quarta-feira, 9 de março de 2016

Copa do Nordeste

21h45



JuazeirenseJZN
BahiaBAH



Libertadores

21h45



PalmeirasPAL
Nacional (URU)NAC


Copa do Nordeste

21h45




FortalezaFOR
SportSPT


Cearense

21h45




IcasaICA
ItapipocaIPP

Libertadores

21:45


Deportivo TáchiraTAC
PumasPUM







Copa do Nordeste

21h45


Flamengo-PIFPI
CearáCEA



Libertadores

21h45




GrêmioGRE
San LorenzoSLO


Baiano

19h30








BahiaBAH
GalíciaGAL

Libertadores

19h30



Rosario CentralRCE
River Plate-URURPL


Primeira Liga

19h30



FlamengoFLA
FigueirenseFIG



Primeira Liga

19h30



CruzeiroCRU
Atlético-PRCAP



Libertadores

19h30



Cerro PorteñoCPO
CorinthiansCOR


Libertadores

17h15



CobresalCOB
Ind. Santa FeISF


Liga dos Campeões

16h45


ChelseaCHE
PSGPSG


Francês

14h30


GFC AjaccioGFC
OlympiqueOLY

Francês

14h30

BastiaBAS
NantesNAN

Liga dos Campeões

14h00



ZenitZEN
BenficaBEN


Lá em casa, futebol é coisa de mulher



CELSO PUPO/FIM DE JOGO
Gabriela Moreira Maracanã Grama na calcinha
Final da Copa Acerj, no Maracanã, em 2014, pelo Grama na Calcinha / ESPN 
Meu primeiro contato com o futebol foi no meio dos homens. Dos mais rústicos deles, o homem rural. Esperava com ansiedade o alarme da fazenda que tocava pontualmente às 4 da tarde indicando que a lida acabara. Era quando dava-se início à pelada dos funcionários, que eu, com meus cerca de 10 anos, menina magrela e filha do patrão, já os esperava no campinho para dar início à peleja.
Lembro-me bem do pior zagueiro que já enfrentei, de nome Pezão. Eu jogava entre eles, como se fosse um deles. De tênis, claro. Mas as marcas daquela rotina meus pés guardam até hoje. Assim cresci e o futebol foi participando da minha vida como se eu participasse dele.
Meu pai, homem da roça com visão cosmopolita, me incentivava. Tanto que morando em São Paulo me levou para aprender com Rivelino! Fui a reboque do irmão caçula. Não havia turma feminina na escola do inventor do elástico, mas ser um corpo estranho em território masculino não me intimidava desde os tempos do Pezão.
Foi Rivelino quem abriu as portas para minha primeira aventura internacional. Com uma carta de recomendação do "Reizinho" consegui vaga no "Ladies Cleats", na tradução "Meninas de chuteiras", time da cidade de Atlanta, nos Estados Unidos.
Depois de uma temporada na terra em que futebol com os pés é coisa de mulher, voltei para o Brasil. Agora no Rio as chuteiras já faziam parte do guarda-roupas. Queria mais. Cheguei a fazer peneiras e até passar um tempo no badalado time de Susana Werner, nas Laranjeiras. Mas recuei. Nunca seria Marta e sabia disso. Tampouco o futebol por aqui se parecia com os Estados Unidos para as mulheres. Era melhor deixar os ideais para o campo de peladas.
LUIS ALVARENGA/ARQUIVO PESSOAL
Gabriela Moreira
Foto pós bi campeonato pelo Grama na Calcinha, 2008
Assim nasceu o Grama na Calcinha. Parece provocação, e é. Nada de batom, salto alto e afins. A gente joga sério. Ops, quase falei "joga que nem homem", mas é como Mulher, mesmo, com M maiúsculo. Com vontade, do jeito que for, mesmo que a consequência da jogada seja uma grama na calcinha.O nome também é uma paródia ao episódio político em que certo parlamentar foi apanhado pela polícia levando dólares na cueca. Com a gente não tem disso, não. A gente leva é determinação na calcinha.
E exemplos. No meio disso tudo teve o nascimento do nosso mascote. Dante estava na minha barriga havia cinco meses quando o Grama disputava um dos títulos mais importantes da sua história, o bi campeonato pelos jornais O Globo / Extra. E ele teve ali sua primeira lição sobre a vida aqui fora. Entrei (entramos) em campo e vencemos. Dante já nasceu com oito gols de saldo.
Menino afortunado. Nasceu sabendo que futebol é coisa de mulher. Lá em casa, ele se programa, terça e quinta, sempre que o trabalho da mãe permite, tem compromisso marcado com o Grama. Nosso mascote saca o celular e filma os melhores lances. "Gol da mamãe", grita sempre como se fosse uma final de campeonato.
Na última quarta, foi diferente. Parecia final de Copa do Mundo. Para mim e para ele. Mochila pronta, sem esquecer o sanduíche na lancheira do MacQueen, fomos os dois para o Maior do Mundo, mesmo que não o seja mais. Naquele dia foi.
Comemoração ensaiada, só precisava marcar. E marquei. Duas vezes, de esquerda e de direita. Quem lembra do Bebeto embalando Matheus em 94, pode refazer na memória minha comemoração. Só que, desculpe Bebeto, quem pariu o que embalou, fui eu. E no Maracanã!
E teve mais. As arquibancadas vazias foram perfeitas para escutar o único canto que me importava naquele momento: "Ôôô vai pra cima delas Mamãe". Aos cinco anos, o presidente da minha torcida organizada já sabe: futebol é coisa de mulher, também.
Meus sonhos se transformaram igualmente. Ser uma intrusa no meio dos homens continua sendo, por vezes, tão duro como nos tempos do Pezão, mas cada dia mais natural.
*Hoje a ESPN lança um portal voltado para a cobertura da mulher no esporte. Acessem: http://espnw.espn.uol.com.br/ e sigam: @espnWBrasil
**Texto originalmente publicado no blog do jornalista Matheus Leitão (@Mleitaonetto), em dezembro de 2014.