segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um título com 'Titebilidade'

O quinto título brasileiro, entristecido pela morte de Sócrates, é resultado do jogo e do sofrimento coletivos. Depois de 27 rodadas na liderança, é preciso dizer que o Corinthians ganhou o campeonato, não o recebeu de graça, recuperando-se de uma fase extremamente instável. E anote um nome: Tite.

O time não é impecável, tecnicamente brilhante ou psicologicamente maduro. Se fosse possível encontrá-lo em outros gramados, a rodada decisiva já teria acontecido há semanas, e o campeão seria outro. O perde-ganha constante nos deu uma ótima competição. Não convém desmerecê-la.
O Corinthians Campeão Brasileiro não tem herói. A trajetória do título não está fincada num único nome, num líder técnico ou na raça absurda de uma camisa. Antes havia Ronaldo, importante pela dimensão histórica e, principalmente, pela tranquilidade em qualquer situação. Mesmo gorducho, era uma referência técnica no gramado.
A imagem desta conquista, entretanto, é a da organização tática, é coletiva, mesmo num ambiente disposto a individualizar qualquer situação e resultado. Nos momentos de baixa, não havia alguém para assumir a bronca, como fazia Ronaldo nas entrevistas coletivas.
A responsabilidade dos treinadores é naturalmente mais relevante nas derrotas. Mantido acertadamente no cargo depois de dois insucessos, Libertadores e Campeonato Paulista, Tite tem muita responsabilidade no quinto Brasileiro. Faz parte daquelas figuras especiais no futebol, dos caras para quem a gente torce, como Ricardo Gomes, por exemplo.
Tite se esforça, tenta ficar mais parecido ao mundo que o cerca, mas o vocabulário diferente da norma futebolística e o tom didático chamam a atenção. Faz parte do personagem. O estilo ajudou a conduzir o time sem um craque. Por isso os treinadores falam tanto em equilíbrio.
Adenor Leonardo Bachi, 50 anos, não possui a grife de companheiros como Muricy e Felipão, nem os títulos de Luxemburgo. Ele ainda flutua no balanço de vitórias e derrotas. Merece, no entanto, ser considerado muito responsável pelo quinto título corintiano, o segundo da era dos pontos corridos.
Não tinha uma seleção nas mãos, mas foi perfeito ao contornar os problemas e manter todos os jogadores ao lado dele. Quando a liderança sistemática se tornou pressão negativa, precisou encontrar alternativas para desconstruir o sistema preferido, o 4-2-3-1, e libertar o time do formato.
Aconteceu contra o Ceará, vitória com gol de Ramirez, contra o Atlético Mineiro, com o inusitado gol de Adriano, e diante do Figueirense, com Alex cruzando para Liedson marcar.
Contra o Palmeiras, na "final", o Corinthians foi 30% futebol, 70% emoção. Travado no primeiro tempo, o time se comportou taticamente como sempre, embora recuado demais, defendendo desde o início o placar do título, chamando para a área o Palmeiras movido por Marcos Assunção nas bolas paradas.
A mudança, desta vez, surgiu na conversa durante o intervalo. No segundo tempo havia um novo Corinthians, disposto a trocar a defesa pelo ataque. E seguiu assim, menos tenso, pronto para equilibrar a posse de bola, enfrentar o Palmeiras e não deixar o título escapar.
O grupo jogou para não perder. Em dias como ontem, as questões técnicas e táticas ficam em segundo plano. Ganha-se com a cabeça no lugar, mesmo quando o empate é o suficiente.
Os "professores" recebem rótulos, viram grifes, são responsáveis pelas derrotas e, de vez em quando, alguém se dá conta de que eles participam também das vitórias. Não se trata de supervalorização, mas é preciso reconhecer a impossível tarefa de desvendar uma cabeça dramática e solitária. Parabéns, Tite.