segunda-feira, 21 de abril de 2014

Só desinformados e ingênuos vão torcer pelo Atlético de Madrid e contra o Chelsea por causa de Abramovich

O Atlético de Madrid está na moda. Sem os recursos de Real Madrid e Barcelona, vai deixando os dois gigantes para trás, ruma em direção ao título espanhol que não ganha desde 1996 e está a dois jogos de uma final da Copa/Liga dos Campeões, que só alcançou uma vez, em 1974.
Solidário, marca forte, retrato de seu técnico, o argentino Diego Simeone. Assim, o time Colchonero ganhou a simpatia de muitos. Mas será que tudo é tão lindo no "primo pobre" de Madri? Em outubro de 2013, José Ignacio Torreblanca escreveu sobre o Atlético fora de campo no conceituado jornal "El País". Vamos a alguns pontos importantes que o jornalista abordou.
Torreblanca destaca que o Azerbaijão é o patrocinador do clube. "Azerbaiyán, Land of Fire", é o que se vê estampado na camisa do Atlético de Madrid. No ano passado, um dia antes das eleições presidenciais a comissão eleitoral anunciou o vencedor por meio de um aplicativo da Comissão Eleitoral Central.

Ilhan Aliyev: no poder desde 2003, ele sucedeu o pai, Heydar, que governou entre 1993 e 2003
Ilhan Aliyev, no poder desde 2003, ele sucedeu o pai, Heydar: fraude eleitoral
O presidente Ilham Aliyev pertence à família que há quatro décadas ocupa o poder. Ele venceria com 73% dos votos. A comissão eleitoral se desculpou, mas evidências de fraude eram claras. E foram confirmadas pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que relatou ameaças a jornalistas e cobertura da mídia maior e favorável a Aliyev.
Mas o que Enrique Cerezo Torres, presidente do Atlético, teria a dizer sobre a ex-república soviética? Para ele, "é um país de grande potencial econômico e recursos importantes, com uma antiga herança histórica e que depois de ganhar a independência atingiu um alto desenvolvimento humano, económico e cultural".
Nada mais distante da realidade. No ranking de 2012 do Transparência Internacional para avaliar a corrupção, o Azerbaijão é 139º entre 176 países. Grupos de direitos internacionais acusam o governo de intimidação a oposicionistas e repressão a manifestações pelas ruas. Ilhan Aliyev está no poder desde 31 de outubro de 2003. Ele sucedeu o pai, Heydar, que governou entre 1993 e 2003.
A organização sem fins lucrativos Freedom House atua na promoção dos direitos humanos, da democracia, da economia de livre mercado, do estado de direito, e defende a independência dos veículos de comunicação. Seus relatórios sobre o Azerbaijão ressaltam elevado nível de repressão à oposição e à ala independente da mídia, acrescenta o jornalista espanhol.
A OSCE reuniu queixas às da Anistia Internacional. Relatórios revelam que nas semanas anteriores às eleições, oposicionistas do regime foram perseguidos, presos e detidos, com acesso limitado à mídia, julgamentos simulados e outras ações ditatoriais. Houve também várias prisões após as eleições.
Análise idêntica à da Human Rights Watch, outra organização independente voltada aos direitos humanos, apresentadas no documento "Azerbaijão: repressão sobre a sociedade civil". Defensores do governo azerbaijano alegam que graças ao gás e ao petróleo a renda per capita aumentou de US$ 1.844 em 1995 para US$ 8.153 em 2013.
No entanto, as desigualdades sociais não diminuíram, tampouco liberdades foram ampliados, como mostram relatórios das Nações Unidas. O Azerbaijão caiu para o 82º lugar no último ranking mundial do Índice de Desenvolvimento Humano, o IDH. O Brasil é 85º.

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A Espanha, onde o país despeja € 12 milhões (mais de R$ 37 milhões/ano) por intermédio do Atlético, está em 23º, apesar de toda a crise econômica vivida pelo país ibérico. Graças a seus recursos energéticos, Aliyev estabelece uma monarquia hereditária autoritária e, paralelamente, conduz campanha internacional de relações internacionais.
E aí entra o clube de Madri. O Atlético empresta sua camisa, sua imagem, seu prestígio, sua torcida e seus atletas para que o ditador mude a imagem do país no exterior. Em suma, iluda o maior número possível de pessoas pelo mundo e também torne o Azerbaijão um destino turístico badalado.
No clube espanhol Cerezo ocupa a sala mais importante há 11 anos, desde que se afastou o antigo presidente, Jesús Gil y Gil, morto em 2004, quando já corriam contra ele dezenas de processos de corrupção, a maioria relacionados com fraude imobiliária. Apesar da demissão, ele detinha 80% das ações e escolheu o sucessor. Produtor de cinema, Cerezo chegou à presidencia como uma marionete do antecessor, e antes cumprira 16 anos como vice-presidente de Gil y Gil.
Em 1967, a queda do telhado de seu restaurante em Los Angeles de San Rafael matou 58 pessoas. Jesús Gil y Gil foi condenado e preso em 1969. Acabou libertado em 1971, depois de pagar 400 milhões de pesetas e ser perdoado pelo ditador Francisco Franco, general que comandou a Espanha de 1936 até sua morte, em 1975. A Guerra Civil Espanhola matou cerca de 1 milhão de pessoas e instaurou o regime fascista de Franco. A proximidade entre cartolas do Atlético de Madrid e ditadores, nota-se, vem de longa data.

Jesús Gil y Gil: amigo do ditador Franco, parece mandar no Atlético mesmo depois de sua morte há 10 anos
Jesús Gil y Gil: perdoado pelo ditador Franco, ele parece mandar no Atlético mesmo depois de sua morte há 10 anos
Até hoje o sobrenome é forte no clube. Tanto que aparece com três representantes no Conselho Administrativo do Atlético: Miguel Ángel Gil Marín, Severiano Gil y Gil e Óscar Gil Marín. No início da década passada o atual presidente também se viu envolvido num escandâlo de apropriação indevida de ações do Atlético, que envolvia falsidade contábil e assinaturas de contratos simulados. Ele, Jesús (pai) e Miguel (filho) escaparam. O crime havia prescrito.
Quando apresentou o patrocínio, Enrique Cerezo disse: "Nós acreditamos que o Azerbaijão tem encontrado Atlético de Madrid um parceiro ideal, como um clube desportivo, de futebol, que atinge a mídia a nível internacional, uma ferramenta estratégica para trazer culturas de laços mais estreitos entre os povos e indivíduos". É inegável que clube e país têm algo em comum. Seus comandantes se eternizam no poder e quase não há oposição a eles.
E às vésperas de um confronto fundamental contra o Chelsea, vale a reflexão. Se você detesta o time inglês só por causa de Roman Abramovich, que o adquiriu com o dinheiro do espólio soviético, o que fez dele um biolionário, reflita. O Atlético de Madrid não é um clube de inocentes e também tem lá seus podres. O futebol está repleto de casos assim. Há muitos "Abramovichs".