quarta-feira, 1 de abril de 2015

1961… Flamengo conquistava a América pela primeira vez

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Tudo começou em 1953, com a chegada do técnico Fleitas Solich, do Paraguai. Apesar de sua origem, nada tinha de “cavalo paraguaio”. Vindo de anos sofridos, na era pós-Zizinho, oFlamengo voltou a ganhar respeito assim que Fleitas assumiu o comando da equipe. Revelou o quarteto Dida, Zagallo, Evaristo e Babá, que carregaram o time no Carioca daquele ano, junto com Benitez, artilheiro com 22 gols. Em 27 jogos, foram 21 vitórias, quatro empates e somente duas derrotas, tendo o melhor ataque da competição, com 77 gols marcados, e também a melhor defesa, com 27 sofridos. Nem precisa falar que foi “fácil” ganhar o Carioca com aquele time.
flamengo_america_2A história se repetiu em 1954. Mantendo a mesma base, agora mais respeitada, o Flamengo foi bicampeão carioca com 19 vitórias, seis empates e duas derrotas, marcando 64 gols e, novamente, sofrendo apenas 27.
Naquele ano, Dequinha, Índio e Rubens foram convocados para a Seleção Brasileira, que disputou a Copa do Mundo da Suíca. Com o quarteto de volta, no ano seguinte, o Fla voltou a dominar o Rio de Janeiro, e conquistou o seu segundo tricampeonato carioca da história, com direito a uma acachapante goleada de 6 x 1 sobre o Fluminense, durante a fase classificatória, e dois triunfos sobre o Bangu, na decisão, sendo um deles no Maracanã lotado, com 140 mil torcedores, que viram Dida brilhar e comandar a goleada por 4 x 1.
Entre 1956 e 1960, o elenco caiu de rendimento, e não conseguiu manter a série de conquistas seguidas. Até conquistaram vários torneios amistosos, como o Torneio Internacional do Morumbi, o Troféu Embaixador Osvaldo Aranha, o Troféu Ponto Frio, a Taça Brasília, o Troféu AIK, na Suécia, o Troféu Sporting Club de Portugal, em Portugal, o Torneio Quadrangular de Israel, em Israel, o Torneio Hexagonal do Peru, no Peru, e o Torneio Início do Rio de Janeiro, mas nada de muita expressão, à altura da instituição Flamengo.
flamengo_américa_1No entanto, mesmo durante o “jejum” o trio de ataque formado por Joel, Dida e Zagallo, representou o Brasil na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, além do meia Moacir. De lá, os quatro jogadores voltaram campeões mundiais.
Durante esses anos, algumas mudanças aconteceram no elenco. Já ídolo, Evaristo foi transferido pra o Barcelona/ESP. Logo após sua saída, Zagallo também se despediu, indo para o Botafogo, de Garrincha e Nilton Santos. Em contrapartida, o técnico Fleitas, que havia deixado o comando da equipe, voltou para a Gávea, e viu novos talentos surgirem por lá, entre eles o meia Gérson.
E é aí que a história ganha maiores formas. Em 1961, o Flamengo voltou a colocar medo nos adversários. Logo no começo da temporada, a volta por cima veio em grande estilo, no Torneio Octogonal de Verão, que seria algo qualquer, se não contasse com Flamengo, Vasco, Corinthians, São Paulo, River Plate/ARG, Boca Juniors/ARG, Nacional/URU e Cerro Porteño/URU.
A disputa aconteceu no sistema todos contra todos. Na estreia, o Flamengo derrotou o Corinthians por 2 x 1, fora de casa. No duelo contra o segundo paulista, venceu o São Paulo por 3 x 2.
flamengo_gerson_carlinhosTrês dias depois, no Maracanã, conheceu o primeiro tropeço. No clássico contra o Vasco, que tinha um grande time, o Mais Querido foi derrotado por 1 x 0, mas se recuperou já na rodada seguinte, quando devolveu o placar no River Plate, em pleno Monumental de Nuñez, assumindo a liderança da competição. A sorte não foi a mesma contra o Boca Juniors, que goleou por 4 x 0 em La Bombonera.
Apesar disso, a goleada sofrida não abateu o time do Flamengo, que foi até o Uruguai e venceu o Nacional por 1 x 0, no Centenário de Montevidéu, pela penúltima rodada.
Por fim, no mesmo local, confirmou o título continental derrotando o Cerro Porteño, por 2 x 0. Nesse jogo, Babá, artilheiro do Flamengo, ainda havia feito mais um gol legítimo, mas o juiz anulou, claramente tentando ajudar o Cerro, que precisava apenas de um empate, mas terminou com o vice-campeonato.
Nas arquibancadas, 43 mil torcedores uruguaios ficaram incrédulos. No vestiário rubro-negro, Gerson não segurou a emoção e foi às lágrimas, abraçado a Fleitas Solich, que afirmou: “Este é o verdadeiro Flamengo, que tão bem soube representar o futebol brasileiro”. A conquista foi muito festejada, sendo cotada como uma das maiores da história do clube. Na época, talvez a maior, devido às circunstâncias da competição.
16862_mdAcontece, que Deus é Rubro-Negro, e fez o raio cair duas vezes no mesmo lugar. Exatamente 20 anos depois, Zico, Adílio, Nunes, Andrade, Leandro, Raul e companhia levaram o Flamengo de volta ao palco daquela decisão.
No mesmo estádio, o histórico Centenário de Montevidéu, venceram o Cobreloa por 2 x 0 e reconquistaram a América. Dessa vez, com mais reconhecimento. Com mais brilho, talvez.
Mas quem comemorou os gols de Babá, Dida, Gerson, Moacir e Henrique, naquela campanha de 1961, jamais esquecerá que, através daquele rolo compressor, o continente já havia sido marcado com o sangue vermelho e com a raça negra encarnada do manto sagrado.