sábado, 1 de dezembro de 2012

Brasileirão Série A

19h30 Flamengo 2x2 Botafogo
19h30 Santos 3x1 Palmeiras

Argentino


20h15 Colón 3x1 Argentinos Juniors 
18h00 Godoy Cruz 0x0 Quimes 
22h30 Rancing  3x1  All Boys 

Italiano

17h45 Juventus 3x0 Torino

Brasileirão Série C

17h00 Oeste 2x0 Icasa

Francês

14h00 Lyon 1x0 Montpellier
17h00 Bordeaux 2x2 Sochaux
17h00 Evian 1x1 Nancy
17h00 Lille 0x0 Bastia
17h00 Nice 2x1 PSG
17h00 Valenciennes 1x0 Reim

Espanhol

13h00 Getafe 1x0 Málaga
15h00 Valencia 2x5 Real Sociedad
17h00 Barcelona 5x1 Athletic Bilbao
19h00 Real Madrid 2x0 Atlético de Madri

Alemão

12h30 Schalke 04 1x1 Borussia Mgladbach
12h30 Bayer Leverkusen 1x0 Nuremberg
12h30 Mainz 05 2x1 Hannover 96
12h30 Augsburg 1x1 Freiburg
12h30 Greuther Fürth 0x1 Stuttgart
15h30 Bayern de Munique 1x1 Borussia Dortmund

Inglês

10h45 West Ham 3x1 Chelsea
13h00 Arsenal 0x2 Swansea City
13h00 Fulham  0x3 Tottenham
13h00 Liverpool 1x0 Southampton
13h00 Manchester City 1x1 Everton
13h00 QPR 1x1 Aston Villa
13h00 West Bromwich Albion 0x1 Stoke City
15h30 Reading 3x4 Manchester United

Pés no chão*


eleve o ufanismo obsoleto de José Maria Marin, na apresentação da dupla Felipão-Parreira que terá a partir de agora a missão de preparar a seleção para a Copa de 2014. Ao se referir a “patriotas” e ao exortar o povo a ter sentimentos nacionalistas, sem se dar conta o presidente da CBF apenas fez uso dos recursos retóricos que marcaram a carreira política dele décadas atrás. Para quem já dobrou a esquina dos 50 anos de idade, é inevitável (embora não necessariamente correto) associar esse discurso ao período do “Brasil, ame-o ou deixe-o” do início da década de 1970. Isso dá até arrepios.
Ao mesmo tempo tome a fala como parâmetro do modo dele pensar e ficará fácil entender por que recorreu a dois experientes treinadores numa situação de emergência. Marin não quis arriscar nem se propôs a fazer voo cego. Nem de longe lhe passou pela cabeça um mergulho no desconhecido. Para tanto, lhe pareceu lógico e seguro apostar em gente com currículo importante na “amarelinha” para uma missão que tem de se mostrar vitoriosa em curto prazo.
A postura conservadora na escolha se revelou na abertura da cerimônia de ontem, no Rio, ao listar os motivos, frágeis, que o levaram a desconsiderar Tite, Abel, Muricy e Luxemburgo na corrida sucessória de cargo tão relevante. Ficou implícito que, na avaliação dele, o quarteto tinha qualidades como as de Mano e provavelmente os mesmos defeitos. O maior de todos: a falta de lastro na competição. E isso pesou demais em favor de Felipão e Parreira. Na cabeça do cartola, problema resolvido. Fim de papo.
Marin, portanto, não espera uma revolução na seleção. Revolução que, convenhamos, não estava em andamento na gestão Mano Menezes. O treinador anterior aplicava ao time conceitos que considera eficientes, sem nada de extraordinários. Desenvolvia um projeto comum, que poderia se mostrar correto e vencedor adiante. Não conseguiu completar o ciclo, ao contrário de Dunga ou da dobradinha que volta ao comando. Resta-lhe o consolo dessa dúvida.
Também não espero uma reviravolta na equipe, nem para a Copa das Confederações nem para o Mundial. Não vislumbro transformação profunda, pois botar tudo de ponta-cabeça contraria a índole de Felipão e Parreira, notoriamente dois treinadores pés no chão. Evidentemente ambos farão mudanças; caso contrário, seria tolice tê-los chamado. Mas elas virão sem atropelos.
A confirmação do retorno de Felipão, antecipada pelo companheiro Luiz Antônio Prósperi, provocou reações extremadas. Houve quem festejasse como a salvação da lavoura e a cura de todos os males, ou como conquista do hexa já garantida. Da mesma forma, não faltaram manifestações de desconfiança a respeito da capacidade dos novos parceiros na empreitada.
Não me agradam nem euforia nem preconceito. Felipão e Parreira não são paraquedistas na profissão, não surgiram do nada, não foram campeões por acaso. Têm estofo e rodagem. Da mesma forma que não são magos com fórmulas milagrosas. Registre-se, ainda, o fato de que Felipão vem de fase dúbia no Palmeiras (com elenco medíocre, ganhou a Copa do Brasil e afundou no Brasileiro) e Parreira não dirige times há tempos.
Como não são novatos, Felipão e Parreira jogarão com bom senso e inteligência. Por justiça, lhes deve ser concedido crédito. Daí, como se dizia no meu Bom Retiro velho de guerra, “é bola pra frente e seja o que Deus quiser”. Mas, por amor a Ele, sem volta aos tempos do “Brasil grande”.

Tigre na final da Sul-Americana: melhor para o São Paulo, mas nem tanto...

O São Paulo se livrou de perder seu estádio para Madonna, da altitude de Bogotá e do time de Rentería e Cosme na decisão da Sul-Americana.

É favorito ao título continental, mas o surpreendente Tigre mostrou ao longo do torneio virtudes que podem complicar o tricolor paulista. Em Buenos Aires e, sim, na tão desejada decisão no Morumbi.

O time argentino, nas fases anteriores à semifinal, arrasou Argentinos Jrs, Deportivo Quito e Cerro Porteño em casa com quatro gols por jogo e foi derrotado fora duas vezes. Já diante do Millonarios sofreu no Monumental Victoria no empate sem gols, mas soube jogar com concentração atrás e esperar a jogada aérea na Colômbia.

Na melhor arma ofensiva da equipe, o gol “qualificado” do zagueiro Echeverria. O empate com gols inócuo para o oponente só foi cedido quando o time colombiano não tinha mais tempo para ir além do chute de Perlaza que o goleiro Albil aceitou.

No El Campín, o time do técnico Néstor Gorosito fechou com Leone e Orban o forte lado direito do Millonarios e o volante Ferreiro negou espaços ao cerebral meia Candelo. Ainda assim, o veterano camisa dez apareceu livre na área, mas a conclusão foi displicente. 

Como a atuação dos colombianos - confirmando a fama, às vezes injusta, de desleixados - até se transformar em desespero depois do gol do Tigre. Mais uma vez, o favoritismo atrapalhou.
Olho Tático
Campinho Millonários Tigre 1
No 3-4-1-2 habitual, o Tigre fechou o lado esquerdo com Leone, bloqueou Candelo e contra-atacou com Botta e Maggiolo
O time argentino alinhou cinco homens na defesa com o recuo dos alas Galmarini e Orban como laterais e isolou Maggiolo à frente. Congestionou a própria área e defendeu o resultado favorável. 
Menos mal para o São Paulo que o critério de gols marcado como visitante não vale para a decisão.

Olho Tático
Campinho Millonários Tigre 2
Na pressão final do Millonarios, o time argentino se entrincheirou com cinco na última linha defensiva
A equipe de Ney Franco, porém, tem com o que se preocupar: apesar da penúltima colocação no Torneio Inicial na Argentina com apenas uma vitória em 16 jogos, na Sul-Americana o Tigre joga com intensidade em casa marcando à frente e abusando da bola aérea.

Fora, antes um problema, se compactou bem defensivamente e foi organizado. Também é humilde para jogar por um contragolpe ou chuveirinho e marca melhor no um contra um que a Universidad Católica. Porém terá problemas para encaixar o 3-4-1-2 habitual no 4-2-3-1 são-paulino.

Com bola no chão, as armas ofensivas são poucas: as infiltrações em diagonal de Galmarini pela direita e as jogadas de Botta, “enganche” mais vertical que Perez García.

O time brasileiro é infinitamente superior. Mas se os argentinos voltarem a encaixar uma boa atuação em seus domínios e repetirem a postura e a concentração sem a bola da semifinal no Morumbi...

Na prática, é uma final sul-americana contra argentinos. Convém não arriscar e dobrar atenção e seriedade.

Felipão consegue voltar a ser Luiz Felipe?

Repito o que disse no momento da escolha do nome de Felipão para dirigir a seleção brasileira: 'retrocesso'. Não existe melhor palavra, até porque, com ele, chega também Carlos Alberto Parreira. 

A menos de dois anos da Copa do Mundo, a CBF dá um passo atrás e aposta num novo-velho projeto, que começará praticamente a partir do zero. A 'chancela' são os títulos mundiais, e a experiência dos dois comandantes.  

Felipão há tempos não realiza um grande trabalho. Parreira, idem. Se apostasse numa 'continuidade' do que foi plantado por Mano Menezes, a CBF possivelmente apostaria em Tite.

A base deixada por Mano deve ser modificada. Um goleiro mais experiente, um lateral mais marcador e cruzador, um zagueiro mais firme e menos técnico, um volante pegador daqueles, um centroavante referência, um jogador especialista em bola parada. Essa é a fórmula conhecida, batida do novo-velho técnico da seleção.

Não tenho birra ou empatia em relação a Felipão, mas nunca o considerei um treinador excepcional. Tem carisma, comando, mas seus conceitos estão nitidamente obsoletos. O futebol-força, a bola parada, o comando-família, o inimigo imaginário.

O futebol evoluiu. Ficou mais complexo. Felipão, como quase todos os técnicos brasileiros, não se reciclou. Foi bem no comando da seleção portuguesa (embora tenha perdido uma Euro em casa para a Grécia!), mas fracassou completamente no Chelsea e titubeou no seu Palmeiras neste ano.

Felipão ainda tem o dom para missões emergenciais e campeonatos mata-mata? Talvez até tenha, mas isso não me parece suficiente para transformar a instável seleção brasileira num favorito à conquista da Copa do Mundo.

Felipão terá de ter o apetite de um iniciante para completar a missão. O apetite de quando surgiu como Luiz Felipe. O cara que garimpou jogadores na América do Sul para o Grêmio, que ensaiou jogadas, que decifrou os pontos fortes dos adversários, que trabalhou bem com os garotos.

Felipão terá de despertar o seu lado Luiz Felipe, se é que ele ainda existe... 

Destaque do Auckland, ex-companheiro de Messi elogia Corinthians

Estádio do Dragão, 16 de novembro de 2003. Entre os jovens que estreavam pelo time principal do Barcelona em um amistoso contra o Porto, estavam Lionel Messi e Manel Expósito. Um deles se transformou no melhor jogador do mundo. O outro disputará seu segundo Mundial de Clubes pelo Auckland City, da Nova Zelândia. 

Manel, 31 anos recém-completados, rodou por vários clubes menores do futebol espanhol antes de aceitar o desafio de atuar na Oceania, a convite do técnico Ramón Tribulietx, seu compatriota. Conquistou dois títulos continentais pelo Auckland, marcando em ambas as finais, e é o principal nome da equipe que estreia na quinta-feira contra o Sanfreece Hiroshima, campeão japonês.

Para o Auckland, vencer o primeiro jogo significa no mínimo dobrar a cota inicial de participação, de US$ 500 mil. Caso consiga uma improvável segunda vitória contra o Al Ahly, do Egito, será o adversário do Corinthians na semifinal.

Em entrevista ao blog, Expósito falou sobre sua história no futebol, a realidade de quem atua na Nova Zelândia e mostrou conhecimento sobre o Corinthians, apesar de não acreditar muito em um possível confronto.

Você fez aniversário ontem. Como foi a comemoração?

Pouca festa, evidentemente, um aniversário mais "light". Festejamos em Hong Kong, na sala do aeroporto, com um bolo, pouca coisa.

Como está a preparação do Auckland para o Mundial?
Amanhã jogamos um amistoso a portas fechadas (contra o Matsumoto Yagama, da segunda divisão japonesa), é mais um treinamento. Hoje treinamos em dois períodos, estamos trabalhando forte para estarmos prontos para o grande jogo.

O que sabem do Sanfreece Hiroshima? Já viram jogos?
Ainda não começamos a ver jogos deles, o treinador não quer que tenhamos obsessão com o adversário. Sabemos que é um time muito defensivo, mas que na frente têm bons jogadores, um ponteiro croata de muita qualidade (Mikic). Será um jogo complicadíssimo, mas por enquanto estamos trabalhando para chegar bem. Nos próximos dias devemos nos concentrar mais no rival e em como devemos atacá-los.

Messi foi mais uma vez indicado à Bola de Ouro. Naquele novembro de 2003, você imaginava que estava estreando com um futuro multivencedor do prêmio?
A verdade é que não. Sabíamos que Messi tinha expectativas especiais, tinha subido três categorias consecutivas na base, tinha grandes qualidades, mas não podíamos imaginar que ali estava um futuro Bola de Ouro. Para mim é um privilégio hoje poder dizer que estreei com ele.

Imagino que sejam boas lembranças daquele jogo no estádio do Dragão.
Evidentemente é um dia gravado na minha mente. Estrear no time principal, a primeira vez em um estádio tão grande... Nem todos conseguem estrear no time principal do Barcelona, eu me lembro de cada segundo.

Que outros jogadores do atual Barcelona estavam naquele time?
Havia Victor Valdés, Xavi, Iniesta, Puyol... Hoje restam poucos. Na época o time tinha muitos brasileiros, como Ronaldinho e Edmílson, e muitos holandeses.

Você teve lesões que impediram seu progresso no Barcelona.
Tive a má sorte de fraturar um dedo do pé. A princípio não era nada complicado e em três meses eu devia estar jogando. Decidiram me operar e colocar um parafuso no dedo. Parece que não foi o procedimento correto, a fratura não fechava, e em vez de três meses fiquei um ano e meio parado. Creio que tenha influenciado, mas assim é a vida, você não pode olhar para trás. Nunca se sabe o que teria acontecido se não tivesse me machucado.

Ouça a primeira parte da entrevista com Manel Expósito, do AucklandOuça a primeira parte da entrevista
E como apareceu a chance de jogar na Nova Zelândia?

A oportunidade veio com um convite do Ramón, que foi meu técnico na segunda divisão espanhola. Foi ele quem me procurou, me falou da possibilidade de cruzar o mundo e conhecer uma nova liga. Não pensei duas vezes. É claro que a possibilidade de jogar a Champions League da Oceania e chegar a um Mundial me interessou muito.

O que se pode dizer do futebol na Nova Zelândia? Como vive um jogador por aí? As pessoas te reconhecem?
É um pouco mais curioso, é diferente. Aqui o esporte-rei é o rugby, é como o futebol na Europa, na América do Sul. Vivem por isso. O futebol fica em segundo plano. Nosso clube é semiprofissional, alguns jogadores têm de trabalhar. A vida é muito tranquila. Não existe assédio de fãs ou coisas assim. Com relação ao futebol, nosso clube é um dos melhores da liga, que é muito mais física se comparada à da Espanha, por exemplo. Aos poucos, com os títulos que conseguimos, vamos representando a Oceania e a Nova Zelândia no Mundial e vamos crescendo. A Nova Zelândia foi à Copa do Mundo, saiu invicta. O futebol vai ganhando espaço, mas é muito difícil porque a cultura é do rugby.

Você pode dizer que já fez um gol em final de Champions.
Em duas! Nas duas finais que disputamos pude marcar. Para um atacante, é o melhor que pode acontecer. Marcar em uma decisão e levar seu time ao Mundial.

Ouça a segunda parte da entrevista com Manel Expósito, do AucklandOuça a segunda parte da entrevista
O que você pode dizer sobre o Corinthians, possível adversário em uma semifinal?

Temos de reconhecer que não pensamos no Corinthians, precisamos ser realistas. Nosso jogo é com o campeão da J-League, e se ganhamos ainda temos de enfrentar o Al Ahly, campeão africano. Mas acompanho o futebol mundial, sei que o Corinthians tem um grande time, joga no 4-2-3-1, tem grandes jogadores como Romarinho, Douglas e Emerson. São muito bons tecnicamente, como se define o futebol brasileiro. Vi alguns jogos, é um time rapidíssimo, e para ganhar a Libertadores precisa ser um timaço. Seria um sonho enfrentá-los, mas precisamos ser realistas e encarar jogo a jogo.

Em uma final entre Corinthians e Chelsea, vê boas chances para o time brasileiro?
Claro! O time brasileiro é um timaço, salvo surpresas fará a final com o Chelsea. O Chelsea não vive seu melhor momento e vejo no Corinthians a chance de fazer frente.

Há muito dinheiro em jogo. São 500 mil dólares a mais se ganham o primeiro jogo. Como é a divisão do dinheiro?
É um pouco estranha. A metade do prêmio vai para a liga da Nova Zelândia, e é dividida entre os outros clubes, para desenvolvimento do campeonato. A outra parte cabe ao clube, é dividida entre todos, incluindo os jogadores. Não sei exatamente como será repartido. mas naturalmente a parte é pequena porque há essa exigência de dividir com a liga.

Você acredita que o Mundial pode ser uma vitrine para que te vejam outros times?
Não tenho planos agora. Estou feliz no Auckland, é um clube muito familiar, onde nos tratam bem e tenho muitos amigos. Naturalmente, se você joga bem e recebe ofertas, tem de considerá-las. Também não estou fechado a nada, seja um retorno à Europa ou uma ida a outras partes do mundo. Mas estou mais centrado e quero pensar apenas no Auckland.

O Barcelona tem jogadores que saíram da base e retornaram para jogar no time principal, como Fàbregas, Piqué e Alba. Quando você saiu, pensou que poderia voltar um dia?
É muito complicado voltar. Uma vez que você sai, é difícil imaginar um retorno. No meu caso, tendo ficado um ano e meio parado, fica ainda mais complicado. Naturalmente você pensa nisso, mas quando eu saí só queria me sentir um jogador de novo, sem dores no pé, e desfrutar do futebol.

Você teve contato com as pessoas do Barcelona ano passado, no Mundial?
Infelizmente, fomos embora antes que eles chegassem, já que fomos eliminados no primeiro jogo.

Ouça a terceira parte da entrevista com Manel Expósito, do AucklandOuça a terceira parte da entrevista

Brasil, ame-o ou deixe-o

Sempre que ouço Rolling Stones, Led Zeppelin, The Doors ou Pink Floyd vem a minha mente a ideia de ter nascido há algumas décadas. Nasci em 1981, mas sempre me pego pensando em como seria se tivesse crescido nos anos 1960 e 70. Curtiria ao máximo a efervescência do rock and roll e viveria a rebeldia de então. Mas sou brasileiro, com muito orgulho, e sei que nesse período houve uma das mais cruéis ditaduras do mundo no nosso país. Rapidamente fico contente por ter ido ao show dos Stones em Copacabana, ao do Roger Waters no Morumbi e a um do que restou dos Doors em Jaguariúna. Ainda preciso escutar Kashmir ao vivo. Raul Seixas, infelizmente, nunca terei a chance.

Não vivi a ditadura no Brasil. Quando nasci, esta já estava no fim, e quando comecei a compreender o mundo nosso país já esboçava uma democracia. Já fui bem mais ligado em política, admito. Valorizo demais a manifestação livre de ideias e ideais, o livre pensamento, a possibilidade de viver como quiser. O livre-arbítrio.

No entanto, nesta quinta-feira, me senti em uma máquina do tempo, só que sem o velho e bom rock and roll. Ao acompanhar pela televisão a apresentação de Luiz Felipe Scolari como novo técnico da Seleção Brasileira e Carlos Alberto Parreira como Coordenador, não voltei aos anos 1990 e 2000, quando os citados conquistaram Copas com o Brasil. Voltei a um período que não vivi, os anos de chumbo, quando não era permitido discordar.

Ao ouvir o discurso nacionalista do presidente da CBF, José Maria Marin, senti os pelos dos meus braços se arrepiarem de horror. Foi uma sensação terrível. Olhei para o meu filho de oito meses e fiquei feliz por saber que, quando ele tiver a minha idade, os resquícios da ditadura brasileira não estarão mais no poder.

Prestem atenção, abaixo no vídeo, na escolha das palavras e na linguagem corporal.
Veja o momento em que o presidente da CBF se irrita com pergunta de jornalistas
O tom patriota, seguindo o velho estilo "Brasil, ame-o ou deixe-o", impregna o discurso. Torna todos que criticam a decisão pela demissão em "traidores da pátria". Quer impossibilitar a discordância de ideias diante do massacre popular. Não está conosco? Então é contra nós! Pensa diferente? Seu anti! Velha tática dos políticos da Aliança Renovadora Nacional, a ARENA, da qual Marin fazia parte. E muita gente ainda compra esse nacionalismo em pleno 2012. Isso não é torcer.

Marin iniciou sua carreira política nos anos 1960 como vereador em São Paulo pelo Partido de Representação Popular (PRP) - partido de extrema-direita, fundado por Plínio Salgado e inspirado em princípios fascistas. Anos depois, mudou-se para a ARENA junto com diversos companheiros e se elegeu deputado estadual em 1971, cargo que exerceu até 1979, quando se tornou vice-governador do estado, na chapa de Paulo Maluf.

Notabilizou-se por discursos inflamados contra a esquerda, à essa época já massacrada e perseguida pelos agentes do Deops, perto da Estação da Luz na capital paulista. Uma de suas falas mais notórias pode ser lida neste documento hospedado pelo UOL Esporte. Página 62, do Diário Oficial do Estado de 9 de outubro de 1975.

Em sessão com outra figura notória do esporte paulista, o falecido Wadih Helu, surgem contestações sobre o trabalho da TV Cultura, então com Vladimir Herzog como diretor de jornalismo, na cobertura de inaugurações da Sabesp em Capão Bonito. "Acusações" comunistas.

Após as críticas de Heluh, Marin pede a palavra e cobra do governo estadual providências sobre o jornalista que "vem verificando os fatos negativos, pois não se vê nada de positivo, apresenta apenas misérias, apresenta problemas, mas não apresenta soluções".

No final, bem eloquente pelas palavras aí descritas, Marin reforça que "é preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nesta Casa. Mas, principalmente, nos lares paulistanos". O fim dessa história todos já conhecem.

Divulgação
Não se pode divergir...
Não se pode divergir...