sábado, 31 de agosto de 2013

As histórias e nuances do jogaço em Praga. Que venham mais Bayern x Chelsea

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Mourinho treina o Chelsea na Supercopa; ao fundo, o rival Guardiola, do Bayern
Mourinho orienta o Chelsea na Supercopa; ao fundo, o rival Guardiola.
Quando José Mourinho foi anunciado no Chelsea, a expectativa pelo reencontro com Pep Guardiola, agora pelo Bayern de Munique, na Supercopa da Europa aumentou exponencialmente. O que seria uma mera disputa de um torneio menor, quase periférico, virou um tira-teima, rescaldo dos duelos Barcelona x Real Madrid saturados de rivalidade que pararam o mundo de 2010 a 2012.
E o jogo não decepcionou. Bom futebol, personagens, emoção até Neuer defender o pênalti de Lukaku e dar o título aos bávaros. Também muitas variações e nuances táticas que valem a análise detalhada:
- Estrategicamente, nenhum segredo: time de Guardiola com linhas adiantadas e controle da posse de bola; equipe de Mourinho compacta, alternando marcação avançada e na própria intermediária e partindo para a transição rápida explorando os espaços às costas da defesa do rival;
- Sem Schweinsteiger, Guardiola novamente deslocou Lahm para o meio-campo e lançou Rafinha pela direita. Deixar Javi Martínez no banco e armar um tripé com Toni Kroos plantado, Lahm à direita e Muller pela esquerda foi opção mais que questionável na montagem do 4-3-3/4-1-4-1. Por tirar um dos melhores laterais do planeta do seu setor e renegar à articulação um típico meia-atacante vertical e artilheiro que nunca foi nem será um organizador;
- Mourinho optou pelo alemão Schurrle à direita na linha de três meias no 4-2-3-1. Se o plano era dar profundidade às costas de Alaba, funcionou na jogada iniciada por Hazard cortando da esquerda para dentro e finalizada por Torres dentro da área;
- O gol dos Blues reforçou a proposta de jogo. Nos contragolpes, o perigo rondava mais a meta de Neuer que a de Cech. Apesar dos 62% de posse do Bayern que só eram efetivos quando a bola chegava a Ribéry. Com liberdade de movimentação, o melhor jogador da temporada europeia de 2012/13 assumiu a responsabilidade no time um tanto descoordenado e criou as melhores jogadas no primeiro tempo. Sem contar as três finalizações perigosas, uma defendida pelo goleiro tcheco;
Olho Tático
O trio Kroos-Lahm-Muller no meio-campo foi o ponto fraco do 4-3-3/4-1-4-1 do Bayern; Schurrle deu profundidade à direita no 4-2-3-1 do Chelsea.
O trio Kroos-Lahm-Muller no meio-campo foi o ponto fraco do 4-3-3/4-1-4-1 do Bayern; Schurrle deu profundidade à direita no 4-2-3-1 do Chelsea.
- No quarto chute de Ribéry, o empate no início da segunda etapa. Com a entrada de Javi Martínez na vaga de Rafinha, Guardiola rearrumou o time que avançava, trocava passes e passou a atuar no 4-2-3-1 com Mario Gotze no lugar de Muller. Mas foi o Chelsea que teve as melhores oportunidades, com Oscar - após falha grotesca de Dante, que se atrapalhou e Schurrle serviu para o chute fraco do brasileiro - e Ivanovic, que cabeceou no travessão;
- Mourinho só mexeu por necessidade. Com a expulsão de Ramires, que fez falta duríssima em Gotze, trocou Schurrle por Mikel. Oscar abriu à direita no básico 4-4-1 que conseguiu conter o volume de jogo do time alemão nos últimos minutos do tempo normal;
Olho Tático
Com a expulsão de Ramires, Chelsea se repaginou no 4-4-1; Bayern atacou no 4-2-3-1 com o meio repaginado após as entradas de Martínez e Gotze.
Com a expulsão de Ramires, Chelsea se repaginou no 4-4-1; Bayern atacou no 4-2-3-1 com o meio repaginado após as entradas de Martínez e Gotze.
- Fez ainda mais no início da prorrogação. David Luiz, um dos melhores em campo, iniciou o contragolpe que Hazard completou com perfeição após limpar Lahm e Boateng. Guardiola trocou Robben por Shaqiri. Mourinho respondeu com Lukaku na vaga de Torres;
- Apesar da entrada do suíço baixinho e técnico, o Bayern instintivamente renegou a filosofia de seu treinador e passou a despejar bolas na área rival, com todo time na frente e Neuer de "líbero" na intermediária. Mourinho apelou para uma espécie de 5-4-0 com Terry no lugar de Hazard para aumentar a estatura da retaguarda. O técnico polêmico, mas carismático, comandou até a própria torcida e ficou bem perto da conquista;
Olho Tático
No final da prorrogação, Chelsea entrincheirado na própria área e Bayern atacando em massa com bolas levantadas na área até empatar.
No final da prorrogação, Chelsea entrincheirado na própria área e Bayern atacando em massa com bolas levantadas na área até empatar.
- No "abafa", Cech conseguiu evitar quatro vezes o empate. Da cabeçada de Mandzukic a novo petardo de Ribéry. Mas na última bola levantada na área, a 37ª finalização do Bayern em pouco mais de 120 minutos foi às redes. Com Javi Martínez, desprezado por Guardiola exatamente por ser mais alto que a média desejada pelo técnico para jogadores de meio-campo. Ainda há tempo para rever conceitos.
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Ribéry ergue a taça de campeão do Bayern de Munique
Ribéry ergue a taça de campeão da Recopa para o Bayern de Munique.
Nos pênaltis, cobranças precisas, de manual, até Lukaku falhar. O Bayern não trocaria a Recopa pela Liga dos Campeões 2011/12 perdida nos penais para o time de Londres. Mas valeu o troco na mesma moeda. Já Mourinho não conseguiu melhorar o retrospecto contra Guardiola. O empate no tempo normal e prorrogação foi o sexto, com sete vitórias do espanhol (ou catalão) e três do luso.
O jogaço repleto de histórias e alternâncias só aumenta a torcida para que Chelsea e Bayern - ou Mourinho e Guardiola, se preferir - voltem a se encontrar no mata-mata da Champions League. Que assim seja.