sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Só Thomas Jefferson pode salvar o esporte brasileiro

Quando se trata de poder, portanto, não vamos mais falar sobre a confiança nos homens, e sim impedir que eles se comportem mal pelas correntes da Constituição

Thomas Jefferson
Mais de dois séculos depois da fala de um dos principais Pais Fundadores da nação americana, chega a ser um pouco bizarro que, com tamanho inacreditável atraso, ainda invocarmos o aval dos “homens bons” ou falemos em consertar malfeitos através da confiança nos homens. Poderíamos estar, por este início, falando de uma série de temas. Mas os assuntos específicos aqui são os escândalos do vôlei nacional, as respostas da CBV/Banco do Brasil a partir do devastador relatório da CGU e por que não ir além, a gestão do esporte brasileiro, suas confederações e entidades.
Pois então vejamos algumas palavras da CBV e algumas exigências do BB para seguir com o milionário patrocínio, feitas a partir das recomendações da CGU.
De acordo com nota oficial da CBV, a entidade já estaria se adequando as recomendações da CGU para que o BB possa seguir com o patrocínio. Mas o que está em jogo obviamente não é apenas atender recomendações da CGU. Os limites das atribuições da Controladoria fazem com que ela possa apenas recomendar alguns atos. A questão então é acharmos que isso é suficiente. Pelo visto, CBV e BB acham, ao menos até que novos fatos, já em curso, ocorram, como a entrada em cena do Ministério Público e Polícia Federal.
Diz a tal nota que já estão se enquadrando nas recomendações, com:
- “auditoria externa”. Como se no tempo de Ary Graça não existisse.
- “Regulamento de contratações”. Como se não fosse estatutário antes.
- “Vetos de empresas suspeitas”. Ah, bom, então antes o estatuto permitia e agora passa a vetar. Não serão evitadas pelos mecanismos sugeridos por Thomas Jefferson em 1798 e sim porque agora a CBV se enquadrou e se adequou pela mão dos homens bons.
-“Criação de comitê de apoio”. Olha eles aí, os homens bons, aqueles que, como diz o poeta, irão “nos restituir a glória”! Agora vai!
- “Reaver judicialmente os valores de contratos apontados pela CGU como irregulares”. Incontestável. Porque não depende dos homens bons e sim das leis, da mão da justiça.
Há um trecho tão surpreendente quanto na nota da CBV, quando cita ainda que “de conhecimento de todas as ações desenvolvidas pela entidade, os técnicos José Roberto Guimarães e Bernardo Rezende manifestaram apoio incondicional aos dirigentes que tem a responsabilidade de administrar o atual momento do voleibol brasileiro”. Seria tão melhor ver os dois titãs do vôlei nacional juntos na trincheira de Thomas Jefferson e não na trincheira dessa cartolagem. Batendo o poderoso tambor de ambos em Brasília para que enfim alcancemos o dia em que as amarras do esporte brasileiro serão mais fortes do que o discurso de intenções de homens que se perpetuam no poder. Ainda há esperança. Como já falamos algumas vezes, a partilha de competências da Constituição Federal, 1988, deixou algumas lacunas no que diz respeito as responsabilidades na fiscalização de instituições ligadas ao esporte. A luta agora deve ser um freio de arrumação, em nome da máxima de Thomas Jefferson.
Na tentativa de se caracterizarem como os “homens bons” que irão mudar o curso da história e fazer essa travessia, os atuais mandatários da CBV botam em prática uma das modalidades mais em voga no Brasil atual: a tentativa de se descolar de quem é apontado por malfeito. O auge da excelência em tal modalidade de descolamento foi nas últimas eleições, quando o candidato Pezão passou uma candidatura inteira sem mencionar sua umbilical ligação com Sérgio Cabral, prejudicial para suas intenções naquele momento. No instante seguinte ao sufrágio das urnas, agradeceu ao mentor.
Algo semelhante faz a atual gestão da CBV. Por mais de duas décadas foram unha e carne com Ary Graça. Elegeram o mesmo. Participaram de sua administração. Sem grandes oposições seguiram mesmo durante a publicação das reportagens do “Dossiê Vôlei”, ao longo de 2014. Quando o barco foi naufragando e a navegação ficou insustentável, veio o descolamento. Foi no momento seguinte a publicação do relatório da CGU que se aprofundou o processo de descolamento. Apontado como “conflito” entre CBV x FIVB pelos ingênuos da imprensa de sempre.
Curioso agora reler algumas das reportagens do “Dossiê”. Voltando um pouco, chegamos em 24 de fevereiro, a primeira das reportagens. Questionados pela reportagem sobre as relações entre CBV e S4G, a empresa contratada que, de acordo com a CGU, não entregava os serviços acordados, além uma série de irregularidades, a CBV, em sua atual gestão, fez veemente defesa da empresa. Preste bem atenção: "A S4G é uma empresa reconhecida no mercado. Já trabalhou para outras modalidades e eventos esportivos, entre eles, os Jogos Mundiais Militares, quando foi vencedora de licitação, tanto para o vôlei como paraoutros esportes”.
Defesa também foi feita pelos atuais gestores, que agora se descolam do antigo gestor, a Marcos Pina, cartola que também tinha sua empresa prestadora de serviços para a CBV na intermediação de contratos, trabalho também não identificado pela CGU. “"Marcos Pina foi Superintendente Geral da CBV de 1997 a 1999, quando solicitou afastamento por iniciativa própria. Se manteve sem qualquer vínculo empregatício com a entidade até setembro de 2013, quando foi recontratado como Superintendente Geral pela nova gestão".
Ué?!!! Então uma rápida recuada nas reportagens e constatamos que os atuais gestores recontrataram Marcos Pina em setembro de 2013? E defenderam a S4G? E agora se descolam da gestão anterior! E nós aqui falando na confiança dos homens bons e em mecanismos que, em última análise, sempre dependerão de tal confiança. Quando na verdade, o dramático momento do esporte nacional implora que atletas, treinadores e cia exijam novos mecanismos de controle para entidades do esporte, principalmente as que recebem dinheiro público.
Verdade que o principal mandatário do esporte brasileiro não parece muito preocupado com tudo isso, tampouco pensa em mecanismos efetivos e constitucionais que coíbam aventureiros. Em recente entrevista, falou sobre o que preocupa de fato no momento. "Com relação aos contratos com o BB, espero que seja uma suspensão temporária porque o que preocupa é 2016. Estão em jogo quatro medalhas", afirmou Carlos Arthur Nuzman.
Seria bom também podermos ver esforços mais significativos e expressivos do BB no sentido da efetivação desses mecanismos de controle. Afinal, quem acaba de deixar-se ser enganado e ver milhões do dinheiro público por ele destinado tomar outros destinos, deveria estar mais incomodado. Para início de conversa, começar a cumprir efetivamente a Lei de Acesso à Informação, uma das melhores coisas que aconteceram nesse país mas que o BB insiste teimosamente em não cumprir, pisotear e ignorar. Este repórter fez três solicitações através da Lei de Acesso sobre documentos desta relação BB/CBV e foi ignorado pelo banco. Quando se sabe que por muitos anos o homem que cuidou da relação entre CBV e BB foi Henrique Pizzolato, atual hóspede do estado italiano, o BB deveria ser o primeiro a querer que seus atos fossem transparentes. Salvo, como eu disse em minha ida ao Congresso Nacional para tratar sobre o “Dossiê Vôlei”, salvo estarmos realmente em um país de Sargentos Rochas, aquele de Tropa de Elite (“quer rir? Tem que fazer rir”). Salvo tal fato, o BB deveria ser o primeiro a rever todos os seus mecanismos de controle e lutar para que eles se institucionalizem no esporte brasileiro de forma mais efetiva, acima dos homens. Para poder seguir patrocinando e despejando milhões de verba pública.
A imprensa obviamente não fica atrás nessa cadeia de omissões e descalabro. Por anos, botou tapetes vermelhos para malfeitores em seus estúdios e reportagens, apontando-os como gestores modelos. A promiscuidade dessas relações e suas razões e consequências serão em breve abordadas por mim. Mas toda a corrupção e sorte de malfeitos do esporte nacional é também um cadáver insepulto da imprensa brasileira. Que nem assim se refaz e segue com os mesmos tapetes vermelhos para cartolas que na verdade mereceriam estar no calor indoor do verão de Bangu. E quando de repente o jogo está 7 x 1, alguns oportunistas se apressam a apontar com veemência para os desmandos aos quais sempre foram cúmplices. E tome a pensar em soluções para o esporte brasileiro, tome a ir para a Alemanha fazer programas para ver como estão fazendo...Quando tão mais simples era cumprir o único papel que cabe para a imprensa nessa história. Qual? Ora, cumprir seu papel como imprensa e não como armazém de secos e molhados. Se a imprensa tivesse cumprido seu verdadeiro e único papel nesses anos todos, as coisas não estariam mais assim no esporte brasileiro.
Restam ainda os atletas. Aqui e ali vamos vendo gestos que eternizam homens em panteons muito maiores do que glórias olímpicas. A dignidade em combater o bom combate como o apóstolo ensinou é muito maior do que medalhas, como pensa Nuzman. Quando lá na frente olharmos para pessoas como os irmãos Endres, muito antes de suas inúmeras conquistas, estará a força dos atos dos dois, como de alguns outros. Assim como a omissão de alguns. O que virá pela frente é muito mais duro para os atletas. Verão a velha tentativa de cooptação. Cargos, propostas, o velho cala a boca. Assim como as velhas tentativas tão conhecidas de se denegrir o mensageiro para desqualificar a mensagem. Que sejam fortes para isso. Se não forem fortes agora, logo verão que alguns que acenam assustados agora estarão fechando a porta na cara deles quando estiverem recompostos. Já circula aqui e ali também a versão sobre a repreensão de técnicos e expoentes do esporte para os atos de protesto realizados pelos atletas. Que saibam que a história é assim mesmo. Repleta de homúnculos prestadores de serviços para o poder, ávidos a servir nestas horas.
NOTA: O blog segue destinado apenas para a expressão de opinião em artigos como este. Reportagens continuarão a ser publicadas no site.

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