sábado, 12 de outubro de 2013

Nem máquina, nem fogo de palha. Bélgica que vem ao Brasil é time forte, mas com fragilidades

A Dinamarca chegou ao México em 1986 para a disputa da Copa do Mundo com status de favorita. O 3-5-2 de Sepp Piontek era revolucionário e a campanha fantástica na primeira fase, liderando o grupo que tinha Escócia e os campeões mundiais Uruguai e Alemanha aumentaram o "hype" que morreu nos pés de Emilio Butragueño e seus quatro gols nas oitavas-de-final.
A Espanha dos 5 a 1 sobre a "Dinamáquina" de Laudrup, Morten Olsen e Elkjaer passou a ser tratada como potencial candidata ao título. Mas acabou eliminada nos pênaltis...pela Bélgica de Pfaff, Gerets, Scifo e Ceulemans, que só parou em Maradona e na campeã Argentina na semifinal.
Agora é a Bélgica, "zebra" há 27 anos, que desperta admiração e previsões otimistas. A geração de Hazard, Fellaini, Vertonghen, De Bruyne, Witsel e Lukaku, a mais talentosa e promissora desde a quarta colocada no México, vem ao Brasil em busca de afirmação.
O time que venceu a Croácia de Modric e Mandzukic fora de casa por 2 a 1 e garantiu a classificação diretamente para a Copa do Mundo, que não disputa desde a polêmica eliminação para a seleção de Felipão nas oitavas-de-final em 2002, é forte e competitivo.
O desenho tático do técnico Marc Wilmots é bem definido: 4-1-4-1 que abriga De Bruyne, Fellaini, Defour e Hazard atrás de Lukaku e à frente de Witsel, o volante que protege a última linha defensiva. Os setores são compactos e a transição ofensiva é rápida.
Olho Tático
O 4-1-4-1 da Bélgica com Witsel entre as linhas de quatro e Lukaku à frente: time que compacta os setores e acelera a transição ofensiva.
O 4-1-4-1 da Bélgica com Witsel entre as linhas de quatro e Lukaku à frente: time que compacta os setores e acelera a transição ofensiva.
Os Diabos Vermelhos trocam passes com técnica, mas sabem jogar em contragolpes com lançamentos longos procurando Lukaku. Os laterais Alderweireld e Vertonghen apoiam alternadamente. Pela direita, as combinações com De Bruyne são mais verticais em busca da linha de fundo. À esquerda, Hazard corta para dentro e abre o corredor.
Truemedia
Contra a Croácia, a Bélgica foi mais efetiva no ataque pela direita.
Contra a Croácia, a Bélgica foi mais efetiva no ataque pela direita.
Fellaini brilhava no Everton jogando como o meia atacante que se aproxima do centroavante no 4-4-1-1. Agora, na seleção e no Manchester United, trabalha mais atrás e aparece na frente como elemento surpresa. O rendimento não é o mesmo, mas o camisa oito preenche a meia direita com qualidade e imposição física.
Truemedia
Fellaini trabalhou entre as intermediárias priorizando o lado direito e aparecendo na frente.
Fellaini trabalhou entre as intermediárias priorizando o lado direito e aparecendo mais eventualmente  na frente.
A vitória com dois gols de Lukaku é demonstração de força. O grupo é versátil e homogêneo. No banco estavam Mignolet, Vermaelen, Chadli, Mirallas, Mertens e Dembele. Kompany e Benteke ficaram de fora. Opções para mudar peças e ritmo não faltam.
Não por acaso a invencibilidade desde novembro do ano passado. Oficialmente o último revés foi em 2011. Por isso o salto de 28º para sexto no ranking da FIFA.
Reuters
Lukaku comemora gol para a Bélgica contra a Croácia
Lukaku comemora gol para a Bélgica contra a Croácia.
Mas nem só de boas notícias e perspectivas vive o escrete belga. Apesar dos setores próximos, o sistema defensivo não é sólido e faz o goleiro Courtois trabalhar. Van Buyten é experiente, mas lento e frágil. O time permitiu 14 finalizações dos croatas, mas apenas seis foram na direção da meta - inclusive o de Kranjcar que foi às redes.
Mesmo com ótimos nomes, falta O craque capaz de assumir a responsabilidade de decidir. O grupo não tem cancha internacional em altíssimo nível. O revés nas eliminatórias da Eurocopa 2012 também desperta uma desconfiança natural. E tanta badalação fará o time ser estudado à exaustão. Virtudes e defeitos.
Impossível prever a reação desta geração belga quando os hinos nacionais tocarem em uma arena brasileira e os meninos forem separados dos homens num confronto eliminatório. Na fase de grupos, ser cabeça de chave pode ser vantajoso. Se o sorteio foi generoso é a chance de ganhar confiança.
A vaga no Mundial teve a devida celebração. É a chance de ganhar experiência e dimensionar as próprias forças. Se repetir o desempenho da geração 1982/86 já será positivo.
A Bélgica não é máquina nem fogo de palha. Apenas uma boa seleção que tem tudo para subir o nível técnico de uma Copa que aumenta a expectativa a cada país confirmado.