Romário posou com uma bola de futevôlei na Barra da Tijuca | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Romário posou com uma bola de futevôlei na Barra da Tijuca | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
O DIA: Depois que você foi eleito deputado federal pelo PSB, em 2010, sua rotina mudou radicalmente? Você já se acostumou?
ROMÁRIO: Ela mudou no começo do ano passado. Agora, já me sinto bem tranquilo. Essa coisa de sair toda terça-feira de manhã daqui e voltar na quinta-feira realmente, no começo, foi meio complicado e entediante. Mas, depois do primeiro ano de mandato e no começo deste ano agora, já até me acostumei. Sinto meio que falta. Eu gostei de estar na política, me fez muito bem.
Por quê?
Porque eu estou conseguindo, através das minhas bandeiras, que são as pessoas com deficiência; as crianças e jovens, principalmente, de comunidade, que estão aí metidos com crack; e essa coisa da Copa, tenho podido esclarecer muitas coisas pro povo não só do Rio como do Brasil. Tenho dado muito depoimento em cracolândias, em centros de tratamento para essas pessoas. A minha rotina na política tem sido bem positiva, tenho gostado bastante.
Do Romário craque, tinha sempre alguém para falar mal...
Espero que tenha sempre. A partir do momento que você se torna unanimidade, não é bom.
Como deputado, só se ouvem elogios porque você trabalha e não falta...
Não tem tido tanta crítica, mas sempre tem algumas coisas. Eu tenho aprendido bastante. Vou te dar um exemplo. Eu jogo futevôlei aqui (na Barra da Tijuca). Então, sai uma foto minha jogando futevôlei aqui. Por mais que seja domingo. Aí: “Pô, Romário, em vez de estar trabalhando, está jogando futevôlei.” É uma crítica. Por exemplo, eu já não jogo mais futevôlei terça, quarta e quinta. Quinta-feira, depois das quatro, eu não tenho mais meu compromisso com política em Brasília. Eu poderia jogar aqui, mas já evito. Eu estou dentro do meu direito, mas eu já evito pra não ter problema, entendeu?
Romário sorri durante entrevista | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Romário sorri durante entrevista | Foto: Maíra Coelho / Agência O Dia
Onde tem mais mau caráter: na política ou no futebol?
Cara, essa pergunta é difícil. Hoje em dia, o mau caratismo está generalizado. Está no jornalista, no médico, no advogado, no dono de construtora, na política, no esporte... Está reinando o mau caratismo. O pior é que é tanta coisa ruim que a gente vê que a gente imagina assim: “P..., cara, essa p...não vai ter fim?” A gente espera que tenha fim. Mas está f... Está difícil pra caramba. Por exemplo, corrupção. Acredito que na política tenha muito mais corrupção do que futebol. Não sei se vocês reparam, o Romário político é o mesmo Romário, que fala palavrão igual, não vai mudar nunca.
Como você está vendo o caso do envolvimento do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira?
Eu conheço o Demóstenes apenas como senador. Ele foi um cara que sempre pregou uma coisa que hoje a gente sabe que não era verdade. Então, isso é meio que uma decepção, principalmente prum político novo, como eu. Eu tinha o cara como um dos ídolos da política. Claro, pô: o cara sempre foi um cara firme nas palavras, que sempre brigou pelo seu ideal. Foi uma decepção.
Em quem você nunca votaria?
Tem muitos. Só não vou te falar o nome porque...
Um só... Só daquele que você não votaria, mesmo, de jeito nenhum...
(O governador) Sérgio Cabral.
Por quê?
Por tudo isso que a gente está vendo aí, no nosso estado, cheio de coisa errada. Particularmente? Pelo nosso Maracanã, desculpa, é que eu sou esportista. O que o cara fez com o Maracanã... Isso aí não tem.. não tem volta. Vai ficar marcado eternamente.
Dá uma dor no coração?
P...! Desfigurou o Maracanã. Deu mais de R$ 1 bilhão num estádio igual ao Maracanã. Não votaria nele nunca mais.
Objetivamente, o que você acha que Cabral fez de errado no Maracanã?
Ele fez tudo errado. Desfigurou o Maracanã... O Maracanã precisava de obra, de uma reestruturação, mas já vem essa reestruturação feita nos últimos 10 anos, principalmente quando ele assumiu, cada ano ele faz uma obra no Maracanã. P... Não sei se já está, mas vai passar de R$ 1 bi. R$ 1 bilhão é dinheiro para c... R$ 1 bilhão equivale a esses hospitais públicos que não têm leitos, onde falta mão de obra qualificada, aparelhagens modernas que são necessárias para a vida das pessoas... Você vê nas escolas — não têm ar condicionado, não têm luz, não têm comida, não têm professores capacitados... Mas tem R$ 1 bi pra botar no Maracanã, pra desfigurar o maracanã, pra ficar a m... que está. Vai ficar bonito? Vai ficar maravilhoso, lindo, só que não vai ser mais o Maracanã.
Você está com raiva ou está triste?
Raiva, não. Eu fico triste como carioca. Não tenho raiva desse cara, não. Quem é ruim se destrói sozinho, tem essa frase. Na frente, ele paga.
Você já recebeu alguma proposta indecente no Congresso ou no futebol?
Não. Eu acho que essa coisa de proposta indecente está muito na cara de cada um: “Esse f. d. p. ali tem cara de ser corrupto, vou lá”. Pelo que eu já fiz, pelo que eu já representei, pelo que eu já falei, acho que as pessoas não me veem assim. Pelo contrário: “Não vamos mexer com o Romário, não, porque vai dar m...”
“Vai dar m...” quer dizer que você denunciaria quem tentasse te corromper?
Claro. Na hora, p... Eu, como tenho poder, é arriscado até eu dar uma voz de prisão. No ato. Eu não compactuo com sacanagem, nem com corrupção.
Qual sua relação com a presidenta Dilma Rousseff?
Nenhuma. Eu vi a Dilma uma vez, ela se pronunciando em relação a um pacote que vai beneficiar diretamente as pessoas com deficiência. Até levei minha filha (Ivy, que tem Síndrome de Down). Foi um posicionamento dela (da presidenta) muito legal, muito positivo, realmente a política pública em relação a essas pessoas começou a mudar. Mas, de lá pra cá, pedi audiência com ela no começo do meu mandato... Mas... também f... Não preciso dela para p... nenhuma. Vou continuar fazendo o meu papel.
E com seu partido?
Meu mandato podia ser muito mais produtivo. Eu podia fazer muito melhor a esse segmento, que são pessoas com deficiência, à Copa do Mundo e às crianças e jovens carentes, principalmente, de comunidade e essas pessoas que estão envolvidas com drogas, principalmente o crack, se meu partido me ajudasse. Não a liderança do meu partido — as pessoas da liderança do meu partido, se não fossem eles, eu não andava. Sou grato pra caramba. Mas os grandes do meu partido não me atendem. O presidente do meu partido (o governador de Pernambuco, Eduardo Campos), estou há sete meses pra falar com ele, não consigo falar nem “bom dia”. Aí, amanhã ele quer vir (concorrer) pra presidente da República, não vou ajudar. Vou logo avisando, não me peça ajuda.
Você pensa em mudar de partido?
Não, em princípio, não.
Você sempre falou que sexo era importante, que, se fizesse sexo antes dos jogos, você ficava mais inspirado. E agora? Isso também vale para antes de uma votação importante na Câmara, por exemplo?
Também. Sexo é primordial na vida de qualquer um. Principalmente na minha. Muito importante. Mas é uma mudança radical (de assunto): de PSB pra sexo. (Risos)
O que você acha da noite em Brasília?
É interessante. Muito boa. Adoro Brasília. Tudo o que eu gosto tem em Brasília: futevôlei, altos restaurantes, shows... Sou apaixonado por Brasília.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que o aborto de fetos anencéfalos (sem cérebro) não é mais crime. Qual a sua opinião?
Isso é uma coisa polêmica e individual. Eu acho o seguinte: você que é mãe, ter o direito de poder tirar ou não, eu sou a favor disso. O outro (aborto) não. O aborto eu sou contra. Em casos de estupro, sou 100% a favor. Agora, por exemplo, eu tive uma filha que tem Síndrome de Down. Pô, eu vou abortar por quê? Claro que não. Sou totalmente contra. Em situações extremas, sou a favor. Em situações normais, mesmo que sejam pessoas que você saiba que vem com um tipo de deficiência, sou contra.