segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Disco riscado

A moçada de hoje está acostumada com as maravilhas da tecnologia e ouve som impecável em aparelhinhos portentosos. Não sabe o que era curtir música em vinil - uma beleza, se não desse defeito. Disco riscado fazia a agulha emperrar, patinar, não sair do lugar. A canção ficava sempre na mesma frase. Um martírio, até vir alguém e mexer na vitrola. 

Pois o Palmeiras lembra os LPs do tempo da vovó - e não é de agora. Entra ano, sai ano, a ladainha permanece inalterada. O time não decola, os resultados decepcionam, a angústia não dá sossego aos fãs. Enfim, a melodia não flui, nesse disco cheio de falhas, com capa rota e que todo mundo pega de qualquer jeito, suja e deixa marcas das mãos.

Desta vez, a diferença está na falta de paciência. O palestrino não aguenta mais humilhação e resolveu espernear desde o primeiro vacilo. Na semana passada, na estreia no Paulista, surgiram vaias após o empate com o Bragantino, numa demonstração de tolerância zero, ou perto disso, com os erros. A bronca ficou maior, ontem, na derrota por 3 a 2 para o Penapolense, que jogou boa parte do segundo tempo com um a menos.

É impiedoso xingar este ou aquele jogador numa fase que, em circunstâncias normais, seria encarada apenas como uma pré-temporada, com as oscilações de praxe. Luan, por exemplo, virou o principal bode expiatório das seguidas frustrações verdes. Ouviu de tudo, na rodada inaugural, ficou no banco na segunda, e só entrou ontem quando a casa ruía. Ainda fez um gol e nem festejou. 

Mas, descontadas reações das organizadas, pois difícil saber as reais motivações delas, dá para entender o exagero do palmeirense com essas cobranças imediatas. Isso se chama desespero, medo de outra temporada desperdiçada, mais um ano de gozações. Então, a turma das arquibancadas parte logo para o ataque, para ver se os cartolas se coçam. 

A ansiedade é tão acentuada que a torcida se divide. Como no caso do Valdivia. O chileno também entrou na etapa final e, em certo momento, foi motivo para coro nada simpático de uma facção de seguidores. Imediatamente, outra parte o incentivou. Dava a sensação de que havia duas torcidas distintas no estádio municipal. Caramba, em vez de se unirem os alviverdes se apartam! 

A cisão é mais uma consequência do furacão que varreu o clube na história recente, outra herança maldita deixada por gente que demorou para pegar o boné e ir pra casa. O sentimento do palmeirista é contraditório: tenta imaginar dias melhores, com a ascensão ao poder de um presidente com discurso de verniz moderninho (se bem que já apelou para o "não vamos fazer loucuras"), mas se choca com a realidade.

E a prática escancarou um Palmeiras inseguro, com rombos em todos os setores. O gol de Ayrton, aos 7 minutos, passou a impressão de que seria um domingo de festa. Ilusão que se dissipou com o empate e a virada do Penapolense ainda na primeira parte. E com o time do interior a jogar como se fosse o mandante! Nem a expulsão de Jailton colaborou para amenizar o vexame do pessoal da casa.

Paulo Nobre, Brunoro e colaboradores terão de agir logo para não serem vistos como mais do mesmo. A intenção deles é bacana; a emergência, maior. O tempo que lhes sobrou para apresentar resultados é curto. Atletas já estão marcados, Gilson Kleina sentiu o desconforto de cobranças e o povo chia. A bomba relógio verde precisa ser desmontada. 

PS. Oração, lágrimas, tristeza. Pouco o que posso dedicar às famílias atingidas pela tragédia em Santa Maria.