Não, um cotejo como o de domingo entre Flamengo e Palmeiras não pode ser definido como "apenas" um jogo de futebol. E sendo muito sincero, não me conformo quando alguém utiliza tal advérbio para definir o 11 contra 11. Confronto que tem entre aqueles que controlam e chutam a pelota a paixão das pessoas, o interesse, a dedicação, a emoção, a alegria, o sofrimento de quem ama um clube. Jogo de futebol nunca será "apenas" um jogo de futebol.

Jogo de futebol está mais para uma "guerra santa" que coloca em disputa muito mais do que os incapazes de amar uma camisa podem imaginar. O nosso esporte é, antes de tudo, paixão visceral, maluca, inconsciente, avassaladora, intensa. Uma sensação maravilhosa, verdadeira. É amor incondicional, puro, limpo, desinteressado. Nem todos entendem isso. Nem todos já sentiram isso.

Lamento por quem jamais teve o coração apertado enquanto a bola rola e acho graça quando se atrevem a analisar o que está acima de sua fria compreensão. Como se a relação torcedor-clube fosse algo parecido com o que acontece entre acionistas e uma empresa, políticos e um partido, um produto e seus consumidores. Não, o torcedor não consome o que é, em tese, melhor. Ele só quer consumir o motivo de sua paixão.

Há quem tire proveito dessa relação ilógica. Sim, existem aqueles que exploram a paixão aguda do torcedor por uma camisa. São os cretinos que vendem a ilusão. E quando iludem só o conseguem graças à cegueira provocada pelo amor do torcedor por seu time, paixão que leva ao otimismo demasiado, algo que beira, ou atinge, o desvairo. Então vêm a amargura, o sofrimento a angustia.

Sensações ruins, que machucam, ferem profundamente. Mas nunca a ponto de aniquilar o sentimento verdadeiro do torcedor pelo clube. Ele jamais mudará. Esse cara sequer cogitará tal possibilidade. Pessoas assim reagem de diferentes maneiras à dor profunda diante das grandes derrotas. Mas reagem, sempre. E continuarão apaixonadas pela mesma camisa, pelas mesmas cores, com a mesma fé. Talvez com fé ainda maior.

O dia da forra, da glória, da redenção, sempre existirá. Mesmo que demore, ele virá. E nisso que essa gente acredita. Gente como Diego, de "apenas" 9 anos e que na manhã de 19 de novembro de 2012, pouco mais de 12 horas após o segundo rebaixamento do Palmeiras à segunda divisão, jogava bola no parque exibindo, com orgulho, o fardamento palestrino. Perguntei à tia do menino o que o fez sair de casa vestindo a camisa verde. "Ele fez questão", respondeu. Parabenizei o garoto. Creio que ele não entendeu o porquê de meu entusiasmo. Um dia entenderá.

Danem-se os panacas que o ironizaram. Sua paixão, pura e desinteressada, é muito maior. O menino que não viu o rebaixamento de 2002, afinal, sequer havia nascido, já sabe muito bem que o uniforme do seu clube deve ser vestido em quaisquer cirscunstâncias. E jamais haverá jogo bonito de um Barcelona qualquer que o fará sentir algo diferente. Obrigado, Diego. Crianças como você jamais deixarão o futebol morrer. E boa sorte, Palmeiras.


Fotos de Mauro Cezar Pereira
Diego, torcedor do Palmeiras, 9 anos de idade...
Diego, torcedor do Palmeiras, 9 anos de idade, vestiu a...


...vestiu a camisa alviverde na manhã seguinte ao rebaixamento...
...camisa alviverde na manhã seguinte ao rebaixamento...


...pouco se importando com eventuais e prováveis gozações...
...pouco se importando com as prováveis gozações...


..de torcedores dos clubes rivais daquele que escolheu.
..de torcedores dos clubes rivais daquele que escolheu.


Lição de um menino para adultos que desejam abandonar o clube
Lição do menino para adultos que desejam abandonar o clube