quarta-feira, 18 de abril de 2012

Na justa e curta vitória do Bayern, Mourinho dá gasolina para os que querem vê-lo queimar

De José Mourinho, falarei a seguir. Antes, algumas opiniões curtinhas sobre o jogo.

Vitória merecida do Bayern de Munique. Foi melhor, mais corajoso, merecia sair de campo com a vitória. E saiu. Mas, como previsto em meu post anterior, foi uma vitória curta demais, que deixa poucas chances de classificação no Bernabéu.

O Bayern é forte, disso não há dúvida. Mas o Real Madrid não passa jogo sem marcar, então os alemães que se preparem para, em algum momento, irem à frente e ficarem expostos aos contra ataques. Insisto: Neuer será peça chave, terá de operar milagres em Madri. Creio que, com a derrota por 2 a 1, o Real Madrid tem algo entre 60 a 70% de chances de passar para a final. O gol fora de casa é fundamental.

Arbitragem. Realmente, não gosto de perder tempo com arbitragens salvo lances muito claros e aquela vontade que alguns árbitros têm de decidir partidas.

Não acredito em impedimento no primeiro gol do Bayern, não acredito em pênalti naquela falta cobrada por Cristiano Ronaldo. Creio que o árbitro foi condescendente com o Real Madrid nos cartões - poderia ter amarelado Coentrão no primeiro tempo, Arbeloa no segundo e poderia ter expulsado Marcelo no fim. Mas nenhum desses cartões pode ser visto como determinante no destino do jogo.

O grande erro de Howard Webb, na minha visão, foi não ter marcado pênalti em Mario Gómez aos 43 do segundo tempo. O lance foi confuso, foi difícil, mas para mim houve pênalti. Alguns minutos depois, justiça foi feita e o Bayern fechou a partida com 2 a 1 - possivelmente o mesmo placar que teria sido o final em caso de pênalti apitado.

Dito tudo isso, vamos a José Mourinho.

Eu gosto de Mourinho. Sempre gostei. Acompanhei muito de perto seu Porto campeão da Europa, os anos de Chelsea, de Inter e, agora, no Real. Quem diz que ele é um "retranqueiro" ou um "Celso Roth de terno" precisaria ver alguns VTs de seus times. Nem precisa ir muito longe, basta ver algumas partidas da atual liga espanhola. Talvez conversar com jogadores que passaram por suas mãos também ajudaria a iluminar algumas ideias.

O cara é o anti-Barça, o único capaz de desafiar, às vezes ganhar, o melhor time dos últimos sete anos, talvez da história. O Barça é ataque, fantasia, posse de bola, futebol bem jogado. É normal que fique no português a marca oposta a essas qualidades.

Ao mesmo tempo em que gosto de Mourinho, entendo a "bronca" que muitos têm. Sim, ele transmite arrogância. Quem já o encontrou pessoalmente diz e jura que não é assim, e conheço pessoas nas quais confio plenamente que o entrevistaram por horas, já o encontraram fora de salas de imprensa. Possivelmente, ele não seja um pessoa arrogante, um mau caráter. Porém, é essa a imagem que ele transmite. Para Mourinho, o jogo começa a ser vencido nas entrevistas, então ele usa essa arma, mesmo que em detrimento de sua imagem.

Eu gosto de Mourinho porque ele é uma pessoa pragmática no futebol - eu sou muito pragmático na vida, então tenho essa identificação. Para Mourinho, o futebol é uma ciência exata. É matemática.

Ele escalou mal o time em Munique?

Nunca saberemos. Kaká poderia ter jogado no lugar de Ozil e feito três gols. Mas poderia não ter feito nada. Marcelo poderia ter jogado no lugar de Coentrão e dado dois passes de gol. Ou poderia ter feito uma falta por trás em Robben e ter sido expulso com 10 minutos de jogo. Nunca saberemos.

A discussão é válida? Sim, é. Porque é a graça do futebol.

Eu, aqui, não discuto. Analiso. E é tão simples quanto isso: Marcelo segue sendo um jogador com problemas defensivos. Melhorou muito, demais mesmo, mas Mourinho não quis arriscar tê-lo marcando Robben. A maioria dos "brasileirinhos" que ficaram indignados com a reserva de Marcelo o fizeram porque são fãs do Marcelo-lateral-que-ataca-dá-assistência-e-faz-gol. E não se lembram da faceta defensiva da posição.

Foi boa a escolha de Coentrão? No papel, sim. Na teoria, sim. E é assim que Mourinho trabalha.

Na prática, não. Acabou sendo uma péssima escolha. Coentrão jogou mal e levou um baile de Robben mesmo em um dia em que Robben não jogou nada. Se Robben tivesse tido uma atuação 15% melhor, o Bayern chegaria à vitória mais ampla que precisava. Mourinho disse que Coentrão "cumpriu sua missão". Ele está errado? Não, não está. Ele entrou em campo para marcar Robben. O jogo acabou, e Robben não fez nada.

Eu diria que Coentrão "saiu de campo com a missão cumprida". Não foi ele quem cumpriu a missão, entendem? Porque ele foi mal. Mas a missão foi cumprida. É uma questão de semântica...

Pois bem. O primeiro tempo começa com o Real Madrid melhor e uma bela defesa de Neuer no chute de Benzema. Mas o gol do Bayern, em falha da defesa do Real na bola aérea, muda tudo. Kroos, Luiz Gustavo e Schweinsteiger foram superiores no meio de campo, e o Real não conseguia sair com a bola para alimentar Cristiano Ronaldo e Di María. Ozil foi se apagando, sumindo do jogo.

Não foram criadas grandes chances, mas a superiordade do Bayern em campo no primeiro tempo foi flagrante.

Eu acredito que a entrada de Kaká por Ozil era óbvia na partida. Mas aí Ozil empata o jogo. E é aqui, nesse momento da partida, quando Mourinho, tão matemático, tão pragmático, erra.

O Real Madrid era superior ao Bayern. O time de Munique sentiu o gol, sabia que a eliminatória estava comprometida após uma jogada besta, em que a defesa teve chances para eliminar a possibilidade de gol. O Bayern se abateu em campo.

Mas José Mourinho é um homem que entende o futebol como uma ciência exata.

E, para ele, o empate estava bom. A verdade é essa. 1 a 1 era um placar dos sonhos para o Real Madrid decidir em seu campo na volta. E, no momento em que o time tinha tudo para fazer com o Bayern o que faz domingo sim, domingo também, com os rivais da liga espanhola, Mourinho resolveu abdicar da vitória em nome do bom empate.

Marcelo no meio de campo é uma estratégia normal, já utilizada em muitos outros momentos. Mas teve conotação defensiva com sua entrada no lugar de Ozil. Se o jogo estivesse 1 a 0 para o Bayern, Kaká e Marcelo entrariam por Ozil e Coentrão. Com 1 a 1, foi Marcelo no lugar de Ozil, para fechar a linha no meio de campo. Logo depois, Granero por Di María, outro jogador tático, para proteger o meio.

Mourinho recuou seu time de tal forma que o Bayern de Munique passou, de novo, a dominar a partida. E fez o suficiente nos minutos finais para conseguir um pênalti (não marcado) e um gol, o gol da vitória.

Sim, ele vai apanhar, ser criticado, xingado. Mourinho vê o futebol de forma matemática. O problema, para os lados dele, é que pouquíssimos torcedores e formadores de opinião (possivelmente nenhum?) fazem o mesmo.

A matemática do jogo de terça deu errado para Mourinho. Mas, creio, a matemática da eliminatória vai dar certo.

Ao Bayern, aplausos. Dez jogos em Munique, nove vitórias e um empate contra o Real. É um desempenho impressionante. Mas os alemães terão de fazer um jogo heróico demais em Madri para voltarem à final em sua casa.

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