domingo, 23 de dezembro de 2012

Inglês

11h30 Swansea City 1x1 Manchester United
14h00 Chelsea 8x0 Aston Villa

Francês

11h00 Valenciennes 2x1 Evian
14h00 Toulouse 2x0 Sochaux
18h00 Olympique 1x0 Saint-Etienne

O pneu e as corridas


Quando uma fábrica de pneus se liga à Fórmula 1, como fez a Pirelli dois anos atrás, ela assume um desafio tecnológico tão grande e, consequentemente, exigindo investimentos tão altos, que tudo só tem justificativa se ela conseguir levar a tecnologia adquirida para os pneus de nossos carros de cada dia. E, para que isso aconteça, embora tendo a F-1 como referência principal, ela tem de estender a sua participação para outras competições, especialmente as que têm disputas de carros fabricados em série (as chamadas categorias de turismo), inclusive as provas de rali, que testam desempenho, resistência e durabilidade.
Isso explica a Pirelli equipar os carros de 130 categorias espalhadas pelo mundo e, voltando os olhos para a América do Sul, unir-se de novo à Stock Car brasileira, que hoje tem um dos cinco mais importantes campeonatos de carros de turismo do mundo. Durante 25 anos a Pirelli forneceu pneus para a Stock Car. De 2008 a 2012, os pneus foram da marca Goodyear, e agora a Pirelli está de volta. Os pneus serão produzidos em Izmit, na Turquia, de onde saem também os pneus da F-1 e das 130 categorias internacionais atendidas pela marca. Cerca de 5 mil pneus serão produzidos para a Stock Car em 2013 e eles também terão cores diferentes para que o público identifique os pneus de pista seca (amarelos) e pista molhada (azuis).
A estatística da Pirelli na Fórmula-1 traz números interessantes, que vão desde o total de pneus usados nas 20 corridas deste ano, passando pelas temperaturas máximas e mínimas a que foram submetidos, maiores e menores velocidades, número de pit stops e ultrapassagens, até o número de cafezinhos servidos no motor-home da Pirelli.
Foram produzidos este ano 31.800 pneus, dos quais 22.500 são slick, 9.300 de chuva e outros 6.600 usados em testes. Usados efetivamente foram 21.400 de pista seca e 2.100 de pista molhada. Entre os modelos de slick, dominaram os macios (25%), seguidos pelos médios (21%), duros (17%) e supermacios (6%). Na chuva, foram usados 18% de intermediários e 11% para chuva forte. Mas, ao final do campeonato, todas as 31.800 unidades foram destruídas e recicladas.
A maior velocidade alcançada no ano foi 346 km/h (Raikkonen em Monza), a média mais alta da pole position foi de 248,241 km/h de Hamilton também em Monza e a mais baixa foi 161,828 km/h na pole de Schumacher em Mônaco. O total de pit stops chegou a 957, com o máximo de 76 na Malásia e mínimo de 24 nos Estados Unidos. O menor tempo de pit stop foi da McLaren - 2min31s com Jenson Button na Alemanha.
O campeonato teve 1.139 ultrapassagens, das quais o GP do Brasil marcou um novo recorde histórico de 147 numa das corridas mais emocionantes de todos os tempos. A temperatura mais baixa foi a de Austin, nos Estados Unidos (4 graus) e a mais alta, a de Valência, Espanha (37 graus).
Quanto aos dados mais curiosos, cada um dos 52 funcionários da Pirelli na Fórmula 1 viajou 192 horas de avião e, em conjunto, dormiram 1.498 noites em hotéis. De cafezinhos servidos no motor-home, foram 28.350. Minha colaboração com esse número deve ter sido de, pelo menos, uns dez cafezinhos.

Natal de galalite


Eduardo é um homem sério, como se dizia antigamente. Na verdade, apesar de viver cercado - e consumido - por toda sorte de aparatos da mais moderna tecnologia, ele é um homem de antigamente. O carrão importado e o loft modernoso no bairro mais badalado da cidade são apenas despistes. No fundo, o sujeito hiperconectado que deseja feliz Natal para os amigos através de um post no Facebook e para a mãe através de algo que ele considera muito mais próximo e carinhoso, um SMS, não passa de um solitário antiquado. Entre suas crenças mais arraigadas está a de que ganhar dinheiro não combina com diversão. Eduardo ganhou muito dinheiro em seus 50 anos de vida. E se divertiu quase nada.
Eduardo não gosta de futebol. Já gostou. Muito, garante sua mãe. Ele não lembra mais. Deve ter sido antes de começar a ganhar dinheiro e, portanto, antes de começar a viver de verdade. Quando perguntam pelo seu time de coração, até fala: o Corinthians. Mas naquela histórica manhã de domingo em que o bando de loucos conquistou o mundo, ele estava num avião - classe executiva, claro - voando para uma reunião em Nova York. Pelo Twitter, ficou sabendo da façanha. Não esboçou reação. A reunião do dia seguinte era muito importante para perder tempo com bobagens. "Bando de loucos", pensou. "É isso mesmo que esses fanáticos são. Como será que a bolsa abrirá amanhã?" A seriedade de Eduardo, na verdade, atende pelo nome de tristeza.
E então chegou o Natal. Aquele dia chato, que atrapalha a reta final do ano, com tantas metas que ainda precisam ser batidas. Outra distração inútil, como o futebol. Normalmente, Eduardo passa a data longe de casa, cada ano com uma namorada diferente, em alguma estação de esqui metida a besta ou em um exótico resort de mergulho.
Este ano, num intervalo entre uma namorada e outra, faltou vontade de viajar. Como a mãe mora em outra cidade, o pai faleceu há muitos anos e os amigos são sofisticados demais para celebrarem a ocasião em solo nacional, ele ficou sozinho no loft. Pouco antes da meia-noite, foi até a adega, escolheu o vinho mais caro e estava apreciando a bela vista da varanda quando notou algo sobre a mesa de centro. Era uma encomenda do correio, que a empregada devia ter largado ali.
Junto com a encomenda, um bilhete de sua mãe, contando que aquele era um presente que seu pai havia deixado com ela pouco antes de morrer, com instruções expressas de que fosse entregue ao filho somente no Natal em que estivesse com 50 anos. Um tanto assustado, Eduardo abriu o pacote. Dentro, encontrou seu time de botão dos tempos de menino, que julgava perdido na poeira dos tempos. Um lindo time de galalite, com os nomes dos jogadores escritos com letra de criança e colados com um durex amarelado. Ao ver aquilo, o executivo sério enxugou uma lágrima, voltou no tempo e pôs-se a jogar com os antigos botões na mesa de vidro da sala. Zé Maria, Ruço, Rivellino, Aladim, estavam todos lá, inclusive o seu favorito: Adãozinho.
Na manhã do dia seguinte, Eduardo voltou a ser um homem sério. Mas começou a ler o jornal pelo caderno de esportes.