domingo, 13 de julho de 2014

Nós, jornalistas, também temos parcela de culpa na crise. E quem abraçou Felipão tem que assumir

Luiz Felipe Scolari foi contratado pela CBF no final de 2012 para substituir Mano Menezes com um óbvio objetivo: funcionar como escudo para proteger os cartolas. O resultado foi instantâneo. Seu inegável carisma encheu torcedores e a maioria da imprensa de confiança, apesar dos fracassos do técnico no Chelsea e no Palmeiras.
Veio a conquista da Copa das Confederações - o que eu escrevi a respeito na época você pode conferir clicando aqui - e a massacrante maioria ficou anestesiada. Jornalistas especializados abraçaram Scolari de diversas formas. Defesa incondicional virou algo comum já na Copa das Confederações. O técnico havia conseguido estratégicos aliados.
BRUNO DOMINGOS/MOWA PRESS
Luiz Felipe Scolari no jogo entre Brasil e Holanda pelo terceiro lugar na Copa do Mundo 2014
Luiz Felipe Scolari no jogo entre Brasil e Holanda pelo terceiro lugar na Copa do Mundo 2014
Com a conquista da Copa das Confederações, o prestígio do treinador cresceu e os parceiros se multiplicaram. Quem era crítico do trabalho feito pelo treinador cebeefiano tinha dificuldades para se manifestar em alguns momentos ante a árdua defesa feita pelos scolarianos. E então as coisas pioraram. Ficou grave o quadro.
Agora Felipão se afundou com seu desconhecimento do futebol atual, com suas idéias obsoletas e imensa dificuldade para ficar em sintonia com o que se passa na chamada elite da modalidade. E aliados de outrora se atrevem a lembrar pequenas observações sobre seus equívocos como se tivessem destacado erros graves.
Grande parte da imprensa não enxergou o que estava errado, por simples equívoco, conveniência, conivência, vaidade, covardia ou amizade. É do jogo, podemos acertar e errar. Mas tentar se descolar do aliado e se posicionar, agora, como crítico que não foi é postura patética e que subestima a inteligência das pessoas. Assim é fácil acusar cartolas.
Não que os dirigentes sejam competentes, sabemos que não. Mas apontar seus erros sem reconhecer a recente incapacidade para notar que as coisas iam mal é cômodo demais. Melhor descer do pedestal, seguir abraçando Luiz Felipe Scolari, ser leal, já que não faz muito tempo havia defesa forte e feroz. Se a imprensa percebesse o problema e, em peso, alertasse, o desfecho talvez fosse outro.
O futebol brasileiro precisa de uma reforma. E o jornalismo esportivo de um divã. Mas o analista não será coleguinha algum da cobertura econômica ou política. Até porque veio de tal ala o maior equívoco da cobertura desta Copa. Nós também temos nossa parcela de culpa na atual situação do futebol brasileiro. O motivo? A mídia colocou Scolari num pedestal. E o tombo é grande. Caímos juntos.
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