Que me desculpem os traidores, mas guardo ainda na memória um canto dos torcedores da Mancha Verde, nos anos 80. Gritavam assim, a cada derrota: "E perde uma, e perde mil, sou palmeirense até na... " Bem, não convém completar a frase.

Há vários tipos de palmeirenses. Os italianos, pernambucanos, os portugueses, alagoanos, gaúchos, paulistanos... Há os que se tornaram torcedores vencendo, os que se sentaram nas arquibancadas chorando. E há os que conviveram com as duas fases.

Os que cantavam perde uma, perde mil nos anos 80, também ganharam uma, ganharam mil, nos anos 90. E nunca, jamais vestiram uma camisa de outra cor.

Um dos riscos que o Palmeiras corre está estampado no texto de Clóvis Rossi na Folha de S. Paulo desta segunda-feira. 

Rossi é sempre genial. Mesmo quando não se concorda com o conteúdo de seu texto, como eu, no caso de hoje.
O risco estampado é o do futebol globalizado diminuir o tamanho dos clubes que não percebem a nova realidade. Não de um homem de 60 e poucos anos torcer pelo representante do futebol mais belo, mas o de garotos de 10, 12, 14 anos se apaixonarem à distância pelo Barça, Real Madrid, Milan, Manchester United em detrimento dos clubes brasileiros. Esse processo está em curso.

Exatamente por isso é que os clubes brasileiros em geral, e o Palmeiras em particular, precisa chamar para dentro de si as principais cabeças que possuem. Há anos, o Palmeiras é administrado dentro dos muros da rua Turiaçu. Algumas boas cabeças que não frequentam o clube passaram pela administração. Belluzzo foi presidente, Paulo Nobre foi vice. Os que raras vezes entram nos muros do clube costumam achar que lá dentro não há cabeças suficientes. Há.

Os italianos entendem o clube como um pedaço da Itália.
Os não italianos se incomodam algumas vezes com o excesso de referências ao país de origem.
Pois o Palmeiras tem uma saída. Uma só. Ser o clube de todos e de tudo. Ser administrado pela boas cabeças de dentro, chamar as melhores de fora, trazer 16 milhões de corações, os que foram felizes e os que sofreram na dor da derrota, os que aprenderam a ganhar e a perder, os que traíram e os que sempre foram absolutamente fieis -- sim, os palmeirenses também são assim.

Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na Série B ou na Libertadores.