segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Espanhol

18h30 Sevilla 3x0 Granada-ESP

Português

18h00 Porto 5x0 Gil Vicente

Copa Africana

15h00 Níger 0x3 Gana
15h00 Congo RD 1x1 Mali

Disco riscado

A moçada de hoje está acostumada com as maravilhas da tecnologia e ouve som impecável em aparelhinhos portentosos. Não sabe o que era curtir música em vinil - uma beleza, se não desse defeito. Disco riscado fazia a agulha emperrar, patinar, não sair do lugar. A canção ficava sempre na mesma frase. Um martírio, até vir alguém e mexer na vitrola. 

Pois o Palmeiras lembra os LPs do tempo da vovó - e não é de agora. Entra ano, sai ano, a ladainha permanece inalterada. O time não decola, os resultados decepcionam, a angústia não dá sossego aos fãs. Enfim, a melodia não flui, nesse disco cheio de falhas, com capa rota e que todo mundo pega de qualquer jeito, suja e deixa marcas das mãos.

Desta vez, a diferença está na falta de paciência. O palestrino não aguenta mais humilhação e resolveu espernear desde o primeiro vacilo. Na semana passada, na estreia no Paulista, surgiram vaias após o empate com o Bragantino, numa demonstração de tolerância zero, ou perto disso, com os erros. A bronca ficou maior, ontem, na derrota por 3 a 2 para o Penapolense, que jogou boa parte do segundo tempo com um a menos.

É impiedoso xingar este ou aquele jogador numa fase que, em circunstâncias normais, seria encarada apenas como uma pré-temporada, com as oscilações de praxe. Luan, por exemplo, virou o principal bode expiatório das seguidas frustrações verdes. Ouviu de tudo, na rodada inaugural, ficou no banco na segunda, e só entrou ontem quando a casa ruía. Ainda fez um gol e nem festejou. 

Mas, descontadas reações das organizadas, pois difícil saber as reais motivações delas, dá para entender o exagero do palmeirense com essas cobranças imediatas. Isso se chama desespero, medo de outra temporada desperdiçada, mais um ano de gozações. Então, a turma das arquibancadas parte logo para o ataque, para ver se os cartolas se coçam. 

A ansiedade é tão acentuada que a torcida se divide. Como no caso do Valdivia. O chileno também entrou na etapa final e, em certo momento, foi motivo para coro nada simpático de uma facção de seguidores. Imediatamente, outra parte o incentivou. Dava a sensação de que havia duas torcidas distintas no estádio municipal. Caramba, em vez de se unirem os alviverdes se apartam! 

A cisão é mais uma consequência do furacão que varreu o clube na história recente, outra herança maldita deixada por gente que demorou para pegar o boné e ir pra casa. O sentimento do palmeirista é contraditório: tenta imaginar dias melhores, com a ascensão ao poder de um presidente com discurso de verniz moderninho (se bem que já apelou para o "não vamos fazer loucuras"), mas se choca com a realidade.

E a prática escancarou um Palmeiras inseguro, com rombos em todos os setores. O gol de Ayrton, aos 7 minutos, passou a impressão de que seria um domingo de festa. Ilusão que se dissipou com o empate e a virada do Penapolense ainda na primeira parte. E com o time do interior a jogar como se fosse o mandante! Nem a expulsão de Jailton colaborou para amenizar o vexame do pessoal da casa.

Paulo Nobre, Brunoro e colaboradores terão de agir logo para não serem vistos como mais do mesmo. A intenção deles é bacana; a emergência, maior. O tempo que lhes sobrou para apresentar resultados é curto. Atletas já estão marcados, Gilson Kleina sentiu o desconforto de cobranças e o povo chia. A bomba relógio verde precisa ser desmontada. 

PS. Oração, lágrimas, tristeza. Pouco o que posso dedicar às famílias atingidas pela tragédia em Santa Maria.

O futuro de Ganso


O primeiro gol com a camisa do São Paulo não indica boa atuação de Ganso contra o Atlético Sorocaba. Cañete jogou mais. Ganso ainda está longe de jogar o que se espera dele. Também está longe de morrer.
Incrível como é difícil encontrar o meio termo. Ganso poder não ser gênio e também não é perna-de-pau.
Incrível também como um velho lema - ou chavão - do São Paulo é esquecido quando se fala de Ganso. No passado, dizia-se sempre que poucos clubes tinham tanta paciência com os craques como o São Paulo. Tantos demoraram para emplacar: Pedro Rocha, Darío Pereyra, Careca, Raí...
Autor dos gols do primeiro Mundial, em 1992, Raí chegou ao Morumbi em 1987. Foi xingado algumas vezes até 1990, quando chegou Telê Santana. Daí até 1993, quando saiu para o PSG, marcou 80% dos gols pelo São Paulo.
Naquele tempo, o futebol era diferente. Mais lento, mas nem tanto assim. Já se dizia que um jogador corria 12 km por partida, contra 6 km em 1970. Raí era lento, diziam. Como se diz de Ganso.
Paciência é a palavra. Mérito de Ney Franco ter barrado seu armador contra o Bolívar, para jogar uma final. Parecia inevitável escalá-lo. Não era, e Ney Franco provou isso. Agora parece impossível não exaltá-lo pelo gol - e é pouco - ou criticá-lo por ainda não ter decolado.
Calma é a palavra. Com Aloísio pela direita e Jádson por dentro, o São Paulo fica mais rápido. Cañete mostrou nos dois jogos que disputou ser opção pela direita, pelo centro ou pela esquerda. Ganso precisa vibrar mais, passar mais, decidir mais. Ser mais parecido com o que foi em 2010. Se vai conseguir ou não, com suas qualidades e defeitos, só ele pode provar.

Bomba-relógio verde


O tic-tac assustador já se ouve. A temporada mal começou e os jogos iniciais nos Estaduais não deveriam passar de ensaios e de ajustes. Mas o Palmeiras convive, muito precocemente, com tensão, cobranças, desconfiança e insatisfação. A torcida não tem mais paciência para aguentar indícios de incompetência e a nova diretoria terá trabalho.
A prova de que os palestrinos estão com a pulga atrás da orelha veio na tarde deste domingo ainda no primeiro tempo do jogo em que a equipe foi derrotada pelo Penapolense por 3 a 2. Os jogadores iam para o vestiário a ouvir vaias de boa parte dos quase 8 mil pagantes que estiveram no Pacaembu. Era a resposta para o placar adverso: 2 a 1, de virada.
A manifestação de descontentamento aumentou na etapa final e teve como alvos sobretudo Luan e Valdivia. Sobrou até para o técnico Gilson Kleina, para os dirigentes que saíram. Para todo mundo, enfim. A própria comunidade verde está dividida, como se viu na postura em relação a Valdivia: enquanto uma facção xingava, outra defendia o chileno. Assim vai mal…
Decepcionante, também, o desempenho do time. O gol de Ayrton (belo gol de falta, por sinal) aos 7 minutos passou a sensação de que a tarefa não seria nada complicada. Engano. O Penapolense empatou com Guaru aos 9 (também em linda cobrança de falta) e virou com Magrão aos 14. Sem contar que teve chances de aumentar a diferença. Jogava tão solto que parecia o mandante e não um estreante fora de casa.
Kleina mudou a equipe, no intervalo, colocou Valdivia no lugar de Denoni e pôs Vinicius na vaga de Patrick Vieira. Não adiantou muito. Como não ajudou a expulsão de Jailton, por acúmulo de amarelos. Quando o Palmeiras pressionou, o goleiro Marcelo deu conta do recado. E o Penapolense ainda fez o terceiro, com Perez, em cobrança de escanteio. O gol de Luan (substituiu Maikon Leite) não diminiu a ira da torcida.
O Palmeiras novamente foi inseguro, inconstante, mostrou falhas em todos os setores. Jogadores não se acertam, o treinador sente o ambiente carregado. O discurso de Paulo Nobre e de Brunoro é muito bom. Mas a situação é de emergência; eles precisam agir logo.

A melhor balada


Felipão usa um argumento sólido para explicar por que não chamou Kaká para o amistoso contra a Inglaterra: é preciso vê-lo jogar pelo Real Madrid para saber se pode ou não estar na seleção. Felipão não diz isso abertamente, porque sabe que a frase pode ser usada contra ele mesmo, mais tarde. Se precisar de Kaká e convocá-lo sem estar jogando, será acusado de incoerência.
Azar!
Coerência nunca foi qualidade de técnico de futebol. É melhor ser incoerente e vencer jogos, do que perdê-los abraçado às convicções.
Em 2004 e 2005, anos dos prêmios de melhor do mundo para Ronaldinho Gaúcho, Felipão era técnico de Portugal, podia votar no brasileiro, mas não o elegeu como o maior craque do planeta.
Incoerência chamá-lo agora?
Não! É preciso escolher um experiente para servir de apoio à juventude de Neymar, Oscar e Lucas.
"Felipão está à procura de um Romário da Copa de 94. Por isso, chamou Ronaldinho", pensa o presidente do Atlético-MG, Alexandre Kalil.
Kalil não é neutro: "Fiz preces para Ronaldinho ser convocado, porque ele vai ajudar ainda mais o Galo se estiver motivado."
O dirigente apostou e contratou o ex-melhor do mundo, no ano passado, assim como Felipão parece apostar agora. Deu certo.
Em outros tempos, sem brilho nos olhos, o meia foi um exemplo bem acabado para um velho lema de Felipão: "Jogador bom é jogador com fome." Alexandre Kalil diz a mesma coisa com outras palavras: "Jogador com R$ 100 milhões na conta bancária é fogo..."
À primeira vista, a convocação de Ronaldinho e a ausência de Kaká se assemelham a uma carta de intenções. Felipão quer dizer que conta com Ronaldinho, julga-o capaz de ajudar a levantar a taça?
Não é bem isso.
Mais correto é afirmar que o técnico da seleção está testando a motivação de seu convocado. Quer Ronaldinho menos baladeiro e mais boleiro. Caso contrário, Felipão colocará em prática outro de seus mandamentos: "Se não tiver vontade, eu troco."
Parece justo tanto com a seleção, quanto com seu novo-velho camisa 10.
Ronaldinho tem uma chance rara. O melhor do mundo eleito em ano de Copa normalmente é quem se destaca mais do que os outros no Mundial. Ronaldinho pode trabalhar para ser o melhor do torneio, no próximo ano. Jogar a final no Maracanã, fazer o gol do título, levantar a taça e fechar o ciclo, aos 34 anos, aclamado como o melhor jogador do planeta.
Improvável, sem dúvida.
A não ser que Ronaldinho demonstre, sob os bigodes de Felipão, a ânsia que difere os imortais dos caras comuns. O brilho nos olhos que Felipão testa e quer saber se Ronaldinho ainda tem.
Quando abre o jogo, Felipão não acredita que o ex-melhor do mundo possa fazer um Mundial do tamanho necessário para encerrar a carreira no topo da lista dos gênios.
Alexandre Kalil vê as coisas de um jeito um pouco diferente: "O cara é um assombro! E olha que vi Reinaldo jogar pelo Galo... Além disso, aprendi que, para um craque, nada é impossível!"
Se Ronaldinho pensar bem, vai chegar à conclusão de que vale a pena tentar. A Copa tem só sete jogos.
Mas, para ele, começa em Wembley, dia 6 de fevereiro.