segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Do nordeste brasileiro ao sul da Inglaterra, Santa Cruz, Portsmouth e duas torcidas apaixonadas

Eram 59.455 pagantes. E sabe-se lá quantos deram um jeito de entrar no Mundão do Arruda para empurrar o Santa Cruz até a Série B. Dezenas de milhares de torcedores e uma paixão, o time querido que mergulhou nas profundezas da quarta divisão e que os fez acordar neste domingo a um empate da segundona, o penúltimo degrau no caminho da sonhada volta à elite.
O adversário não poderia ser mais emblemático, o Betim, que até pouco tempo era Ipatinga. E que, dizem, pode voltar a ser. Vai entender esse times artificiais, itinerantes, sem história, sem torcida, sem raízes, sem graça. Assim, ficou estabelecido o duelo entre uma camisa que faz corações baterem mais forte e outra dessas agremiações nascidas num gabinete refrigerado qualquer.
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A arquibancada do canal, lotada como todo o Mundão do Arruda no jogo contra o Betim
A arquibancada do canal, lotada como todo o Mundão do Arruda no jogo contra o Betim: sonho do acesso à B
Impossível não tomar partido, não escolher um lado, não se afastar do maldito muro que a tantos acolhe. Numa hora dessas bate uma espécie de obrigação de torcer. Torcer pelo futebol, pelo triunfo do time de verdade, que é capaz de levar alegria e tristeza aos seus torcedores. Afinal, do outro lado estava um fardamento que não desperta paixões, não dá frio na barriga de ninguém.
As demonstrações de amor da torcida do Santinha têm comovido a muitos nesses anos de Séries D e C. Tem sido difícil para o time sair do buraco em que se meteu, por mais que a galera ajude, dê a mão, não desampare os jogadores. Como tem acontecido em São Luiz, onde o Sampaio Correia arrasta multidões. Futebol é vida. E para essa gente não há vida sem seus times de coração.
História que se reproduz com enredos diferentes em outras partes do planeta. Como no Sul do Reino Unido, onde o Porstsmouth pena na League Two, a quarta divisão, depois de desafiar os grandes da Premier League e conquistar uma Copa da Inglaterra, em 2008. O Pompey mudou algumas vezes de mãos e os empresários que o compraram e revenderam levaram o clube à bancarrota.
Para se livrar de vez desses aventureiros, a torcida entrou em campo. Criaram um fundo de torcedores que primeiro comprou o estádio Fratton Park, que comporta 21.100 pessoas e tiraram o clube da concordata. Depois, por intermédio da Pompey Supporters Trust, assumiram o controle do Portsmouth. Essa turma tenta fazer, na Inglaterra, a caminhada que o Santinha percorre por aqui.
divulgação
A torcida do Portsmouth comprou o clube e compareceu ao Fratton Park neste sábado
A torcida do Portsmouth comprou o clube e compareceu ao Fratton Park neste sábado contra o Exeter City
Neste sábado, 16.168 torcedores pagaram para ver os 3 a 2 sobre o Exeter City. Resultado que manteve o Pompey na modesta 16ª posição, uma abaixo do Wimbledon, outro time com fantástica história, afinal, foi criado pelos torcedores depois da venda do "original", que foi transformado em itinerante e se mudou para Milton Keynes - clique aqui, leia e entenda.
O Santinha subiu, então viva o Santa Cruz. Viva seus mais de 60 mil fanáticos que se aglomeraram para, sentados sobre o cimento da arquibancada, sofrer, chorar e celebrar o time que superou mais uma barreira. O amor incondicional do torcedor por seu time é o que alimenta o futebol, seja no nordeste brasileiro, no sul da Inglaterra, seja onde for.