sexta-feira, 29 de julho de 2011

Kleber, Ronaldinho e Thiago Neves no tribunal é exagero por Antero Greco

Tribunal Esportivo é importante, mas às vezes exagera no zelo. Na pauta da sessão marcada para hoje está o julgamento de Kleber por falta de fair-play no jogo em que Palmeiras e Flamengo empataram por 0 a 0 na semana passada. O atacante foi denunciado porque não colocou uma bola pra fora, como cortesia. Em vez de ceder o lance para o adversário, resolveu arriscar o chute a gol. O gesto provocou início de tumulto. A atitude de Kleber foi tosca – eu disse isso na tevê, além de escrever aqui e na coluna no Estadão. Faltou-lhe cavalheirismo, picardia, elegância. Em seu favor, alegou no dia seguinte que os jogadores do Fla também não se comportaram com altivez em diversos momentos. Citou cotoveladas, faltas ríspidas e abuso de cera.
Erros, sem dúvida. Mas que não justificavam sua reação. Kleber seria diferente – e superior – se mostrasse desprendimento e não se mantivesse no nível dos demais, que considerou baixo e antidesportivo. Perdeu oportunidade de dar lição e agir como verdadeiro “Gladiador”.
Daí a ser levado para o tribunal há um disparate. O fair-play é bonito e o defendo. A Fifa sempre prega cortesia e lisura como partes integrantes do jogo, embora nem sempre faça uso dessas qualidades. Só que não há regra escrita determinando que um atleta que, numa bola ao chão, não possa ganhar a dividida. Kleber fez papelão, mas não descumpriu regulamento, apesar de ser denunciado no artigo 258 do Código de Disciplina (assumir atitude contrária à disciplina e moral esportiva).
Da mesma forma, considero severa demais a perspectiva de Thiago Neves e Ronaldinho Gaúcho pegarem até 10 jogos de suspensão por terem forçado terceiro amarelo, no mesmo jogo, e assim evitarem o confronto com o Ceará. Ambos acharam mais conveniente zerarem logo a série e trataram de levar a arbitragem à punição que lhes interessava.
Ok, é falta também de fair-play, mas nenhum crime contra o esporte. O ‘erro’ de Thiago Neves foi o de ter sido sincero, ao admitir a manobra, aliás tão comum, nem por isso uma lindeza. O procurador do tribunal, Paulo Schimitt, disse que o futebol não pode ser um vale-tudo – e assino embaixo. Mas esse é um pecadilho, um pecado venial, diante das botinadas, carrinhos, entradas criminosas, cotoveladas muitas vezes ignoradas.
Um pito – e olhe lá! – nos dois rubro-negros já estará de bom tamanho. Carga pesada, de fato, deveria ocorrer sempre contra os desleais e violentos. Esses têm de ser combatidos. Meu maior sonho, porém, é ver um dia um tribunal  punir cartolas e afins que não agem com fair-play e transparência com um bem cultural e público tão importante como o futebol. Aí, sim, será um festival e tanto de condenações, suspensões, afastamentos.
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