inteligência na meia cancha, tudo isso virou coisa rara. É preciso uma reflexão de atletas, técnicos, cartolas, imprensa e torcedores. Os espanhóis estabeleceram um caminho e colhem frutos.

E não adianta antes de um jogo desses Fulano ou Beltrano estabelecer falsas verdades como "Puyol é fraco", "Dracena é melhor do queo Piqué", "Neymar é mais completo do que Messi" e "só ganhando campeonato no Brasil um treinador merece nota 10". Sejamos um pouco mais humildes e menos "brasileirinhos". Esse discurso tolo, ingênuo, desinformado, foi desmontado hoje no Japão.

Independentemente disso tudo, faltou apetite ao Santos. Era preciso marcar, desarmar, lutar pela bola o tempo todo. Como o Internacional contra o (não era o mesmo, esse é bem superior) Barcelona. Mas não é o perfil do atual time de Muricy Ramalho, pior nos desarmes no Brasileirão (16,2 por jogo contra 26,3 do campeão, Corinthians). Aprimorar esse fundamento era preciso. Agora é tarde.

"A receita do nosso sucesso é simples: analisar o adversário, aproveitar bem os espaços, preservar o controle da bola e fazê-la circular rapidamente", disse Pep Guardiola após massacrar o campeão da América do Sul. De fato simples. E o time dele ainda pressiona o adversário quando este tem a bola de forma implacável. Resultado da reunião de técnica, habilidade e combatividade.

Para chegar a esse estágio, o Barcelona percorreu um longo caminho, e se aprimora cada vez mais. Já o futebol jogado no Brasil parece seguir na direção contrária.



Veja a análise de Mauro Cezar Pereira feita no Bate-Bola de domingo