O Roda Viva, da TV Cultura, recebeu o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Este blogueiro participou da bancada de entrevistadores. No final do programa, o alcaide carioca foi questionado sobre a generosidade dos políticos com eventos esportivos, que dão enorme visibilidade, como os ligados à Copa do Mundo e aos Jogos Olímpicos. E o contraponto da escassez de verba para áreas fundamentais, como saúde e educação. Fala prefeito:
— Eu acho, Mauro, que a gente chegou num momento no Brasil que esse discurso bobo, ou é Copa ou é saúde, ou é Copa ou educação...
— O senhor acha bobo? — interpelei.
 Eu acho mesmo, acho muito bobo — continuou o prefeito. Acho que o Brasil é grande o suficiente e tem recurso suficiente para fazer Copa e fazer saúde e educação, para fazer Olimpíada e fazer saúde e educação (...).
Mais adiante, Eduardo Paes insistiu na tese de que tudo é possível ao mesmo tempo, se referindo a eventos esportivos e necessidades básicas da população:
— O Brasil tem condições de fazer ambos.
— Por que não faz — questionei.
— Tem que fazer direito, é isso que estou dizendo...
Ah, bem. Tem que fazer direito. Naturalmente...
Políticos nessas horas despejam números de investimentos que parecem suficientes para modificar as vidas das pessoas. Mas na realidade não bastam para tirar o sofrimento de quem depende da saúde pública, tampouco amplia as perspectivas das crianças e jovens que estudam em escolas do governo. Os milhões que eventos esportivos levam tirariam mais gente do sufoco. Você duvida?
Em programa, Mauro Cezar questiona Eduardo Paes sobre investimentos para Copa e Olimpíada; assista!
A festa do sorteio das eliminatóras da Copa consumiu cerca de R$ 30 milhões repartidos entre Estado e Município do Rio de Janeiro — confira a notícia no portal Uol clicando aqui e no site da Controladoria Geral aquiPoucos meses depois do evento, o secretário de saúde da cidade testemunhou a situação dramática de doentes no Souza Aguiar — clique aqui e confira.
Reprodução
Contrato para o sorteio preliminar da Copa do Mundo de 2014: dinheiro para o evento da Fifa
No site da Controladoria Geral do Município: R$ 14.784.875,51

Foto que ilustra reportagem do Jornal do Brasil sobre a situação do hospital Souza Aguiar em 2012
Foto que ilustra reportagem do Jornal do Brasil sobre a situação do hospital Souza Aguiar em 2012: dramático
O hospital, juntamente com o Salgado Filho, recebera da prefeitura investimentos de R$ 6 milhões — veja no site do governo carioca aqui. Um quinto daquilo que foi consumido pelo evento "fifista", 40% do valor que os cofres municipais destinaram ao sorteio das eliminatórias do Mundial 2014.
Isso no final de 2011, na semana em que o presidente da Fifa, Joseph Blatter, recebeu a chave da cidade do Rio de Janeiro das mãos de Eduardo Paes. Menos de um mês depois, o jornal Extramostrava o sofrimento de pacientes em outro hospital municipal, o Lourenço Jorge — clique aqui e veja.
Divulgação
Sob os olhares de Valcke, Blatter recebe a chave do Rio de Janeiro de Sérgio Cabral e Eduardo Paes
Sob os olhares de Valcke, Blatter recebe a chave do Rio de Janeiro de Sérgio Cabral e Eduardo Paes: ele merece?
Acima um trecho da entrevista, em vídeo, que foi ao ar no Bate-Bola, da ESPN Brasil. Logo abaixo, a íntegra do Roda Viva. Uma pena que nem todas as perguntas da bancada foram respondidas, como a primeira que fiz, com base na declaração do prefeito no programa "Juca Entrevista" de que a realização de uma Olimpíada no Brasil é uma vergonha:
— Quando o Rio venceu Madri e foi escolhido sede dos Jogos de 2016, o senhor festejou efusivamente como todos ali festejaram. O senhor já achava que era uma vergonha?
 Eu acho que o esporte de alto rendimento no Brasil não vai bem. Ele (Juca Kfouri) fez a afirmação que é uma vergonha e eu concordei... - disse Eduardo Paes em meio a várias argumentações.
A pergunta não foi sobre as razões que o levaram a dizer textualmente, Ipsis litteris: "Eu acho uma vergonha o Brasil receber uma Olimpíada" - clique aqui e veja o vídeo. O questionamento foi outro, se ele já pensava assim quando o Rio foi escolhido pelo Comitê Olímpico Internacional.
E a pergunta faz sentido pelo simples fato de um prefeito defender e festejar algo que, de alguma maneira, considera vergonhoso. Qual a lógica disso? Afinal, acha "uma vergonha" ou não? Se algo gera vergonha, é vergonhoso, só constrange ou deve ser evitado se o próprio político for o responsável por aquilo? Mais uma vez ficamos sem uma resposta. E você, acha tudo isso... "bobo"?
Clique aqui e leia o texto de Lúcio de Castro sobre o governo do Estado do RJ, cartolas, Maracanã...