quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Agonia do tricolor de coração

RIO - A imagem do eletrocardiograma com palavra "guerreiros" virou homenagem ao Fluminense em forma de mosaico este ano na Libertadores. As peças realmente se encaixam e formam o quebra-cabeças tricolor: quando a pressão aumenta, o time se recusa a perder e quase mata o torcedor do coração. A característica dos últimos anos também é sintoma do desgaste físico no presente. Mas de onde vem a força para fazer o impossível parecer viável nos últimos 45 minutos de jogo?
Grêmio e Figueirense. Dois jogos diferentes e um mesmo tempo. Exemplos recentes da síndrome da etapa final, presente nas eletrizantes partidas contra Santos, Atlético-GO... Nos 45 minutos finais das duas últimas rodadas, o Fluminense fez oito gols, venceu seus jogos, seguiu na briga pelo título e assustou quem assistiu aos primeiros tempos medíocres. A explicação de Marquinho: perto do fim, o campeonato cobra o preço do começo irregular e da obrigação de arrancar mais uma vez em direção a outra temporada histórica.
— Se você perguntar aos 11 titulares, todos vão confirmar que estão cheios de dores. Um está jogando com contratura, outro com alguma outra coisa... Tem sempre alguém sentindo e talvez seja por isto. Mas não estamos nos poupando no primeiro tempo. Jamais! O que tem acontecido no segundo tempo é que, quando olhamos para os lados, e sabemos que o cara ali está com dor, mas se doando, a gente sente que tem que fazer algo mais — disse Marquinho.
Wagner por quatro anos
A cautela entra em campo como regra para um jogo de estratégia. Com o desprezo pelo empate, o Fluminense tem o mesmo número de vitórias do líder Corinthians. E a mesma quantidade de derrotas do Bahia, na luta para evitar a zona do rebaixamento. Sem equilíbrio na tabela, o time procura dosar um extremo e outro nas quatro linhas. Mas quando todos os lances acabam no vazio, o desespero se transforma no combustível e a bola vai entrar de algum jeito.
— Não dá para se jogar ao ataque e depois sofrer as consequências. Tentamos jogar com inteligência. Às vezes, corro mais com a bola do que devo. O Abel conseguiu organizar minhas ideias, me deu um pouco mais de liberdade. No começo, ficamos meio atabalhoados e a ansiedade atrapalha. Dentro do jogo, acontecia de darmos uma parada. Começamos a prestar mais atenção — definiu Marquinho.
A torcida entendeu o recado vindo do campo e já reproduz na arquibancada o lema do "Tem que haver sofrimento". Abel Braga disse outro dia, após vencer o Grêmio, que quase morreu do coração. Na iminência de disputar a segunda Copa Libertadores seguida, fato inédito em 109 anos de existência, o Fluminense reafirma a vocação de deixar o melhor para o fim.
— Em 2009, a gente tinha 99% de ser rebaixado. Agora, conseguimos reverter a menor probabilidade de conquistar o título. Gostamos de estar sempre correndo contra — afirmou Diguinho.
Para seguir contra a maré, os jogadores do Fluminense entraram na onda de conduzir embarcações de pequeno porte e foram aprovados ontem pela Capitania dos Portos, que irá conceder a carteira de arrais amador a Deco, Rafael Moura, Edinho, Marquinho e Rafael Sóbis. Capitão do time sem precisar fazer prova, Fred estava entre eles e tem a missão de comandar a busca da vitória contra a nau vascaína. Cercado de amigos, ele trouxe mais um: Wagner, meia de 26 anos, ex-Cruzeiro, que deverá assinar por quatro anos e já fechou acordo de imagem com patrocinador. Para o clássico, Edinho, com entorse no tornozelo esquerdo, é dúvida. Certeza é que chegou a hora de vencer um clássico regional. O primeiro em um ano. Nem que seja nos minutos finais.