sábado, 1 de dezembro de 2012

Pés no chão*


eleve o ufanismo obsoleto de José Maria Marin, na apresentação da dupla Felipão-Parreira que terá a partir de agora a missão de preparar a seleção para a Copa de 2014. Ao se referir a “patriotas” e ao exortar o povo a ter sentimentos nacionalistas, sem se dar conta o presidente da CBF apenas fez uso dos recursos retóricos que marcaram a carreira política dele décadas atrás. Para quem já dobrou a esquina dos 50 anos de idade, é inevitável (embora não necessariamente correto) associar esse discurso ao período do “Brasil, ame-o ou deixe-o” do início da década de 1970. Isso dá até arrepios.
Ao mesmo tempo tome a fala como parâmetro do modo dele pensar e ficará fácil entender por que recorreu a dois experientes treinadores numa situação de emergência. Marin não quis arriscar nem se propôs a fazer voo cego. Nem de longe lhe passou pela cabeça um mergulho no desconhecido. Para tanto, lhe pareceu lógico e seguro apostar em gente com currículo importante na “amarelinha” para uma missão que tem de se mostrar vitoriosa em curto prazo.
A postura conservadora na escolha se revelou na abertura da cerimônia de ontem, no Rio, ao listar os motivos, frágeis, que o levaram a desconsiderar Tite, Abel, Muricy e Luxemburgo na corrida sucessória de cargo tão relevante. Ficou implícito que, na avaliação dele, o quarteto tinha qualidades como as de Mano e provavelmente os mesmos defeitos. O maior de todos: a falta de lastro na competição. E isso pesou demais em favor de Felipão e Parreira. Na cabeça do cartola, problema resolvido. Fim de papo.
Marin, portanto, não espera uma revolução na seleção. Revolução que, convenhamos, não estava em andamento na gestão Mano Menezes. O treinador anterior aplicava ao time conceitos que considera eficientes, sem nada de extraordinários. Desenvolvia um projeto comum, que poderia se mostrar correto e vencedor adiante. Não conseguiu completar o ciclo, ao contrário de Dunga ou da dobradinha que volta ao comando. Resta-lhe o consolo dessa dúvida.
Também não espero uma reviravolta na equipe, nem para a Copa das Confederações nem para o Mundial. Não vislumbro transformação profunda, pois botar tudo de ponta-cabeça contraria a índole de Felipão e Parreira, notoriamente dois treinadores pés no chão. Evidentemente ambos farão mudanças; caso contrário, seria tolice tê-los chamado. Mas elas virão sem atropelos.
A confirmação do retorno de Felipão, antecipada pelo companheiro Luiz Antônio Prósperi, provocou reações extremadas. Houve quem festejasse como a salvação da lavoura e a cura de todos os males, ou como conquista do hexa já garantida. Da mesma forma, não faltaram manifestações de desconfiança a respeito da capacidade dos novos parceiros na empreitada.
Não me agradam nem euforia nem preconceito. Felipão e Parreira não são paraquedistas na profissão, não surgiram do nada, não foram campeões por acaso. Têm estofo e rodagem. Da mesma forma que não são magos com fórmulas milagrosas. Registre-se, ainda, o fato de que Felipão vem de fase dúbia no Palmeiras (com elenco medíocre, ganhou a Copa do Brasil e afundou no Brasileiro) e Parreira não dirige times há tempos.
Como não são novatos, Felipão e Parreira jogarão com bom senso e inteligência. Por justiça, lhes deve ser concedido crédito. Daí, como se dizia no meu Bom Retiro velho de guerra, “é bola pra frente e seja o que Deus quiser”. Mas, por amor a Ele, sem volta aos tempos do “Brasil grande”.