Se a esperança é mesmo a profissão do brasileiro, como acreditava Antônio Maria, o melhor é tentarmos viver dela. Por isso nos agarramos à ideia de que o país começa a despertar de uma longa letargia. As manifestações de junho, o protesto dos professores, o Bom Senso F.C. dos jogadores de futebol, eis aí alguns exemplos de que algo está acontecendo.

O Bom Senso F.C. conseguiu o milagre de ser recebido pela CBF, fato que não acredito pudesse ocorrer antes de março do ano passado. Não que o atual presidente seja mais sensível ou mais competente que seu antecessor. Não é. Apenas, quanto mais nos aproximamos da Copa do Mundo, mais o dono do nosso futebol tem medo de pisar na bola. Já lhe bastam ter seu passado de repressor tornado público.

Sendo assim, a que se deve a esperança? Não, certamente, à promessa do atual presidente de que pelo menos vai pensar no que os jogadores propõem. E o que propõem eles? Muito simples: 30 dias de férias ininterruptas, pré-temporada mais racional e humana, não mais que sete partidas por mês, medidas drásticas para obrigarem os clubes a pagar em dia e o direito de participarem da organização das federações e dos campeonatos. Quatro reivindicações justas e uma discutível.

É claro que nem seria preciso chamar a atenção da CBF sobre a procedência dos quatro primeiros itens. São direitos que a própria CBF deveria ter reconhecido há séculos, muito antes, portanto, de os jogadores se unirem para reclamá-los. Já sobre o quinto item, duvido que os jogadores consigam das cúpulas de nosso futebol (confederação, federações, clubes, ministérios e, claro, televisão) permissão para que opinem sobre uma questão que envolve tantos interesses políticos e financeiros. Embora eles talvez venham a descobrir, no embalo do bom senso, que têm mais força do que pensam.

O atual presidente da CBF, diplomaticamente, referiu-se aos jogadores como "ponderados", dando a impressão de que vai mesmo pensar no assunto. Mas foi logo esclarecendo que "as mudanças não podem ser feitas de um dia para o outro". É evidente que não. Mas também não se deve jogar as reivindicações no fundo de uma gaveta e esquecê-las lá para o resto dos tempos.

Pessoalmente, quero crer que o Bom Senso F.C. dos jogadores ainda prevaleça. Mas não já. Não de um dia para o outro - ou mesmo em qualquer dia desta CBF. Prevalecerá, sim, quando o atual presidente da vez, em lugar de prometer pensar, firmar compromisso por escrito garantindo que o futebol brasileiro não vive só de esperança.