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Vinte e nove minutos do primeiro tempo no Stamford Bridge. Disputa equilibrada com o Manchester City até Ramires servir Fernando Torres e o controverso camisa nove perder chance cristalina à frente do goleiro Hart. Depois de ir duas vezes às redes contra o Schalke pela Liga dos Campeões, parecia que seria mais um fim de semana infeliz na liga inglesa do contestado atacante de 58 milhões de euros.
Fernando Torres perdeu gol incrível, mas foi decisivo na vitória do Chelsea.
Mas Torres não é o típico centroavante que só é notado quando faz gols. Dentro do 4-2-3-1 do Chelsea, é útil também na dinâmica do quarteto ofensivo. Móvel, abre espaços e procura as diagonais para servir ou finalizar. Quatro minutos depois do gol perdido, entrou pela direita e serviu Schurrle, que abriu o placar. Mais quatro minutos e uma bomba no travessão, infiltrando pela esquerda. Setor onde apareceu mais em toda a partida.
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Movimentação de Fernando Torres: circulação por todo o ataque e presença efetiva pelos flancos, especialmente à esquerda.
O time de Mourinho era vertical. Alternando Schurrle e Hazard pelos lados e Oscar também circulando, contando com bons passes de Ramires na distribuição. Mas a defesa, com Cahill deixando David Luiz no banco, tinha problemas.
Porque o City também apostou em leveza, movimentação e qualidade no quarteto ofensivo do mesmo 4-2-3-1. Yaya Touré avançado e centralizado, Aguero se mexendo na frente, Nasri e, principalmente, Silva circulando por todo o setor ofensivo para articular. O meia espanhol comandou o toque de bola que fez os Citizens terminarem a primeira etapa com 58% de posse. Mas apenas seis finalizações contra sete do rival. Nenhum gol.
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Chelsea e City no 4-2-3-1 com Fernando Torres abrindo espaços no ataque dos Blues e Silva girando a partir da esquerda para armar o time de Manchester
A bola só foi às redes de Petr Cech no início do segundo tempo. Sem comparações, Aguero lembra Romário pela baixa estatura, boa técnica e refinamento no toque final. Mas desta vez recebeu passe em profundidade no limite da linha de zaga adversária, arrancou e soltou uma bomba de esquerda no ângulo que lembrou os melhores momentos de outro fantástico atacante brasileiro: Ronaldo Fenômeno.
Os Blues perderam volume e Mourinho resolveu agir: trocou Lampard, que permitia a movimentação de Silva às suas costas, e Schurrle por Mikel e Willian. Manuel Pellegrini respondeu com Jesus Navas no lugar de Nasri. O time de Manchester seguiu superior em posse e finalizações, no ritmo de Silva e com bom desempenho de Fernandinho nos passes. No final, o treinador espanhol trocou Javi García por Kolarov recuando Touré e centralizando Silva. Depois Aguero por Negredo. Mourinho tirou Hazard e colocou Eto'o. Mas não mudou o posicionamento de Torres, que seguiu mais avançado.
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No final, Eto'o entrou pela esquerda e Torres seguiu à frente para decidir. Duro golpe no City que foi superior em boa parte do tempo.
Não se arrependeu. Sempre participativo, "El Niño" acreditou em lance praticamente perdido no último minuto e acossou Nastasic. A expectativa durante todo o jogo era pela falha de Demichelis, zagueiro argentino veterano, lento e desentrosado em sua estreia no City. Mas o erro grosseiro foi mesmo do sérvio, que vacilou no recuo de cabeça. Hart saiu do gol de forma atabalhoada e a bola sobrou para o anti-heroi do time londrino.
O gol de Torres fez Mourinho celebrar nos braços da torcida. Também alçou o Chelsea à segunda colocação da Premier League, apenas dois pontos atrás do líder Arsenal. O atacante ridicularizado que erra muito, mas foi fundamental contra o Barcelona na semifinal da Champions League 2011/12 e na decisão da Liga Europa diante do Benfica na última temporada. Na partida em Londres, finalizou cinco vezes. Uma nas redes, outra no travessão, duas na direção da meta e aquela primeira, nas nuvens, em chute bisonho.
Se não justifica a fortuna desembolsada por Roman Abramovich, Torres compensa com trabalho coletivo, velocidade, passes e gols importantes. Não é pouco.