terça-feira, 1 de novembro de 2011

Tilke explica a zebra quebrar a suspensão de Massa

Amigos, queria dar uma palavrinha sobre a questão da zebra da curva 8 ter quebrado a suspensão dianteira direita da Ferrari de Felipe Massa na classificação e a da curva 9 a suspensão dianteira esquerda na corrida, apesar da explicação do piloto, atendendo orientação da equipe, de relacionar a quebra, ontem, ao acidente com Lewis Hamilton, da McLaren, na 24.ª de um total de 60 voltas do GP da Índia.
  Ontem de manhã cheguei ao autódromo um pouco mais cedo do normal. A largada era às 15 horas e abrimos a transmissão da rádio Estadão-ESPN uma hora antes. Tinha dois objetivos em mente: o primeiro era um encontro com Colin Kolles, diretor da Hispania, não membro da Fota. Como Colin conversa informalmente comigo e expõe muito do que sabe e de como as coisas funcionam por dentro da Fórmula 1, aprendo com ele. Perco certa inocência, por vezes.
  Ganho maturidade para abordar os temas, por dispor também da visão de quem está lá dentro, sentindo diretamente os efeitos de qualquer decisão, como as que serão tomadas quinta-feira em Genebra, no importante encontro da Comissão de Fórmula 1. Quarta-feira vou colocar no ar um post a esse respeito. Abordarei a questão com um pouco mais de profundidade, procurando mostrar o que, de fato, está em jogo.
  A outra lição a que desejava me submeter, ontem de manhã, dizia respeito às zebras do belo circuito, que conheci com seu autor, Herman Tilke, quarta-feira, parando em vários locais do traçado para ouvir as explicações do solícito arquiteto que é capaz de receber críticas com elevado desprendimento.
  Tilke me disse ter seguido o padrão FIA e FIM para as zebras, pois além da Fórmula 1 a pista receberá o Mundial de Moto GP. “Elas não são positivas nem negativas, mas neutras”, contou-me. Quer dizer, não estão acima ou abaixo do nível do asfalto. “Os pilotos de carro ou de moto podem passar sobre elas, foram concebidas para isso, em especial no caso dos pilotos de moto, pois o que as tangencia e, por vezes toca, não é a moto, mas o seu joelho, daí a necessidade de não haver elevações nas zebras”, explicou Tilke.
  Onde, então, Massa tocou com as rodas a ponto de quebrar as suspensões? Antes de mais nada, o que se rompeu foi o chamado push-rod, a barra que conecta o conjunto mola-amortecedor, instalado num nicho rebaixado na porção superior do monocoque, à base da manga de eixo, na roda. Num português mais simples, é aquela barra que vemos atravessando a suspensão.
  Ouçam o que ouvi de Tilke: “Essas zebras não punem quem passa por cima. Mas logo depois que acabam, se você não cria um obstáculo, os pilotos sempre irão cortá-la, pois o que se ganha no tempo de volta é significativo. Então existe lá o que chamamos de salsicha. Veja o formato. Lembra o de uma salsicha disposta ao lado da zebra.” Feita de concreto?, pergunto. “Sim, de concreto.”
  Ao me ver com o inseparável bloco de reportagem, Tilke o solicita e desenha como é, hoje. Se você tem a imagem da corrida, repare na existência dessa salsicha de cimento, pintada da cor laranja, para ser identificada mesmo do cockpit, do lado de dentro da zebra. “A instalamos para impedir de os pilotos cortarem o caminho.”
  Mas essa salsicha se estende por apenas uma porção da zebra, é relativamente curta, dá para ver nas imagens on board. E essa foi a reclamação de Massa.
  “Felipe me procurou e explicou que na extensão da salsicha, agora, a roda sempre vai tocar num ângulo muito incidente. O que é verdade. Se estendermos, fazer a salsicha acompanhar mais uns dois metros a zebra, quem tocar com a roda lá o fará num ângulo menor, o impacto na suspensão será menos intenso. Por isso vamos estudar a modificação que é, na realidade, simples.” Repito, palavras de Tilke que, de novo, fez o desenho no meu bloco.
  A solução de ampliar a salsicha não dará liberdade aos pilotos de tocá-la com frequência, pois os toques seguidos vão submeter a suspensão a golpes fortes, embora menores dos ocorridos no fim de semana, mas ainda assim, se repetidos, potencialmente capazes de romper o push-rod, como aconteceu com Massa. “Continuarão sendo desestimulantes, garanto”, afirma Tilke.
  É bem provável, emergiu da nossa conversa, que outros pilotos também tivessem tocado a salsicha no fim de semana do GP. Não é assim, toca lá e a suspensão quebra, deu a entender Tilke. Aí fiquei pensando comigo e percebo que Massa quebrou nos dois momentos que mais exigia do carro, na classificação, e quando desejava recuperar o tempo perdido no choque com Hamilton. Instintivamente colocava a roda o mais por dentro possível. Como deve ter tocado na salsicha antes e nada aconteceu, prosseguiu conduzindo da mesma forma. Até uma hora a verdade se estabelecer.
  Portanto, amigos, na edição do ano que vem do GP da Índia a salsicha será maior. Palavra do arquiteto que a concebeu.