quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

As virtudes do Raja Casablanca e as lacunas atleticanas que cobraram um alto preço - o do vexame

Getty Images
Festa de um lado, tristeza de outro: enquanto jogadores do Raja comemoram, Ronaldinho lamenta gol do time marroquino
Festa de um lado, tristeza de outro na vitória histórica do Raja Casablanca.
Os atleticanos podem e devem lamentar o pênalti inexistente de Rever sobre Iajour que encaminhou o histórico triunfo do Raja Casablanca.
Mas o time marroquino mostrou virtudes. Nem precisou que o goleiro Askri repetisse a grande atuação da vitória sobre o Monterrey. Compactou duas linhas de quatro, recuou Chtibi para cercar Pierre e defendeu com organização e bravura. No final com cinco defensores, depois da entrada de Coulibaly na vaga de Iajour.
Nos primeiros dez minutos, não faltou coragem à equipe de Faouzi Benzarti para ocupar o campo de ataque e chegar a 77% de posse de bola. Depois percebeu que a melhor solução seria recuar e explorar os contragolpes às costas dos laterais adversários com Moutaouali e Hafidi invertendo pelos flancos e procurando Iajour no centro.

Na etapa inicial, duas chances cristalinas desperdiçadas por Moutaouali. No segundo tempo, o gol de Iajour e o golpe final com Mabide em transições rápidas aproveitando a retaguarda exposta. Entre eles, o pênalti inexistente convertido por Moutaouali e a bela cobrança de falta de Ronaldinho que empatou o jogo.
Olho Tático
Raja Casablanca compactou linhas de quatro e explorou contragolpes às costas de Marcos Rocha e Lucas Cândido, os laterais do 4-2-3-1 atleticano.
Raja Casablanca compactou linhas de quatro e explorou contragolpes às costas de Marcos Rocha e Lucas Cândido, os laterais do 4-2-3-1 atleticano.
Único momento de brilho de um time que tentou atacar com movimentação do quarteto ofensivo no 4-2-3-1. Chegou a controlar a partida e perder gol feito com Jô. Mas o Atlético-MG pagou pelas lacunas táticas e estratégicas observadas desde o Brasileiro do ano passado.
A começar pela dependência de Jô nas ações ofensivas. O pivô que escora as ligações diretas dos zagueiros, protege a bola para Ronaldinho e as diagonais dos meias pelos lados está mal. Inclusive nas finalizações.
Com isso, as ações ofensivas perdem fluência e trabalho coletivo. Dependem exclusivamente de jogadas individuais. Na semifinal do Mundial, só Fernandinho conseguiu uma ou outra vitória pessoal. Inclusive na falta que Ronaldinho tirou do alcance de Askri.
Defensivamente, a tragédia. Os encaixes individuais que Cuca insiste em promover - o popular "cada um pega o seu" - fazem o time marcar correndo e se mover de acordo com o adversário. Quando o time marroquino se recolheu, os laterais Marcos Rocha e Lucas Cândido avançavam e, na recomposição, deixavam os buracos que os zagueiros, cuidando do centroavante, não conseguiam cobrir.
Escalar Marcos Rocha numa linha de quatro sem prender o lateral do lado oposto também foi um equívoco que cobrou seu preço até o camisa dois deixar o campo irritado. Deu lugar a Luan...que seguiu atacando e cedendo espaços às costas. Pior ainda quando Lucas Cândido saiu para a entrada de Alecsandro em troca desesperada no final, enfiando dois centroavantes na área rival.
Leandro Donizete até preencheu melhor o meio-campo e acertou mais passes que Josué. O Galo teve 54% de posse de bola, 19 a 11 nas finalizações - 11 a sete na direção da meta. Mas não foi superior. Vexame. Que só não se compara com o do Internacional em 2010 contra o Mazembe porque foi derrotado pelo time anfitrião. Para o time que venceu a Libertadores sofrendo fora e revertendo em Belo Horizonte, o mando de campo pesou.
Olho Tático
No final, time marroquino fechado com cinco defensores e Mabide isolado no ataque; Galo escancarado e no desespero com Alecsandro e Jô enfiados.
No final, time marroquino fechado com cinco defensores e Mabide isolado no ataque; Galo escancarado e no desespero com Alecsandro e Jô enfiados.
Não diminui, porém, o tamanho do revés do time e do futebol nacional. É preciso repensar a preparação que abandona o Brasileiro e transfere um peso desproporcional que tem criado problemas na semifinal, mesmo para São Paulo, Internacional (2006), Santos e Corinthians. A obrigação de vencer para, enfim, encarar o campeão europeu estudado e respirado por cinco meses.
O Galo verá o Bayern de Munique pela TV. O Raja Casablanca tentará mais um milagre. O maior de todos.