Gosto muito de basquete. Não, é claro, com o mesmo sentimento que tenho pelo futebol. Há toda uma questão cultural para explicar a diferença. A devoção do futebol independe do que acontece em campo: o jogo, o campeonato, os times podem ser ruins e, ainda assim, nos mantemos fiéis ao futebol. Já com o basquete (e outros esportes como o voleibol, o boxe, o tênis, a vela, para citar apenas quatro em que o Brasil chegou a se projetar mundialmente), o amor vai e vem conforme seus atletas brilhem ou façam feio.
O basquete já teve seus momentos entre nós. Menino ainda, vibrei ao acompanhar pelo rádio a conquista da medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Londres, os primeiros no pós-guerra. Alfredo da Mota, Algodão, Ruy de Freitas, Évora, Brás, viraram heróis tão cultuados quanto nossos craques do futebol. A história se repetiu em 1959 e 1963 com o bicampeonato mundial, a geração de Wlamir Marques, Rosa Branca, Amaury, Ubiratan, reacendendo a chama do basquete no torcedor do futebeol. Mas, talvez por estar lá, em Indianapolis, no dia em que os brasileiros derrotaram os "imbatíveis" americanos na final dos Jogos Pan-Americanos de 1987, aquela vez o basquete me pegou.
Peço desculpas por omitir os nomes dos demais campeões para me fixar somente num, Oscar Schmidt, que literalmente conquistou a América. Lembro-me de sua foto no "New York Times" do dia seguinte, o jornal lamentando que tal jogador não estivesse nas quadras dos Estados Unidos na próxima temporada da NBA. Oscar queria continuar jogando no Brasil.
É por isso que lamento ver o mesmo Oscar confundindo as coisas e se voltando furiosamente contra Nenê e outros brasileiros que, atuando na NBA, andaram se recusando a defender a seleção brasileira. Entendo a vaia da torcida, gente apaixonada pelo basquete que, inspirada na vociferação de Oscar, castigou duramente Nenê em sua exbição no Rio. O torcedor, como se disse, é movido a paixão, daí ter o direito de confundir as coisas e embarcar em canoas furadas. Mas... Oscar? Distinguido há pouco com honrarias no Hall of Fame. Realmente misturou tudo e escorregou no exagero. Seria mais elegante, inteligente e à altura de sua grandeza se agisse de outra forma. Como? Considerando:
Primeiro: que todo atleta deve ter o direito de querer ou não competir pela representação de seu país, sobretudo se isso o prejudicar em seus compromissos profissionais. Craque, da NBA ou do futebol, vive do esporte, e não de arrebatamento cívicos.
Segundo: que jogar por uma seleção, de basquete ou de futebol, é uma oportunidade para defender a representação do país "neste esporte". Não confudir isso com "defender a Pátria".
Terceiro: que, estou sabendo, Nenê enfrentou problemas de saúde nos Estados Unidos. E que lá ele se tratou. Não me consta que nossa seleçao de basquete ou a Pátria tenha algo a ver com isso.
Quarto e último: que, se o basquete brasileiro não vai bem, procure-se saber por quê. É no mínimo injusto que Oscar ou quem quer que seja culpe Nenê e outros brasileiros da NBA pela falta de pontaria.