Ao que parece, em meio à sua justificada alegria, o torcedor do Fluminense chega ao fim do ano com apenas uma preocupação: fica Abel ou sai Abel? Portanto, em situação bem mais confortável do que a de torcedores de outros clubes cariocas. Os do Flamengo, por exemplo, prevêem um 2013 nublado, independentemente de quem vença as próximas eleições. Os do Vasco rezam para que a crise atual não se estenda por mais tempo. E os do Botafogo torcem para que alguns reforços venham a tornar seu time mais competitivo. Ou, em outras palavras, menos irregular e mais confiável.

Nenhum desses problema ronda a sede da Rua Álvaro Chaves, motivo pelo qual o torcedor do Fluminense, sonhando em repetir ou mesmo superar o desempenho deste ano – acrescentando a Libertadores aos títulos de campeão carioca e campeão brasileiro – se preocupa em não mexer num time que está ganhando. O que inclui Abel Braga.

Num ponto, e apenas num ponto, a preocupação tricolor se justifica. Abel conseguiu fazer do elenco tricolor (estelar segundo alguns, apenas bom segundo outros) um grupo em todos os sentidos: harmonioso, unido, integrado, comprometido. É o seu grande mérito. Quem vê os reservas tricolores vibrando com os gols que os titulares marcam, ou quem viu o goleiro Ricardo Berna carregar Abel nos ombros, o Ricardo Berna que Abel barrou para que Diego Cavalieri subisse, entende o que eu falo. Reservas do Fluminense, em condições de serem titulares em outros times, aceitam o banco, com paciência, sem queixas, sem invejas, porque aceitá-lo significava ajudar o Fluminense a vencer. Penso ter sido esta a maior contribuição de Abel Braga ao sucesso tricolor. Se ele sair, que outro treinador terá a mesma habilidade? Quem, no atual futebol brasileiro, sabe tão bem fazer do elenco um time? Ou, para usar as palavras do próprio Abel, fazer do time “uma família”?

Já do Abel Braga técnico, tático, estratégico, o homem que move as peças no complicado xadrez do futebol, este talvez não seja perda tão séria nas ambições tricolores para 2013. O estilo que chamam de pragmático, ou cirúrgico, ou cauteloso, ou pouco corajoso, do treinador do tetra tricolor, não é motivo para maiores preocupações. O Abel que transformou o elenco numa família é insubstituível. O outro, nem tanto.