"Entra, líder!" "Entra, líder!" 
A cada jogador alvinegro que subia as escadas do Maracanã e chegava ao vestiário, a expressão era repetida. Muitas vezes seguida por um abraço de alegria pela manutenção da liderança do Campeonato Brasileiro. Quem estava perto da porta contou abraço a abraço a euforia do vestiário. O Botafogo é o time sem salário. E sem derrota.
Em 36 partidas no ano, 25 vitórias, sete empates e apenas quatro derrotas. Caiu contra o Flamengo no Campeonato Estadual, Bahia e Grêmio no Brasileirão, para o Figueirense na Copa do Brasil, partida vencida nos pênaltis que representou a classificação para as oitavas-de-final.
Dos 14 líderes recepcionados no vestiário depois da vitória sobre o Vasco, quatro foram formados em General Severiano. Situação muito pouco usual na história alvinegra dos últimos quarenta anos. Contra o Vitória, quinta-feira, seis garotos da base ajudaram a equipe a assumir a liderança: Gilberto, Dória, Gabriel, Vitinho, Gegê e Dedé. No clássico de domingo, Vitinho foi o melhor em campo.
O Botafogo não é só Seedorf. Da estirpe do holandês, há gente como Jéfferson e Bolívar, responsáveis pelo movimento organizado que combate a concentração enquanto os salários não estiverem em dia. Mas sem permitir que os garotos se desconcentrem. 
Quanto tempo isso vai durar é a questão. O Botafogo tem elenco para brigar cabeça a cabeça pelo título brasileiro que não é seu desde 1995. Mas precisa resolver rapidamente a questão dos salários atrasados. Até março, o dinheiro estava em dia. A interdição do Engenhão tem a ver com a crise, mas não pode servir de desculpa por muito tempo. Sem o estádio, não entra o dinheiro das arrecadações dos jogos e de eventos que costumeiramente aconteciam por lá.
Também aumentaram os custos com viagens para jogos fora do Rio. E por não ter certidões negativas de débito, ainda está bloqueado o dinheiro das vendas de Andrezinho, Fellype Gabriel e Jádson. 
Neste ano, o Botafogo já jogou 36 partidas em sete meses. Até dezembro, o primoroso calendário do futebol brasileiro lhe oferece outros 36 jogos em quatro meses. Natural haver oscilação e melhor não dar motivos para que os problemas normais se transformem em crises anormais. Se tiver essa habilidade, o Botafogo briga pelo título que não é seu há 18 anos.