terça-feira, 1 de novembro de 2011

Dançando na chuva

Não gosto da conversa de que "com o Corinthians tudo é mais difícil", como se para os outros os desafios fossem moleza. Mas ontem esse axioma vingou e não funcionou apenas como lugar-comum. O cenário para um fiasco alvinegro no Pacaembu estava armado: gol do Avaí logo no começo, nervosismo e erros em abundância no primeiro tempo, Leandro Castán expulso no início da etapa final e um pé d'água de dar gosto. Prevaleceram dedicação e entrega de quem briga por título, e a compensação veio com o resultado final, na vitória de virada por 2 a 1. De brinde, a retomada da liderança, com a contribuição grátis do São Paulo ao segurar o Vasco no Rio.

Torcedor acredita - no que faz muito bem. Quanto mais fortes eram a chuva e a pressão catarinense, maior a algazarra nas arquibancadas. Faltou pouco para o Corinthians não sair de campo com uma dor de cabeça daquelas. Na primeira metade do jogo, quase nada do que Tite havia planejado durante a semana surtiu efeito. Willian e Liedson ficavam isolados à frente, o meio-campo cochilava na armação e na marcação, a defesa ficava exposta a arrancadas do Avaí. Tanto que foi assim que nasceu o gol de Robinho aos 12 minutos: Lincoln cobrou falta, lançou para William, que fez o passe para o atacante finalizar sem dó.
O roteiro traçado pelo treinador corintiano ainda precisou de dois retoques não previstos: a contusão de Jorge Henrique na etapa inicial (aos 30 minutos cedeu a vaga para Emerson) e o vermelho de Castán por falta em Lincoln aos 5 do segundo tempo. E dá-lhe baldes de água despejados do céu e temor de que se repetisse filme do primeiro turno, quando o Avaí venceu no pior momento do Corinthians no Brasileiro.
Daí aconteceu fenômeno típico do futebol: o time com um a menos respirou fundo, se superou, redobrou empenho e fez a farra. O Corinthians se encheu de brios, acuou o Avaí, criou chances e obteve a 17.ª vitória, detalhe que o recoloca na vanguarda da competição. Resultado que veio com gols de Emerson e Liedson, por oportunismo e persistência. Ao Avaí restaram tentativas de bolas longas para a área, na esperança de encontrar alguma cabeça salvadora. Inútil.
Justiça se faça a Emerson, que andou fora por um tempo. Ele foi a alma do time, na reviravolta: correu, driblou, passou, catimbou e cravou o gol de empate. Patinou pouco no gramado escorregadio e saiu aplaudido. Reconhecimento merecido para quem tirou os zagueiros do Avaí para bailar. Teve menos de Sheik e mais de Gene Kelly e suas piruetas travessas em Cantando na chuva. Só não precisava pisar em cima do Daniel num dos últimos lances do jogo.
O líder embicou bem na reta final. Derrota ou empate não seriam letais, porque o Vasco não venceu e haveria tempo para reação. Mas qualquer dessas alternativas representaria golpe na autoconfiança. O efeito, agora, é o oposto. No perde-ganha vertiginoso do campeonato, a bola volta a ficar com o Corinthians. Não foi à toa que torcedores ensaiaram buzinaço pela cidade. Ficou no ar gostinho de campeão. Exagero? Não.
Não entregou. O que mais me chamou a atenção, no clássico em São Januário, foi o comportamento sério do São Paulo. Nos últimos dias incomodou esse papo maldoso de que haveria relaxamento contra o Vasco só para azedar a vida corintiana. Jogo equilibrado, longe de ser empolgante, mas com oportunidades para os dois lados. Os vascaínos dessa vez se enroscaram na vigilância tricolor e sentiram que, na prática, a sequência que a tabela lhes reserva até a rodada derradeira não tem nada de doce.
Amargo regresso. Doce foi a vingança do Grêmio sobre Ronaldinho, sua cria e hoje desafeto. Depois do susto com os 2 a 0 iniciais, vieram a sacudida e os 4 a 2 finais para o tricolor. O astro renegado foi embora atordoado não com as vaias, e sim com o baile que o rubro-negro levou. Assim deveriam ser todas as vendettas no futebol, com show pra cima do rival. Violência é recurso dos estúpidos.
Mais uma... O Palmeiras não toma jeito e perdeu outra, agora para o Atlético-MG. O time de Felipão era sonolento com 11 em campo e tomou 2 a 0. Ficou valente e foi pra cima após a expulsão de Maurício Ramos e Valdivia; fez gol e quase empatou. Não dá para ser assim sempre, mas com time completo? Só queria entender...