A façanha do Raja Casablanca, finalista do Mundial de Clubes da Fifa, deu a boa parte da população do Marrocos uma alegria que a seleção do país não vinha sendo capaz de oferecer.
O sucesso dos verdes dentro de campo uniu torcedores por toda a nação, e ainda ofuscou as polêmicas que tomavam conta das manchetes nas semanas anteriores.
A preparação do Marrocos para receber o Mundial foi repleta de controvérsias. A eleição para a presidência da federação de futebol, em novembro, foi marcada pelo baixo nível, com trocas de acusações entre os candidatos.
O vencedor foi Fouzi Lekjaa, presidente do Renaissance Sportive de Berkane, recém-promovido à primeira divisão.
Diretor de orçamento do ministério da economia e finanças do Marrocos, Lekjaa contava com apoio governamental e fazia a promessa de investimentos na casa de 600 milhões de dirhams (cerca de R$ 172 milhões) para tornar o futebol do país mais profissional.
Os opositores de Lekjaa apontavam para atrasos de salários e até falta de pagamentos em seu clube, além de chamar a atenção para acusações de suborno durante a subida da equipe para a primeira divisão.
Lekjaa, porém, não chegou a assumir o cargo.
Dia 15 de novembro, cinco dias após a eleição, a Fifa determinou a anulação do pleito alegando inadequação do estatuto da entidade às normas do órgão maior do futebol mundial, no que diz respeito à autonomia.
O presidente Ali Fassi Fihri, que não era candidato à reeleição, foi mantido no cargo até a realização de novas eleições, previstas para o início de 2014.
O início do Mundial também foi marcado pela controvérsia.
A cerimônia de abertura realizada em Agadir foi ridicularizada pela imprensa e pelas redes sociais, considerada pobre e estereotipada. Os críticos consideraram uma oportunidade perdida de reafirmar o desejo do país de receber a Copa do Mundo de 2026.
'Improvisação' e 'amadorismo' foram alguns dos termos usados para descrever a cerimônia, que durou menos de dez minutos e contou com 300 artistas participantes. Os organizadores se defenderam, alegando que a Fifa não permitiu que o gramado fosse ocupado por mais tempo.
Então, veio o Raja. Depois de sofrer para confirmar o favoritismo contra os semiprofissionais de Auckland, o time de Casablanca mobilizou o país quando venceu o Monterrey na prorrogação.
Quando veio a categórica vitória sobre o Atlético Mineiro, todo o Marrocos (ou quase todo, se desconsiderarmos o rival local WAC) já gritava 'Dima Raja!'.
O sucesso do Raja compensou a falta de sucesso da seleção, que participou de três Copas do Mundo entre 1986 e 1998, mas nunca mais se classificou.
Nem na Copa Africana de Nações os resultados aparecem. A última boa campanha foi em 2004, com o vice-campeonato. Desde então, o Marrocos caiu na fase de grupos em quatro oportunidades, e em uma (2010) nem se classificou.
Na sala de imprensa do Grand Stade de Marrakech, fica clara a nostalgia de tempos melhores. Há fotos da seleção de 1998, eliminada na primeira fase por causa da derrota do Brasil para a Noruega, e de Mustapha Hadji, destaque daquela equipe.
A façanha do Raja fará com que outro pôster se torne histórico entre os marroquinos. Mas não pode ofuscar a necessidade de corrigir as falhas estruturais no futebol do país.
O Marrocos ainda recebe outra edição do Mundial em 2014, mas terá mesmo sua grande oportunidade no início de 2015, quando recebe a Copa Africana. Boa chance de mostrar que Moutaouali, Iajour e seus companheiros não foram apenas uma conveniente distração.
Leonardo Bertozzi - ESPN.com.br
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