quinta-feira, 10 de maio de 2012

Conheça o campeonato que é a maior bagunça do futebol brasileiro

O jornalista Matheus Mandy, do site www.guiafut.com, desde 2004 acompanha como poucos, ou como ninguém, as divisões além da chamada elite do futebol do Estado do Rio de Janeiro, onde de tudo está acontecendo. No texto abaixo ele resume a comédia de erros.

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Era 16 de Novembro de 2011 e os 22 clubes da Série B do Carioca estiveram reunidos para a reunião do Conselho Arbitral da competição na sede da entidade. De todos, apenas o CFZ - clube gerenciado por Zico -, desistiu e assim, foi rebaixado para a Série C 2013.

Os demais 21 foram separados em dois grupos, um com 11 times e outro com 10. Na última semana de janeiro, o Teresópolis encaminhou à Federação (Ferj), o seu pedido de desistência. Mesmo assim, a entidade obrigou os rivais do time teresopolitano a irem aos locais designados para as partidas e vencerem por WO. Ordem mantida mesmo com todos já cientes de que não haveria jogo. Uma despesa desnecessária. Somente quando o clube perdeu três partidas por WO a Ferj determinou sua exclusão, como manda o regulamento.

Assim, ficou definido que todos os rivais do Teresópolis, venceriam por 3 a 0 e os time da serra cairia para a Série C, restando duas vagas para o rebaixamento. Durante a competição, Ceres e Carapebus foram suspensos, mas o primeiro levou apenas um WO e retornou. Já o segundo sofreu incríveis sete derrotas por WO. Incluindo algo inédito: haveria um duelo entre Carapebus e Teresópolis, mas ocorreu um duplo WO, já que ambos estavam suspensos.

O regulamento da competição previa:
Art. 3º - Na primeira fase as associações serão distribuídas em 02 grupos (A e B) formados mediante sorteio dirigido, com as equipes jogando entre si, dentro do grupo, em turno e returno, classificando-se para a segunda fase as 05 (cinco) primeiras colocadas de cada grupo e mais as duas de melhor índice técnico, independentemente do grupo a que pertençam, perfazendo o total de 12 equipes, ressalvadas as disposições do parágrafo primeiro deste artigo.

O Índice Técnico (IT) é uma conta maluca: Número de Pontos/Número de Jogos + Número de Gols/Número de Jogos.

Ao fim da primeira fase, tirando os cinco melhores de cada chave, se o regulamento fosse levado ao pé da letra, a Cabofriense - oitava colocada do Grupo B -, teria 3,06 de IT e o Serra Macaense - sétimo do Grupo A -, teria 3,00 de IT, empatado com o América.

O time do Juventus, que participa da confusa segundona
O time do Juventus, que participa da confusa segundona do Estado do Rio de Janeiro

Assim, teoricamente, Cabofriense estaria classificada e Serra Macaense e América brigariam por uma vaga no Tribunal, já que o regulamento tem a incrível falta de um critério de desempate para a igualdade em IT.

Porém, a entidade entende que um clube com mais pontos não pode ser desclassificado enquanto seguiria no certame outro com menos pontos, mesmo com IT maior. E assim, Rio Branco com 31 pontos e 2,95 de IT e Serra Macaense com 29, eliminaram America e Cabofriense, que fizeram 24.

Os americanos se sentem prejudicados e por isso entraram com um mandado de garantia para paralisar o campeonato, alegando ter IT maior do que o Rio Branco. Mas suponhamos que o América vença na justiça e fique com a vaga. Como ficaria a Cabofriense, que possui IT maior do que o time rubro?

REBAIXAMENTO E CONFUSÃO
O regulamento prevê que os seis piores de IT sejam deslocados para um Torneio da Morte, onde dois seriam rebaixados. A entidade determinou que o Grupo fosse formado pelo Carapebus - que já levou as sete derrotas por WO e deveria ser excluído -, São Cristovão, Mesquita, Angra dos Reis, Imperial e Juventus.

Mas aí vem outra polêmica. O Angra dos Reis possui apenas 2,50 de IT, mas tem 26 pontos, contra 24 de América e Cabofriense. Como isso pode acontecer, se na classificação para a segunda fase, a entidade entendeu que um time com mais pontos, não poderia ficar atrás de um time com menos pontos?

Quem tenta paralisar este Grupo da Morte é o Mesquita. O motivo? Outro totalmente plausível, se entendermos os critérios adotados pela Ferj. O clube da Bixada tem apenas 2,55 de IT, atrás de America e Cabofriense, mas na primeira fase conquistou 26 pontos.

Até 8 de maio não havia uma resposta sobre o mandado de garantia feito por América e Mesquita e os jogos marcados para o dia 9 continuaram marcados.

POLÊMICA PARECIDA ACONTECEU EM 2011
Em 2011, houve um caso idêntico. O Teresópolis havia conquistado mais pontos do que o São João da Barra na primeira fase, mas o time sanjoanense tinha feito mais pontos. O site da Ferj chegou a dar o São João da Barra como classificado, mas horas depois retirou a notícia do ar e publicou uma nova colocando o Teresópolis, como se nada tivesse acontecido.

Assim, o SJB entrou com um mandado de garantia no TJD e paralisou a competição até o julgamento no STJD. Foi derrotado por 3 a 2 em meio ao confuso regulamento.

No rebaixamento de 2011 também houve confusão. O Aperibeense foi excluído durante a primeira fase e levou WO, sendo rebaixado. Assim, seriam duas vagas na Série C em aberto. Antes do final da primeira fase, Mesquita e Itaperuna perderam três por WO e deveriam ser excluídos, mas não foram e conseguiram retornar ao campeonato.

Semanas depois, o Itaperuna sustou o cheque dado à Ferj para o pagamento de dívidas e foi novamente suspenso do campeonato. Revoltado, o Cardoso Moreira entrou com um mandado de garantia. O clube alegou que pelo regulamento Itaperuna e Mesquita deveriam ser rebaixados e, assim, acabar com as vagas para a Série C 2012. O Cardoso se recusou a entrar em campo no Grupo da Morte e acabou sendo rebaixado pela entidade e teve seu mandado de garantia negado.