quarta-feira, 9 de julho de 2014

Copa do Mundo

17h00


0 HOL Holanda X Argentina ARG 0   2x4

Humilhação, fracasso, complexo, provocação: o 7 a 1 nos jornais pelo mundo


No francês L'Équipe, a 'incrível' Alemanha; no mexicano Estadio, 'pior que o Maracanazo'
No francês L'Équipe, a 'incrível' Alemanha; no mexicano Estadio, 'pior que o Maracanazo' 
A maior derrota da história do futebol brasileiro foi, também, um dos mais memoráveis jogos de todos os tempos. Talvez o mais impressionante de uma Copa do Mundo. Certamente, o mais inesquecível - ainda que pelos motivos mais tristes - do Mundial de 2014.
Do ponto de vista jornalístico, a vitória da Alemanha por 7 a 1 é, sobretudo, uma notícia impactante, que, claro, leva a manchetes impactantes.
A maior derrota da seleção brasileira ecoou por todo o planeta em palavras como vexame, humilhação, vergonha, inferno.
Houve os que se assustaram, os que estavam em choque, houve quem preferisse destacar a incrível seleção alemã. E, claro, também aqueles que não perderam a chance de provocar; como tantas vezes os brasileiros provocaram após suas maiores vitórias.
A maior das provocações veio do diário Olé, da Argentina. O jornal, que tantas vezes usou ironias e piadas para se referir à seleção brasileira, não poderia portar-se de forma diferente no dia em que teria mais motivos para fazê-lo.
REPRODUÇÃO
O Olé não perdoou: Hexa + 1
O Olé não perdoou: Hexa + 1
A capa desta quarta-feira tem como manchete "Hexa + 1", em referência aos sete gols sofridos contra os alemães. A foto é de Luiz Felipe Scolari, e o texto de apoio na capa, este sim, é mais sério e com palavras duras.
"O Brasil sofreu a maior humilhação de sua história: perdeu por 7 a 1 e assim terminou o sonho do sexto título mundial e de vingar o fracasso de 1950. Scolari assumiu a responsabilidade e David Luiz pediu perdão entre lágrimas. O povo chorou e, no fim, aplaudiu a brilhante Alemanha", diz o jornal.
REPRODUÇÃO/A BOLA
'A Bola', de Portugal: Adeus é brasileiro
'A Bola', de Portugal: Adeus é brasileiro
Jornal de Notícias, de Portugal, também usou um título bem-humorado para referir-se à derrota brasileira: "Complexo do Alemão", fazendo um jogo de palavras com as questões psicológicas do time e do complexo de favelas do Rio de Janeiro - o palco da final, que a seleção brasileira nem pisará.
O diário A Bola também saiu-se com um bom trocadilho sobre a derrota brasileira. "Adeus é brasileiro", uma referência clara a uma das frases mais ditas pelos habitantes do país que ontem sofreu a pior derrota em uma semifinal de Copa.
REPRODUÇÃO
Bild: 'Sem palavras' diante da goleada
Bild: 'Sem palavras' diante da goleada
O tom mais presente, contudo, foi de surpresa; de choque com a atuação alemã, mas, ainda de forma mais forte, com o apagão dos brasileiros. Na Espanha, os principais diários esportivos saíram com manchetes que usavam palavras como fracasso, vergonha e humilhação.
O francês L'Équipe preferiu dar espaço à magnitude da vitória alemã, em detrimento da derrota brasileira. "Incríveis" foi a palavra usada para explicar uma foto dos jogadores comemorando mais um gol.
Na Alemanha, por sua vez, as palavras pareciam faltam. E foi isso que ficou claro na capa do Bild. A manchete do tabloide foi "Sem palavras". Abaixo, a festa dos jogadores; acima, os números do massacre: 7 a 1. Os números falaram mais do que qualquer palavra.

Com apoio da CBF, Felipão manda o hexa para o inferno e a Alemanha exorciza o futebol brasileiro


Mauro Cezar: 'Brasil foi uma grande bagunça por conta do desconhecimento do que é o futebol hoje'
Luiz Felipe Scolari é um técnico obsoleto. Não é novidade, mas quando este blogueiro disse isso, após a vitória nos pênaltis sobre o Chile — clique aqui e confira —, muitos concordaram e outros tantos preferiram atacar, agredir, ofender. Seguidores cegos como os de uma seita qualquer. Incapazes de ver o que está diante dos próprios olhos. Não, naquela ocasião não disse nada de especial.
Era uma mera e óbvia constatação diante dos seus fracos trabalhos no Chelsea, de onde foi demitido, e no Palmeiras, cujo rebaixamento deixou encaminhado quando perdeu o emprego. E na seleção, onde seus equívocos foram inúmeros e não haveria cortina-de-fumaça capaz de escondê-los para sempre. Como a balela de que jogadores de caráter são emocionalmente fracos, que empurrou para segundo plano o trabalho ruim feito no dia-a-dia, que ficava mais evidente nos jogos.
O maior problema jamais foi emocional, e sim técnico e tático. Isso só não era evidente para quem não queria ver ou preferia proteger o treinador. Como se fossse possível fazê-lo. O time frágil, sem estrutura, sem padrão, sem nada! Vivendo da falsa glória denominada Copa das Confederações, que o Brasil também ganhou antes das Copas de 2006 e 2010, quando sequer chegou às semifinais.
Desta vez a seleção cebeefiana avançou, está entre as quatro melhores, mas talvez fosse melhor nem ir tão longe. A Alemanha humilhou os brasileiros. Uma derrota que lembra a final da Copa de 1998, quando os franceses pararam nos 3 a 0 graças à incompetência dos pífios atacantes que atendiam pelos nomes de Guivarc'h e Dugarry. O problema vivido por Ronaldo ainda é utilizado por alguns para maquiar a verdade daquele massacre nas imediações de Paris. Foi perdida uma chance de mudar
No Mineirão vimos um novo choque de realidade, como o massacre do Barcelona sobre o Santos. Um time técnico, bem treinado, entrosado diante de um adversário mal escalado, que cedeu os espaços desejados pelos alemães. A forma como o técnico da CBF colocou seu time em campo evidenciou desconhecimento do futebol atual, do adversário, falta de estratégia, de treinamento, de tudo.
Como ocorreu com Muricy Ramalho nos 4 a 0 do Barça sobre os santistas na final do Mundial da Fifa, em 2011. "Professores" supervalorizados como Scolari precisam ser questionados, como os cartolas que os contratam. Marín e Del Nero chamaram Felipão para atuar como escudo, contando com seu enorme e inegável carisma. O homem errado, no lugar errado, na hora errada. Treinador e dirigentes são sócios no desastre.
Em campo Neymar e Thiago Silva poderiam diminuir a humilhação, não evitar a derrota. Mas esses 7 a 1 podem trazer algo de bom. Primeiro porque temos a chance de banir essa forma tosca e ultrapassada de jogar, apoiada em desgastados discursos sobre motivação e outras muletas que já não bastam para manter um time de pé. Isso não é o bastante, mesmo com ótimos jogadores que o país revela.
Luiz Felipe Scolari disse antes do duelo com a Colômbia pelas quartas-de-final: "Gostou, gostou. Se não gostou, vai para o inferno". Foi para onde ele mandou o hexa que, ao contrário do que sinalizava a frase no ônibus que transporta os atletas, não está chegando. Sim, a Alemanha exorcizou o futebol brasileiro, cabe a cada um de nós fazer o possível para que eles não voltem mais.
Frases da Copa para não esquecer:
"A CBF é um exemplo para o Brasil. É o Brasil que deu certo, que dá certo", Carlos Alberto Parreira, antes do Mundial
"É só olhar o time que nós temos. Temos a zaga mais cara do mundo. Temos jogadores experientes, com qualidade, respeitados no futebol internacional, jogando em casa. Somos favoritos, sim", Parreira, na primeira entrevista coletiva
"Aquelas declarações do Parreira foram espetaculares", Luiz Felipe Scolari, sobre o favoritismo atribuído pelo colega de CBF, mais de um mês depois
"Gostou, gostou. Se não gostou, vai para o inferno", Scolari, depois do jogo com o Chile
"Eu fiz aquilo que eu acho que é o mais correto e o melhor", Scolari, na coletiva após os 7 a 1
REUTERS
Luiz Felipe Scolari leva as mãos ao rosto durante a derrota para a Alemanha
Luiz Felipe Scolari leva as mãos ao rosto durante a derrota para a Alemanha: 7 a 1 humilhantes
Veja, abaixo, vídeos com Scolari e Parreira dizendo que o Brasil teria obrigação de ganhar a Copa. Felipão vai além: "O futebol não muda tanto"



'Nós já estamos com uma mão na taça', diz Parreira 

Não foi acidente! Desastre brasileiro parte da tática e atinge emocional, não o contrário

Nenhuma surpresa. Só que a defesa desfalcada de Thiago Silva, que inverteu o lado de David Luiz para encaixar Dante, precisava de proteção. Por conseqüência, necessitava sufocar o talentoso meio-campo adversário com solidez, marcação.
A empolgação brasileira e o respeito alemão marcando no próprio campo duraram até o primeiro susto, em jogada de Khedira. Depois David Luiz, capitão por liderança natural, falhar grotescamente e deixar Muller, o artilheiro alemão agora com cinco gols, livre na área após cobrança de escanteio. Àquela altura, a equipe de Joachim Low já sabia o que fazer: tocar a bola, aproveitar os espaços no meio e às costas de Marcelo, que só tinha a lenta cobertura de Dante.
Senha para os gols saírem naturalmente. Dos 22 aos 29 minutos. Primeiro Klose para quebrar o recorde de Ronaldo com o 16º gol em Mundiais. Depois dois de Kroos, o melhor em campo, e um de Khedira. Com bolas roubadas no campo de ataque, domínio absoluto no meio-campo. Dez finalizações, cinco gols. A partir do terceiro, em ritmo de treino.
Porque Bernard não tem culpa por estar em campo. Até convocado. Mas também não tem envergadura - física, técnica e tática - para disputar uma semifinal de Copa do Mundo. Parecia uma criança participando de uma partida de adultos. Sequer explorou a fragilidade do improvisado Howedes e terminou o jogo do lado oposto. Triste equívoco de quem escalou.
Talvez a goleada se repetisse com outra formação. Mas fortalecer o meio-campo e guardar a retaguarda era o mais lógico. Creditar a maior derrota da História do futebol brasileiro ao azar, ao desequilíbrio psicológico ou a qualquer outra coisa que não as péssimas escolhas táticas do treinador ao longo da Copa e, especialmente, na semifinal é negar a realidade.
Exatamente pelos problemas era preciso ter a humildade de se defender. Porque a Alemanha é melhor. Na técnica, na tática e na estratégia. Marcou mais dois com Schurrle no segundo tempo e relaxou a ponto de fazer Neuer trabalhar. Ainda sofreu o gol de Oscar, já com Paulinho, Ramires e William em campo. 45 minutos de treino.
Inimaginável para um anfitrião cinco vezes campeão mundial. Mas também uma nova oportunidade para refletir sobre o futebol brasileiro. Desde a gestão até ao que é valorizado na hora de pensar o esporte. O jogo em si. Que mudou, é mais complexo, requer mais que a emoção e o talento. Pede evolução consistente.
Não dá mais para viver de espasmos como a vitória sobre a Espanha na Copa das Confederações, o primeiro tempo diante da Colômbia e uma ou outra partida. Há material humano, recursos da CBF, estrutura. Também gente competente. Agora, sem a obrigação do título em casa, é possível pensar a longo prazo. Escolher os melhores profissionais e seguir em frente. Sem superstições e messias. Trabalho com conhecimento.
Porque é inútil se enganar. Os 7 a 1...uma pausa. 7 a 1! Ou Brasil 1x7 Alemanha. Em casa. No Mineirão. Com a torcida no estádio e o mundo assistindo. Numa semifinal de Copa do Mundo.
Voltando: a goleada humilhante começou no campo, na disputa. A seleção alemã foi mais inteligente na ocupação dos espaços e na condução do jogo. Talvez o único fator extraordinário foi a eficiência nas conclusões no primeiro tempo. O Brasil foi uma presa fácil na distribuição das peças em campo, na execução, na dinâmica. E aí entrou em parafuso. Não o contrário. Nem acidente.
É hora de chorar, lamber as feridas. Também reconhecer que o blog errou ao atribuir o favoritismo ao Brasil simplesmente por ser o anfitrião e ter um talento como Neymar. É humano. Mas insistir no equívoco todos sabem o que significa.
Não dá mais para esperar. O futebol jogado no país e pela seleção precisa ser discutido, repensado. Com calma, mas urgência.
OLHO TÁTICO
Com Bernard e Dante, seleção brasileira taticamente foi presa fácil para a goleada histórica dos alemães organizados, sólidos e talentosos
Com Bernard e Dante, seleção brasileira taticamente foi presa fácil para a goleada histórica dos alemães organizados, sólidos e talentosos.

Com apoio da CBF, Felipão manda o hexa para o inferno e a Alemanha exorciza o futebol brasileiro

Luiz Felipe Scolari é um técnico obsoleto. Não é novidade, mas quando este blogueiro disse isso, após a vitória nos pênaltis sobre o Chile — clique aqui e confira —, muitos concordaram e outros tantos preferiram atacar, agredir, ofender. Seguidores cegos como os de uma seita qualquer. Incapazes de ver o que está diante dos próprios olhos. Não, naquela ocasião não disse nada de especial.
Era uma mera e óbvia constatação diante dos seus fracos trabalhos no Chelsea, de onde foi demitido, e no Palmeiras, cujo rebaixamento deixou encaminhado quando perdeu o emprego. E na seleção, onde seus equívocos foram inúmeros e não haveria cortina-de-fumaça capaz de escondê-los para sempre. Como a balela de que jogadores de caráter são emocionalmente fracos, que empurrou para segundo plano o trabalho ruim feito no dia-a-dia, que ficava mais evidente nos jogos.
O maior problema jamais foi emocional, e sim técnico e tático. Isso era evidente, apenas para quem preferia proteger o treinador. Como se fossse possível fazê-lo. O time frágil, sem estrutura, sem padrão, sem nada! Vivendo da falsa glória denominada Copa das Confederações, que o Brasil também ganhou antes das Copas de 2006 e 2010, quando sequer chegou às semifinais.
Desta vez a seleção cebeefiana avançou, está entre as quatro melhores, mas talvez fosse melhor nem ir tão longe. A Alemanha humilhou os brasileiros. Uma derrota que lembra a final da Copa de 1998, quando os franceses pararam nos 3 a 0 graças à incompetência dos pífios atacantes que atendiam pelos nomes de Guivarc'h e Dugarry. O problema vivido por Ronaldo ainda é utilizado por alguns para maquiar a verdade daquele massacre nas imediações de Paris. Foi perdida uma chance de mudar
No Mineirão vimos um novo choque de realidade, como o massacre do Barcelona sobre o Santos. Um time técnico, bem treinado, entrosado diante de um adversário mal escalado, que cedeu os espaços desejados pelos alemães. A forma como o técnico da CBF colocou seu time em campo evidenciou desconhecimento do futebol atual, do adversário, falta de estratégia, de treinamento, de tudo.
Como ocorreu com Muricy Ramalho nos 4 a 0 do Barça sobre os santistas na final do Mundial da Fifa, em 2011. "Professores" supervalorizados como Scolari precisam ser questionados, como os cartolas que os contratam. Marín e Del Nero chamaram Felipão para atuar como escudo, contando com seu enorme e inegável carisma. O homem errado, no lugar errado, na hora errada. Treinador e dirigentes são sócios no desastre.
Em campo Neymar e Thiago Silva poderiam diminuir a humilhação, não evitar a derrota. Mas esses 7 a 1 podem trazer algo de bom. Primeiro porque temos a chance de banir essa forma tosca e ultrapassada de jogar, apoiada em desgastados discursos sobre motivação e outras muletas que já não bastam para manter um time de pé. Isso não é o bastante, mesmo com ótimos jogadores que o país revela.
Luiz Felipe Scolari disse antes do duelo com a Colômbia pelas quartas-de-final: "Gostou, gostou. Se não gostou, vai para o inferno". Foi para onde ele mandou o hexa que, ao contrário do que sinalizava a frase no ônibus que transporta os atletas, não está chegando. Sim, a Alemanha exorcizou o futebol brasileiro, cabe a cada um de nós fazer o possível para que eles não voltem mais.
Frases da Copa para não esquecer:
"A CBF é um exemplo para o Brasil. É o Brasil que deu certo, que dá certo", Carlos Alberto Parreira, antes do Mundial
"É só olhar o time que nós temos. Temos a zaga mais cara do mundo. Temos jogadores experientes, com qualidade, respeitados no futebol internacional, jogando em casa. Somos favoritos, sim", Parreira, na primeira entrevista coletiva
"Aquelas declarações do Parreira foram espetaculares", Luiz Felipe Scolari, sobre o favoritismo atribuído pelo colega de CBF, mais de um mês depois
"Gostou, gostou. Se não gostou, vai para o inferno", Scolari, depois do jogo com o Chile
"Eu fiz aquilo que eu acho que é o mais correto e o melhor", Scolari, na coletiva após os 7 a 1
REUTERS
Luiz Felipe Scolari leva as mãos ao rosto durante a derrota para a Alemanha
Luiz Felipe Scolari leva as mãos ao rosto durante a derrota para a Alemanha: 7 a 1 humilhantes
Veja, abaixo, vídeos com Scolari e Parreira dizendo que o Brasil teria obrigação de ganhar a Copa. Felipão vai além: "O futebol não muda tanto"






Da Anatomia de uma derrota à autópsia de uma campanha. O Brasil sofre a maior derrota em cem anos de seleção

O estupendo livro Anatomia de uma Derrota recebeu um título primoroso do jornalista Paulo Perdigão, em 1986. Para o vexame na semifinal de 2014, a palavra não é anatomia, mas autópsia. Houve de tudo para explicar a derrota. E há também uma reflexão a fazer sobre o futebol brasileiro depois da maior goleada sofrida pela seleção em cem anos.
A escalação de Bernard ajudou a pressionar nos primeiros nove minutos, mas abriu o meio-de-campo. A seleção brasileira usava muito as pernas e pouco a cabeça, no início da partida. Felipão pensou em usar as entradas em diagonal com Bernard no setor de Höwedes. Esqueceu-se de vigiar o melhor armador da Alemanha: Toni Kroos.
O craque do jogo e do time chega à final com chance de ser eleito o melhor da Copa, se a Alemanha for vencedora. A atuação contra o Brasil foi impecável. Primeiro o cruzamento para o gol de Thomas Muller - falha coletiva da defesa e também de David Luiz.
Depois, o passe para clarear a jogada em que Miroslav Klose marcou pela 16a vez em Copas do Mundo e tornou-se o recordista, à frente de Ronaldo.
E então, dois gols, primeiro em um tiro da entrada da área, depois finalizando uma jogada de pelada. Ambos em erros de Fernandinho, de atuação péssima e abatido depois da primeira falha.
Sofrer quatro gols em seis minutos é raro, Acontece por causa de abalo emcional, mas também por questões táticas. O meio-de-campo do Brasil ficou aberto, escancarado.
Felipão tem razão em tentar manter a serenidade. O futebol brasileiro precisa ter. Acalmar-se, colocar a bola no chão, discutir sobre o que está se passando. E lembrar-se para sempre que o reinício precisa acontecer depois da pior derrota em cem anos. O pior dia da seleção brasileira exige que se faça a autópsia.


SEMIFINAIS
8/julho/2014
BRASIL 1 x 7 ALEMANHA

Local: Mineirão (Belo Horizonte); Juiz: Marco Rodriguez (México); Gols: Thomas Muller 10, Klose 22, Kroos 23, Kroos 25, Khedira 29 do 1º; Schurrle 23, Schürrle 33, Oscar 45 do 2º; Cartão amarelo: Dante
BRASIL (4-2-3-1): 12. Júlio César (4,5), 23. Maicon (4,5), 4. David Luiz (4), 13. Dante (4,5) e 6. Marcelo (4); 17.Luiz Gustavo (4) e 5. Fernandinho (2) (8. Paulinho , intervalo (3,5)); 20. Bernard (4), 11. Oscar (4) e 7. Hulk (3,5) (16. Ramires, intervalo (4)); 9. Fred (3) (19. William 24 do 2º (3,5)). Técnico: Luiz Felipe (2)
ALEMANHA (4-1-4-1): 1. Neuer (7,5), 16. Lahm (7,5), 20. Boateng (7), 5. Hummels (7,5) (17. Mertesacker, intervalo (7)) e 4. Höwedes (7); 7. Schweinsteiger (7,5); 13. Thomas Müller (8,5), 6. Khedira (7) (14. Draxler 31 do 2º (7)), 18. Kroos (9) e 8. Ozil (7); 11. Klose (8) (9. Schürrle 12 do 2º (8)). Técnico: Joachim Löw (8)
Homem do jogo FIFA - Kroos
Homem do jogo PVC - Kroos
51% x 49%

O massacre do Mineirão

Imprimir Comunicar erro
20140708-174407-63847635.jpg
O número 20 estava também na camisa de Amarildo, na Copa de 1962, mas não foi por isso que Felipão optou por Bernard e não por Willian, como era mais cogitado.
Bernard não só estaria em casa no terreiro do Mineirão onde manda no pedaço como, ainda por cima, diferentemente do brasileiro do Chelsea, era alguém que o técnico alemão desconhecia.
Quando o nome do menino de alegria nas pernas foi anunciado o estádio aplaudiu até mais que a David Luiz e o aclamou em coro por quase um minuto.
Um ano de exílio na Ucrânia depois, Bernard estava diante de mais um jogo decisivo em sua vida como, em julho do ano passado, diante do paraguaio Olimpia, na final da Libertadores que, é claro, para o torcedor do Galo, foi ainda mais importante.
Executados os hinos, o coração quase saiu pela boca e os alemães disfarçados de rubro-negros esbanjavam confiança no gramado.
Oito títulos mundiais somados, os pentacampeões em busca de sua oitava final e os tricampeões também.
Para um jogo que os alemães temiam violento, a primeira falta aconteceu aos 7, feita por Klose na área brasileira e a segunda, um minuto depois, também foi alemã, como a terceira, aos 9.
Mas, aos 10, o primeiro gol também foi alemão, quando Thomas Muller apareceu sem marcação na cobrança de escanteio para apenas escorar com o pé para a rede brasileira.
Uma ducha de água gelada proporcionada pela frieza germânica que não se abalava com a gritaria do Mineirão.
Só aos 13 Marcelo fez a primeira falta brasileira.
Bernard não pegava na bola, Fred idem e Hulk e Oscar não acertavam um passe.
A defesa tinha de se virar e dar chutão.
Marcelo simulou um pênalti, Boateng cobrou e quase o tempo fechou.
Cada contra-ataque alemão era um deus nos acuda e Klose fez 2 a 0, com facilidade, aos 22, para se tornar o maior artilheiro das Copas no estádio em que Ronaldo apareceu para o país.
Estava fácil, extremamente fácil.
Aos 23, Kroos fez 3 a 0 da entrada da área e no minuto seguinte fez 4 a 0, em bola roubada de Fernandinho.
Era um massacre impensável, para vingar 2002 com juros e correção monetária como se dizia antigamente.
O céu mineiro estava carrancudo e a torcida alemã cantava suas marchas alegremente.
O quinto gol veio ainda aos 29, com Kedira.
O melhor que a CBF poderia fazer era pedir à Fifa para acabar o jogo ali mesmo, sem nem terminar o primeiro tempo.
Parecia um jogo de adultos contra crianças.
O mundo passaria a clamar que Felipão errou, que deveria jogar com três volantes, tudo que os brasileiros jamais gostaram.
Nunca jamais o futebol brasileiro vivera humilhação semelhante, nem mesmo recentemente quando o Barcelona triturou o Santos.
E o primeiro tempo não acabava.
Implacáveis, os alemães não refrescavam e punham os brasileiros na roda.
Verdade que já fazia nove minutos que eles não faziam nem sequer um golzinho.
Argentina ou Holanda, quem os alemães vão enfrentar no dia 13 no Maracanã?
E com o que restou dos brasileiros, como enfrentar uns ou outros no dia 12, no Mané Garrincha?
Ufa, o primeiro tempo acabou!
Cinco vira 10 acaba?
Nada disso, pois a Seleção que saiu e voltou a campo sob vaias, quis mostrar dignidade e voltou com Paulinho e Ramires nos lugares de Fernandinho e Hulk.
Foi aí que se viu como seria mesmo duro fazer gol nos alemães, tal a sucessão de grandes defesas de Neuer.
A torcida alemã cantava “Rio de Janeiro, Rio de Janeiro” e a brasileira mandava da presidenta da República ao centro-avante Fred tomar no c…
O segundo tempo era até agradável e equilibrado, atrapalhado, no entanto, por dois motivos: sua inutilidade e o gosto de cabo de guarda chuva na boca de cada um dos brasileiros presentes ao Mineirão e pelo país afora.
Aquele vexame evitado que seria a desclassificação precoce reapareceu “em todas as suas emoções” na goleada impiedosa.
Porque o 6 a 0 veio aos 25, dos pés de Schuerrle, para Willian entrar no lugar de Fred.
Bem que no ônibus brasileiro a Fifa escreveu: “Preparem-se, o sexto vem vindo!”. Veio mesmo. E diante de 58 mil torcedores perplexos, porque nem mesmo os cantantes germânicos acreditavam no que viam, tamanha a facilidade.
O 7 a 0 também veio, dos mesmos pés que fizeram o sexto gol.
E começou um interminável olé saudado por quase todos no Mineirão, interrompido pelo solitário gol de Oscar: 7 a 1.
Sem comentários.
Notas:
Quaisquer notas, mas uma só, do presidente ao roupeiro: ZERO!
Como ser diferente?

Maracanazo foi trágico, 'Minerazo', a maior vergonha do Brasil

REUTERS
Luiz Felipe Scolari leva as mãos ao rosto durante a derrota para a Alemanha
Luiz Felipe Scolari leva as mãos ao rosto durante a derrota para a Alemanha
O Maracanazo foi trágico, o "Minerazo", a maior vergonha da história centenária da seleção brasileira. Acabou nesta terça-feira, em Belo Horizonte, a segunda chance da seleção brasileira ganhar uma Copa do Mundo em casa.
E sem o drama de 64 anos atrás, quando perdeu de virada para o Uruguai. Agora, o carrasco foi a Alemanha, que massacrou o time de Luiz Felipe Scolari por 7 a 1, na pior derrota da história da seleção brasileira. Foram cinco gols apenas nos 29 minutos iniciais, em um confronto que mais parecia um duelo entre profisssionais e jogadores amadores, dado à disparidade técnica, física e tática.
Em 1950, a culpa quase toda caiu no goleiro Barbosa, por uma falha discutível. Agora, não faltam responsáveis por tamanho vexame, e vai soar ridículo colocar toda a culpa nos desfalques do lesionado Neymar e do suspenso Thiago Silva.
Felipão montou um time que arma seu jogo com chutões de zagueiros, sem variações táticas e que ainda apela às faltas para marcar o rival. Ele e seu coordenador, Carlos Alberto Parreira, pressionaram ainda mais os jogadores ao dizerem que o Brasil já estava "com uma mão na taça" antes e durante o Mundial.
GETTY
Torcedores do Brasil lamenta após quarto gol alemão
Torcedores do Brasil lamentam após quarto gol alemão
Em campo, Fred foi um centroavante de um gol em seis jogos. Os veteranos da lateral direita, Daniel Alves e Maicon, não marcavam nem atacavam. O meio-campo foi um setor inexistente. Hulk completou seu décimo jogo oficial pela seleção principal sem marcar um gol. Fora de campo, a CBF bancou os treinos na Granja Comary, sem privacidade para treinos secretos, mas com convidados de patrocinadores nas arquibancadas.
Para os alemães, o triunfo significou a passagem para a oitava final de Mundial, o que o Brasil também buscava. O adversário para a decisão, domingo, no Maracanã, será definido hoje, na partida entre Argentina x Holanda, na Arena Corinthians.
Neymar, fora por fratura na vértebra, foi lembrado pelos companheiros. Na execução do hino nacional, o capitão David Luiz exibiu a camisa 10 do companheiro.
O Brasil começou o jogo com uma surpresa. No lugar do machucado Neymar, nada de Willian para cadenciar o meio-campo ou Paulino para deixar o time com três volantes. Luiz Felipe Scolari ousou e escalou Bernard, deixando o time com a mesma característica tática Na vaga do suspenso Thiago Silva, entrou quem era esperado: Dante.
No lado alemão, Joachim Low manteve Klose, dando ao veterano atacante a chance de se isolar como o maior artilheiro das Copas, deixando Ronaldo para trás.
A ideia de Felipão era atacar a Alemanha. No início, e só no início, isso funcionou. O Brasil partiu para cima e marcava o rival no campo dele. Mas não demorou para os europeus começarem a tocar a bola e diminuir a velocidade do jogo, que aos 10min já era equilibrado. E menos ainda para sair o primeiro gol.
Aos 11min, Kroos bateu escanteio pelo lado direito, a defesa brasileira falhou e Muller ficou livre para marcar seu quinto gol na Copa.
Em desvantagem, começaram os chutões brasileiros. Aos 17min, a primeira discussão em campo, depois que Marcelo pediu pênalti, inexistente, em disputa com Lahm. Boateng reclamou com o lateral esquerdo do Real Madrid.
GETTY
Jogadores da Alemanha comemoram gol de Mulelr
Jogadores da Alemanha comemoram gol de Mulelr

A opção de Felipão por Bernard era uma tragédia. O ex-jogador do Atlético-MG era nulo no ataque e a seleção levava um baile no meio-campo. O segundo gol alemão era questão de tempo. Aos 23min, os europeus entraram tocando na área. Klose chutou uma vez. Júlio César defendeu, mas no rebote ele marcou o 16º gol da sua carreira em Copas, finalmente passando Ronaldo. E o pesadelo aumentou um minuto depois.
Kroos fez o terceiro. Ele mesmo fez o quarto gol, aos 26min. A seleção conseguiu a proeza de levar quatro gols em apenas seis minutos depois que Khedira fez o quinto, aos 29min. Seu time era uma tragédia, mas Felipão, atônito no banco, não fez substituições.
Trocas só no intervalo. Paulinho entrou no lugar de Fernandinho, e Ramires na vaga de Hulk. Bernard ficou em campo.
Com o meio-campo reforçado, o jogo deixou de ser profissionais x amadores. A Alemanha tinha mais dificuldades de controlar a bola, e o Brasil conseguiu criar. Mas o time de Low tem um dos melhores goleiros do mundo, e Neuer evitou o gol brasileiro duas vezes. E fez um milagre aos 8min, em chute de Paulinho que desviou para escanteio.
Lances que animaram a torcida por apenas alguns minutos. Ao errar mais uma finalização, Fred, que é mineiro, foi xingado por quase todo Mineirão. Os alemães se irritavam com as seguidas tentativas dos brasileiros de cavarem um pênalti se jogando na área.
E, mesmo sem atacar com a mesma intensidade, fizeram o sexto, aos 24min, mais uma vez tocando dentro da área brasileira com se não houvesse marcação. Schuerrle foi o autor do gol.
A humilhação não tinha fim. Aos 34min, Schuerrle chutou cruzado para marcar o sétimo. O Mineirão, que poupava Felipão dos xingamentos, resolveu aplaudir. E começou a gritar olé nas trocas de bola dos alemães. Alguns ainda comemoraram o gol de honra dos brasileiros, aos 45min, com Oscar.
A seleção brasileira embarca ainda nesta terça-feira para Teresópolis, sua base de treinos durante toda a Copa do Mundo. Deve ficar lá até sexta-feira, quando viaja para Brasília, palco da disputa do terceiro lugar. Os alemães também retornam hoje para sua casa durante o Mundial, no litoral da Bahia.
FICHA TÉCNICA:BRASIL 1 X 7 ALEMANHA
Local: Mineirão, em Belo Horizonte (MG)
Data: terça-feira, 8 de julho de 2014
Horário: 17h (de Brasília)
Árbitro: Marco Rodríguez (MEX)
Assistentes: Marvin Torrentera e Marcos Quintero (ambos MEX)
Gols: Muller, aos 11min, Klose, aos 23min, Kroos, aos 24min e 26min, Khedira, aos 29min do primeiro tempo; Schuerrle, aos 24min e 34min, Oscar, aos 45min do segundo tempo
Cartões amarelos: Dante (BRA); (ALE)
BRASIL: Júlio César; Maicon, Dante, David Luiz e Marcelo; Luiz Gustavo, Fernandinho (Paulinho) e Oscar; Hulk (Ramires), Bernard e Fred (Willian)
Técnico: Luiz Felipe Scolari
ALEMANHA: Neuer; Lahm, Hummels, Boateng e Howedes (Mertesacker); Khedira (Draxler), Schweinsteinger, Kroos e Ozil; Muller e Klose (Schuerrle)
Técnico: Joachim Low