quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Três anos em um: Brasil de Felipão não deveria, mas já está pronto para a Copa

Luiz Felipe Scolari reestreou na seleção brasileira em 6 de fevereiro. Derrota em Wembley para a Inglaterra por 2 a 1. Rascunho com Paulinho e Ramires como volantes, Oscar perdido à direita, Ronaldinho letárgico na ligação e perdendo pênalti, Neymar intimidado e Luis Fabiano sumido na frente.
Apesar da base e de algumas ideias, o legado de Mano Menezes não era um porto seguro. Até porque a ordem da CBF de José Maria Marín era mudar radicalmente.
Olho Tático
Na reestreia, um rascunho de time com Ronaldinho letárgico, Oscar perdido à direita e Neymar ainda intimidado.
Na reestreia, um rascunho de time com Ronaldinho letárgico, Oscar perdido à direita e Neymar ainda intimidado.
Felipão tentou iniciar a reformulação recuperando Ronaldinho Gaúcho. Sem sucesso. Até o início da preparação para a Copa das Confederações, cinco partidas. Uma derrota, três empates. Uma única vitória: 4 a 0 sobre a Bolívia e contando apenas com jogadores atuando no Brasil.
Ideia de time? Apenas um esboço, do primeiro tempo nos 2 a 2 contra a Itália. Duas linhas de quatro, Neymar circulando com liberdade atrás de Fred. Scolari guardou esta informação. Na lista para a primeira competição oficial, a ausência de Kaká e Ronaldinho deixava claro: o técnico apostava na Joia santista que rumava para Barcelona como protagonista.
Olho Tático
A primeira ideia de time de Scolari: duas linhas de quatro, Neymar com liberdade para se aproximar de Fred.
A primeira ideia de time de Scolari nos 2 a 2 contra a Itália: duas linhas de quatro, Neymar com liberdade para se aproximar de Fred.
No amistoso contra a Inglaterra no Maracanã, a confirmação: o então camisa onze ganhou a dez. Do craque do time. Ainda tímido, não desequilibrou sequer nos 3 a 0 sobre a França em Porto Alegre. Valeu como o primeiro triunfo sobre uma grande seleção para recuperar a confiança.
Na Copa das Confederações, a definição da estratégia, da tática e do espírito. Em todos os jogos, eletricidade na execução do hino nacional, emendado com uma pressão sufocante no campo adversário para conseguir um gol rápido. Ao detectar a dificuldade para criar espaços trabalhando a bola e propondo o jogo, como pedia Mano, Felipão apostou em um estilo vertical e contundente.
Objetivo: abrir o placar e, sem retranca adversária e em comunhão com a torcida, jogar mais tranquilo para acelerar a transição ofensiva e buscar mais gols.
Taticamente, a base se solidificou num 4-2-3-1 com Luiz Gustavo mais plantado auxiliando Thiago Silva e David Luiz e liberando os laterais Daniel Alves e Marcelo. Também Paulinho, que se aproximava do quarteto ofensivo: Hulk e Neymar pelos lados, Oscar no centro e Fred na frente. Time que procura os flancos e abusa das ligações diretas dos zagueiros acionando os laterais avançados ou os ponteiros.
Olho Tático
A base campeã da Copa das Confederações: 4-2-3-1 com execução vertical e intensa, Neymar desequlibrando.
A base campeã da Copa das Confederações: 4-2-3-1 com execução vertical e intensa, Neymar desequlibrando.
As variações: de novo as duas linhas de quatro com Oscar e Hulk pelos lados e Neymar solto na ligação. Com a entrada de Hernanes, um 4-3-3/4-1-4-1 com Luiz Gustavo fixo, Paulinho e Hernanes alinhados, Hulk e Neymar nas pontas e Fred centralizado.
Olho Tático
A variação para o 4-3-3/4-1-4-1 com Hernanes na vaga de Oscar, alinhado a Paulinho e à frente de Luiz Gustavo.
A variação para o 4-3-3/4-1-4-1 com Hernanes na vaga de Oscar, alinhado a Paulinho e à frente de Luiz Gustavo.
Resultado: cinco vitórias, 14 gols marcados, apenas três sofridos. Cereja do bolo: atuação que tangenciou a perfeição nos 3 a 0 sobre a Espanha campeã mundial e bi da Europa no Maracanã. Sofrimento só na semifinal diante do Uruguai, que reforçou a única ressalva a esta seleção: se o rival souber se fechar e o gol não sair cedo, há sofrimento. Mas a vitória suada por 2 a 1 reforçou o grupo.
Base definida, Felipão e Parreira sintonizados, bom ambiente entre jogadores e comissão técnica, proposta de jogo assimilada, confiança readquirida com o título, Neymar afirmado como protagonista e craque do torneio.
A derrota para a Suíça pode ser descartada, com a grande maioria voltando de férias na temporada europeia. Na sequência, seis vitórias. Vinte gols marcados e apenas dois sofridos. Mais que isso, a oportunidade de fazer testes e acelerar ainda mais a definição do grupo.
Felipão resgatou Maicon, Ramires e agora Robinho, autor do gol da vitória sobre o Chile por 2 a 1 em Toronto. Lucas Leiva também voltou a ser chamado. O Moura perdeu espaço. Maxwell se afirmou como opção para a lateral-esquerda.
E surge mais uma possibilidade: ataque com Robinho e Neymar soltos, sem referência, promovendo intensa movimentação. Ideia do final da "Era Mano" e uma opção viável se Fred não se recuperar fisicamente e Jô seguir sem comprometer, mas com baixa produtividade como pivô e artilheiro.
Olho Tático
Com Robinho, a possibilidade de um ataque leve, sem referência na frente.
Com Robinho, a possibilidade de um ataque leve, sem referência na frente.
20 de novembro. 287 dias depois, Luiz Felipe Scolari pode olhar ao redor e pensar: "Está tudo pronto!" Mas também questionar: "Já?" Se Robinho convenceu e ganhou a vaga na frente, basicamente falta definir o terceiro goleiro (Victor ou Cavalieri?) e a quarta opção para a zaga (Marquinhos, Dedé, Rever ou Henrique?). Pequenos detalhes.
Mowa
O técnico Felipão durante o confronto entre Brasil e Honduras
Felipão aproveitou base de Mano Menezes e formou grupo em um ano.
O que fazer até junho de 2014? Uma boa sugestão é fingir que há dúvidas e esconder as muitas certezas para evitar uma possível acomodação. "Virar o fio" é tudo que a seleção brasileira não precisa.
Acima de tudo, refutar o favoritismo que a cada partida parece maior. Espanha, Alemanha, Itália e Holanda estão no mesmo nível. Argentina e Portugal contam com Messi e Cristiano Ronaldo. Aparente equilíbrio no cenário mundial.
A Copa das Confederações, porém, mostrou que o contexto pode favorecer muito os donos da casa. A combinação calor e umidade + catarse no hino e força da torcida + intensidade e confiança + talento de Neymar para desequilibrar é muito difícil de ser superada. Fora o carisma do treinador que parece ter nascido para comandar seleções, em especial a brasileira.

Na prática, construiu o trabalho de três anos em um. José Maria Marín mirou na lua quando decidiu recomeçar quase do zero há um ano e meio da Copa. Mas acertou no alvo.
É inegável: o Brasil é o grande candidato ao título. Hoje, só uma zebra ou performances estupendas dos gênios Messi e Cristiano Ronaldo, disparados os melhores do planeta, podem fazer frente ao anfitrião.
A má notícia é que o Mundial não começa em janeiro.