quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Cristóvão explica como a rotina de treinos transformou o Fluminense no time que não erra passes

A informação sobre o índice de acerto de passes do Fluminense, superior ao da Alemanha na Copa do Mundo, chegou a Natal e deixou felizes os jogadores do Fluminense. O Flu não é o time que mais troca passes no Brasileirão - Cruzeiro e São Paulo estão à frente -, mas tem a menor porcentagem de erros de passes: 8,3% apenas.
Cristóvão explicou por telefone como conseguiu tão rapidamente um desempenho tão forte. E sobre como se preparou para aproximar o nível de atuação dos seus times dos mais modernos da Europa e da América do Sul.
PVC - Como foi possível alcançar índice de acerto de passes tão alto em tão curto tempo?
CRISTÓVÃO -
 Isso é possível explicar. Eu tenho baseado toda a nossa rotina de treinos em passes. Os treinos sempre começam com isso e têm muitos exercícios para fazer do passe a qualidade do nosso time.
PVC - Você criou um grupo de estudos tempo atrás. Por que isso aconteceu e como isso te ajudou?
CRISTÓVÃO -
 A gente tem ouvido muitas críticas ao futebol brasileiro e se listarmos dez problemas, provavelmente sete vão ser iguais. Isso e o fato de notar erros daqueles passes de cinco metros me fizeram ir atrás de respostas para algumas perguntas. O que estava acontecendo? Pesquisei, fui à internet, vi muitos vídeos, li muitas coisas. O que se faz hoje em Portugal, a quantidade de pesquisas é incrível. E isso começou a me ajudar a criar uma rotina de treinamentos com muita coisa que aprendi.
PVC - Os seus treinos...
CRISTÓVÃO - 
Tem uma coisa que eu queria te contar. Falaram muito do meu trabalho no Vasco e quando eu saí, pensei: puxa, poderia ter sido melhor. Eu fui estudar mais, procurar mais informações, ver o que está acontecendo no mundo. Não viajando. Não acredito nisso. Quando você viaja, vê um treino, dois... Eu fui pesquisar, li muito, vi muitos vídeos...
PVC - Faz-se hoje muitos treinos em campo reduzido. Mas isso hoje todo mundo faz. O que se pode fazer diferente?
CRISTÓVÃO - 
Nos treinos, ninguém dá mais do que três toques. Muitas vezes eu faço treino coletivo em campo inteiro, mas não como se fazia antigamente. Não entrego a bola e deixo jogar. Pela observação dos adversários, simulamos jogadas que vão acontecer. Eu distribuo as jogadas como vão acontecer durante a partida. Antes do jogo contra o Goiás, diminuí o espaço e simulei o rival atuando com todos se defendendo. Forçamos muito os passes e os deslocamentos, para abrir espaço e o passe ser preciso. Quando o jogo começou, o time sabia exatamente o que fazer.
PVC - O objetivo também é deixar o time mais compacto...
CRISTÓVÃO -
 Aqui no Brasil, uma coisa que acontecia era que as nossas linhas sempre foram distantes e os times compridos. A gente tem falado muito da Europa. Mas há muitos exemplos ótimos aqui perto. Eu observei muito o Jorge Sampaoli, no tempo em que estava na Universidad do Chile. Que intensidade, movimentação, qualidade de passe... O San Lorenzo contra o Botafogo, na primeira fase da Libertadores, em Buenos Aires... Que aula! E não é só. O Bolívar nesta Libertadores fez partidas com ótimo nível. Tem muita coisa acontecendo aqui perto. Não podemos depois ficar surpresos pelo que estão jogando México, Chile, Paraguai...


PVC - Dos seus tempos de jogador, quem estaria mais perto do nosso tempo?
CRISTÓVÃO - S
em dúvida, Otacílio Gonçalves. O Grêmio campeão gaúcho de 1988, apelidado Grêmio Show, era muito à frente. A gente só podia dar dois toques nos treinos e tínhamos muitos deslocamentos nos jogos. O meio-de-campo era formado por Bonamigo, Cuca e eu. Às vezes, invertíamos as posições. Não estava dando certo para o Cuca na frente, a gente trocava: "Cuca, fica você de volante." Era muita movimentação. Aquele time era à frente do seu tempo.