domingo, 20 de abril de 2014

A ficha caiu no ar: Luciano do Valle foi a voz do esporte na minha vida

Reprodução TV
Luciano do Valle
Luciano do Valle em ação: a voz do esporte no Brasil.
Foi tudo muito rápido e estranho: na redação da ESPN Brasil, assistindo ao jogo Vasco x América-MG, estreia na Série B, ao lado de dois narradores: Eduardo Monsanto e Everaldo Marques. Ouvindo Silvio Luiz e Juarez Soares na Rede TV.
Impossível não viajar no tempo. Inevitável lembrar de Luciano do Valle. "Show do Esporte", o domingo dos sonhos para quem amava esportes em tempos de TV aberta e olhe lá.
Enquanto falávamos, surge Eduardo Tironi como uma bala, já com celular no ouvido ligando sei lá pra quem: "Morreu mesmo?" Ele devia imaginar que estávamos falando do narrador já sabendo do ocorrido. Só aumentou o choque.
Não houve tempo para assimilar o golpe e refletir sobre a perda. Também não o conhecia pessoalmente como outros colegas. Em minutos, entraríamos no ar para o primeira edição do Bate-Bola. Alguns comentários no camarim, nos corredores...Mas sem dimensionar quem estava partindo.
Programa no ar e o resgate da apresentação do jornalista quando convidado para o programa "Bola da Vez". Gol de Falcão contra a Itália em 1982, Maguila, Rui Chapéu, Seleção de Masters, vôlei no Maracanã em 1983, Emerson Fittipaldi, tetra em 1994...A ficha foi caindo. Ainda lembrei de Oscar no Pan de 1987 em Indianápolis, Paula e Hortência, tantos outros gols, vitórias, derrotas. Quando a voz que mais me fez chorar por esportes grita e arrepia: "Não há palavras para descrever o gol de Zico!"
Eu não estava mais em um estúdio. Não era mais possível ouvir o Dudu ou o Tironi. O filme da minha vida passou em segundos. Onde estava em cada uma daquelas transmissões. Aos 9 anos, como em 1982. Aos 16, 21, 33...Principalmente, com quem estava. Muitos que não posso mais abraçar, beijar...nem lamentar a ausência de alguém tão presente no nosso cotidiano daquela época.
Quando ganhei a chance de falar, a voz que sobrava em Luciano me faltou. Saiu rouca, definhando. Talvez apenas transbordando o sentimento pela garganta. Não chorei no ar, pedi para "seguir o jogo" antes.
Ao vivo, a ficha enfim caíra: Assim como temos uma banda ou intérprete que cantou ou canta a nossa trilha sonora, há também uma voz na vida de quem ama esportes. 
Na minha, essa voz era do Luciano do Valle. Ou é. Forte, marcante, comovente. Vai ecoar para sempre. Vá em paz!