quinta-feira, 25 de julho de 2013

Técnica, tática, estratégia? Esqueça! Título do Galo estava escrito

Getty
Victor foi decisivo mais uma vez nos pênaltis: ele defendeu a primeira cobrança do Olimpia
Victor foi decisivo mais uma vez para o Atlético-MG nos pênaltis.
Trinta e oito minutos do segundo tempo. Contragolpe do Olimpia. Ferreyra recebe livre, consegue se livrar do quase sempre intransponível Victor. Mas na hora de colocar a bola nas redes para empatar o jogo e praticamente sacramentar o que seria o quarto título da Libertadores do time paraguaio...um inesperado escorregão!
Há momentos na vida e também no futebol que um acontecimento é tão simbólico que consegue descortinar o que está por vir. O gol perdido por Ferreyra foi a senha para a cabeçada precisa de Leonardo Silva que empurrou a disputa no Mineirão para a sofrida prorrogação mesmo com um jogador a mais depois da expulsão de Manzur ainda no tempo normal.
Nos pênaltis, nova epopeia do goleiro Victor - o Libertador, na bela definição do nosso Antero Greco no Twitter que foge da quase inevitável santidade que já pertence ao palmeirense Marcos.
O final perfeito para o primeiro tempo do Galo apressado, que rifava a bola, esbarrava no forte bloqueio do 5-3-2 paraguaio e sofria com os contragolpes de Alejandro Silva, Salgueiro e Bareiro.
Olho Tático
O apressado Atlético do primeiro tempo tentando furar nas ligações diretas o 5-3-2 do Olimpia que ameaçava nos contragolpes com apenas três homens.
O apressado Atlético do primeiro tempo tentando furar nas ligações diretas o 5-3-2 do Olimpia que ameaçava nos contragolpes com apenas três homens.
Também para a explosão do estádio com o gol de Jô antes do primeiro minuto depois do intervalo. Centro de Rosinei, substituto de Pierre, falha de Pitoni - autor do golaço de falta no Defensores del Chaco - e conclusão precisa do centroavante. O que veio depois, e antes também, superou qualquer roteiro da obra cinematográfica mais fantástica e inverossímil.
Olho Tático
O 'abafa' na prorrogação com todos, até os zagueiros Leonardo Silva e Rever, no campo do rival acuado após a expulsão de Manzur.
O 'abafa' na prorrogação com todos, até os zagueiros Leonardo Silva e Rever, no campo do rival acuado após a expulsão de Manzur.
O título continental de Victor, de Cuca e do Atlético Mineiro estava escrito. Acima de qualquer aspecto técnico, tático ou estratégico.
Desde a expulsão de Lúcio no primeiro jogo das oitavas-de-final no Morumbi, com o São Paulo vencendo por 1 a 0, empilhando chances e dominando completamente até o cartão vermelho tolo para o zagueiro experiente e campeão mundial com a seleção em 2002.
Passando pelo primeiro ato de Victor no pênalti de Riascos do Tijuana no Independência e as viradas sobre Newell's Old Boys, esta com direito a "apagão" salvador, e Olimpia em casa para o goleiro novamente fazer história, mesmo sem pegar o pênalti derradeiro.
A sorte que faltou tantas e tantas vezes ajudou o competente time, o melhor desta edição da Libertadores com números fantásticos na primeira fase, ataque mais positivo e o artilheiro Jô, com sete gols.
Que joga feio e bonito, une conceitos modernos e arcaicos. Equipe intensa, vertical e ofensiva, no atualíssimo 4-2-3-1 com o quarteto Tardelli-Jô-Ronaldinho-Bernard promovendo frenética movimentação na frente. Que em pouco mais de 120 minutos da finalíssima teve 67% de posse de bola e 32 finalizações (Footstats).
Mas que despeja bolas na área e abusa das ligações diretas como um time inglês dos anos 1970/80. Na grande decisão foram nada menos que 64 cruzamentos e 85 lançamentos. Sem a bola, perseguições individuais que fazem o time marcar correndo e não posicionado. Um drible, como o de Alejandro Cruz no jogo de ida da final em Assunção, e o esquema desmorona em efeito dominó.
Tudo, porém, executado com paixão, entrega, fibra...e sorte, claro. Quem despreza a ventura e o imponderável em esporte tão apaixonante e imprevisível não sabe o que é futebol. Fosse um mero jogo com peças sendo movimentadas pelos treinadores e a vitória da melhor estratégia não estaríamos aqui dedicando amor e atenção a algo que, no fundo e na prática, pouco ou nada tem a ver com nossos destinos.
Reuters
Cuca abraça Ronaldinho depois da conquista da Libertadores
Cuca abraça Ronaldinho depois da conquista da Libertadores.
Destino. Foi ele quem negou a conclusão a Ferreyra e sorriu para Victor. Também para Cuca e atleticanos, rotulados de azarados e que subverteram tudo. E Ronaldinho, que mais uma vez não brilhou numa decisão, mas acrescenta outra grande conquista ao mundial de 2002 com a seleção, Champions League 2006 no Barcelona e duas Bolas de Ouro. Sem contar Copa América, das Confederações, Espanhol, Estaduais...

Em dezembro, mais uma chance de faturar o Mundial Interclubes após o revés de 2006 para o Internacional. Provavelmente contra o poderoso Bayern de Munique. E de Guardiola, pivô de sua saída do Barcelona com Deco que iniciou a era mais vitoriosa do clube catalão. Outra oportunidade de redenção.
Como a do Galo forte, vingador e agora campeão da América. Que parece gostar de sofrer mesmo em seu maior triunfo. Até quando está escrito. E estava.