segunda-feira, 19 de novembro de 2012

A vida segue


magino como o torcedor do Palmeiras tenha ido ontem pra cama, depois do empate com o Flamengo e dos demais resultados da rodada. Se é que dormiu, acordou com ressaca, ressabiado com outra etapa da longa agonia no Brasileiro. Provavelmente revoltado, sem disposição para conversa fiada. E com cara de poucos amigos. Muito justo. Mas, ao abrir os olhos nesta segunda-feira, constatou o óbvio: a vida segue, independentemente da divisão onde o time vai parar em 2013. Assim como não se altera o amor por ele.
O palestrino tem direito de curtir o momento de humilhação, de praguejar, de ruminar a mágoa. E sobretudo de chorar. Essas reações fazem parte do processo de perda, são necessárias para devolver-lhe o equilíbrio. É preciso expurgar a dor. Só quem torce da boca pra fora assumirá postura blasè, indiferente à sorte da equipe. Na verdade, nem podem ser considerados torcedores. No máximo, são simpatizantes. Nem falo dos que não ligam para o futebol. Ignoro-0s.
Superado o impacto inicial, hora de partir para a prática. A primeira sugestão que daria aos alviverdes seria a de que devam ir ao Pacaembu, no final de semana, para acompanhar o jogo com o Atlético-GO, no penúltimo ato desta tragédia esportiva. Lotar o estádio será prova de força, gesto de carinho e respeito pela tradição do clube, além de maneira lícita de pressão e de protesto.
Não contra os jogadores, a parte frágil do processo de esfacelamento. Mas contra os inábeis que levaram o Palmeiras, no giro de uma década, a nova incursão no purgatório da bola. Aqueles que ignoraram os sinais de decadência, que fizeram troça da possibilidade de rebaixamento, que trataram com desdém questões importantes - esses têm de suportar o ônus da culpa. Não podem esparramar desculpas sonsas, como se tem lido e ouvido nos últimos dias. Os incompetentes devem sair de cena, colocar pijama e pantufas e manter-se à distância. Será gesto de delicadeza com o clube.
A cobrança é direito do fã - e o dirigente tem consciência disso, não há como disfarçar. Mas cobrar significa agir com firmeza e, acima de tudo, com civilidade. A altivez do palmeirense deve manifestar-se em postura digna e implacavelmente elegante. Tenho certeza de que tal comportamento terá efeito mais devastador do que apelar para a grosseria. A violência é argumento de ignorantes, tolos e marginais - só incentiva reações conservadoras. E o Palmeiras necessita de renovação, de ousadia e de paz para tocar a reconstrução em 2013. Basta de mumificação de métodos e ideias.
O embotamento interno se estendeu para o campo. O Palmeiras que se apresentou em Volta Redonda esteve mais para catadão de fim de churrasco no sítio do que para time profissional com história rica. Ok, descontem-se os desfalques - se bem que, na verdade, fizeram falta mesmo Marcos Assunção e Henrique. Mas o futebol da turma de Gilson Kleina foi de uma pobreza franciscana. Um horror. De prever dificuldades na Segunda Divisão. A ruindade contaminou até Barcos.
O Palmeiras precisava vencer, a qualquer custo, e no primeiro tempo criou zero chance de gol. Isso mesmo: não teve uma oportunidade para marcar, para testar os reflexos de Paulo Vítor! Na etapa final, num dos dois únicos chutes certeiros, ficou em vantagem com Vinicius. O goleiro teve falha grotesca.
A incapacidade palmeirense foi maior do que a do Flamengo, indolente e limitado como poucas vezes se viu no Brasileiro. Maikon Leite teve nos pés o lance para definir o placar: sozinho, sem marcação na área, gol escancarado, Paulo Vítor apavorado e... mandou pra fora! O castigo veio no gol de Vagner Love, em cima da hora. E Love arrematou de jeito displicente, coerente com o desempenho dele até então. Como desgraça pouca é bobagem, a bola desviou na zaga e enganou Bruno. O ex-palmeirense ficou sem jeito para comemorar.
Cai o pano rapidamente.
Ganso de volta. Foi discreta a estreia de Paulo Henrique Ganso no São Paulo. O técnico Ney Franco o colocou no lugar de Jadson, aos 12 minutos do segundo tempo do duelo com o Náutico, mais para observá-lo e para dar satisfação ao público que ocupou o Morumbi. O meia movimentou-se ainda sem muita desenvoltura, à procura de um lugar no gramado e com evidente falta de ritmo e sintonia. Porém, em algumas jogadas revelou que não esqueceu a arte de tratar bem a bola. Reforço para 2013.