Eu sei que já passou - e que tudo que a brava torcida santista tem a fazer é esquecer - mas a dolorosa goleada sofrida pelo Santos no Camp Nou não me sai da cabeça. Nem a boa e motivadora última rodada do Campeonato Brasileiro afastou meu pensamento do que aconteceu no jogo que marcou a estreia de Neymar em seu novo clube.
No começo do ano passado, depois de o Santos ser derrotado pelo mesmo Barcelona, por metade da arrasadora diferença de gols, um intelectual que propõe um "ensaísmo de fundo" para compreender o futebol brasileiro, escreveu, escreveu, escreveu, gastou argumentos inteligentíssimos para explicar a derrota e chegou a esta acaciana conclusão: "... alguma coisa estranha está acontecendo ao futebol brasileiro".
Imagine o que diria agora, quando aqueles 4 a 0 multiplicaram por dois o fracasso santista diante de Messi e companhia. Bota estranho nisso. A verdade é que, se algo de bom pode se tirar do terremoto que abalou o Santos, é que, definitivamente, o futebol brasileiro já não é o mesmo. Há muito tempo. E não há nada de estranho nisso. Custamos a admitir, mas o futebol vive de fases. Uma mais longas que as outras, mas fases. Houve a época do Wunderteam austríaco, da Itália de Giuseppe Meazza, da Argentina dos anos 40, da Hungria de Ferenc Puskas, da Holanda de Johann Cruyff e assim por diante. O Barcelona é a bola da vez. Sorte a do Brasil que sua fase tenha durado mais de um quarto de século. Torçamos para que volte.
O algo de bom na derrota do Santos é que, aos mais atentos, ela diminui um pouco a euforia que nos tomou com a recente, e muito justa, vitória na Copa Confederações. Bastou aquela final com a Espanha para gritarmos que "o campeão voltou". Competiçãozinha enganadora, esta tal de Copa das Confederações. O Brasil ganhou duas e fracassou nas Copas de Mundo seguintes. Como será daqui a onze meses? Continuo pensando no Santos, certo de que nada de estranho acontece num futebol cuja melhor fase já ficou para trás.