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No dia 19 de setembro de 1993, Romário fazia sua estreia nas Eliminatórias sul-americanas. O melhor atacante brasileiro, em plena forma no Barcelona, não vinha sendo convocado por ter criticado publicamente a comissão técnica liderada por Parreira e Zagallo. No ano anterior, em um amistoso contra a Alemanha, ao perceber que ficaria na reserva de Careca, foi taxativo: "Não vim para ser reserva".Voltou porque não era um jogo qualquer. Maracanã, duelo contra o Uruguai de Enzo Francescoli e Rubén Sosa valendo vaga para a Copa no grupo que ainda tinha Bolívia, Equador e Venezuela. Com Muller lesionado e o imenso clamor popular, não havia como descartá-lo. E Romário chegou assumindo a responsabilidade de colocar o Brasil no Mundial dos Estados Unidos.
Dispensável quantificar a melhora técnica do ataque brasileiro com a presença do Baixinho. Mas a entrada do "gênio da grande área", definição de Johan Cruyff, treinador do Barcelona à época, também preencheu uma lacuna daquela seleção.
Até então, a equipe de Parreira atuava no 4-2-2-2 tipicamente brasileiro, muito comum naquele período. Na frente, Bebeto e Muller formavam dupla sem referência. Embora o camisa sete fosse o artilheiro das Eliminatórias com cinco gols, não se sentia confortável no papel de algo mais próximo da função de centroavante, já que Muller atuava pelos flancos, principalmente à esquerda.
Além disso, Raí, que seria o camisa dez a encostar no ataque, atuava muito aberto pela direita, fazendo dupla com Jorginho e só aparecia na área quando Bebeto abria espaços. Como o baiano precisava ficar na área, o craque do São Paulo bi da Libertadores e campeão mundial pouco aparecia.
Olho Tático
Com Romário, tudo se encaixou. Raí e Bebeto se alternavam no suporte a Jorginho, Zinho ajudava Branco pela esquerda e o camisa onze rondava a área adversária esperando o momento de arrancar e finalizar ou completar as jogadas com a elegância e o minimalismo costumeiros.
E o Maracanã viveu uma tarde memorável, com estádio lotado, a melhor atuação coletiva daquela seleção, incluindo o Mundial do ano seguinte, e a grande atuação individual de um jogador vestindo a camisa amarela nos últimos 20 anos, pelo menos.
Olho Tático
Dois belos gols no segundo tempo e um repertório de dribles e jogadas de efeito para guardar nas retinas - este que escreve estava lá, nas arquibancadas ovacionando o melhor atacante que viu jogar.
Repetindo o espetáculo de quatro anos antes, na Copa América de 1989. Outra decisão contra o mesmo Uruguai também no Maracanã. Gol de Romário. Em uma seleção que tinha desenho tático diferente, jogava no sistema com três zagueiros de Sebastião Lazaroni, mas proposta de jogo bastante parecida com a do time que ganharia o quarto título mundial do Brasil.
Defesa sólida, toque de bola paciente, muitas jogadas pelos flancos com meias, alas e Bebeto criando para Romário concluir. Em comum, nada menos que sete jogadores: Taffarel, Ricardo Gomes, Branco, Dunga, Bebeto, Romário e Mazinho, este o ala em 1989 que virou meia cinco anos depois pelo fim da paciência de Parreira com Raí.
Olho Tático
Time que não se repetiria no Mundial da Itália no ano seguinte pela lesão de Romário, que foi no sacrifício e viu Careca ser titular no fracasso brasileiro, eliminado nas oitavas-de-final para Argentina de Maradona e Caniggia.
Tudo mudaria em 1994. História escrita pelos gols, mas também pela importância tática do craque que só tinha uma função, a essencial do futebol: ir às redes. E ninguém fez isso tão bem quanto Romário de Souza Farias, o herói brasileiro daquela tarde quente de setembro de 1993.