quarta-feira, 19 de junho de 2013

Tico-tico no fubá

Andrés Montes foi narrador de NBA e mais tarde de futebol espanhol pela Cadena Cope, da Espanha. Morto em 2009, Montes deixou como legado a expressão tiki-taka, popularizada pelo técnico Luis Aragonés, pouco depois de assumir a seleção espanhola em 2004.
Aragonés era um homem velho e sábio. Foi campeão espanhol dirigindo o Atlético de Madri de Leivinha e Luís Pereira em 1977.
Quase 20 anos depois, sua escolha pela federação pareceu para muita gente um equívoco enorme. A cabeça sempre abaixada no banco de reservas e os cabelos brancos contrastavam com a crise da seleção espanhola, eliminada na primeira fase da Eurocopa-2004.
A Espanha não tinha estilo nem esperança. Tinha o Barcelona, vice-campeão espanhol atrás do Valencia, dono de um estilo que apenas começava a encantar.
Foi quando Luis Aragonés se apossou da expressão criada por Andrés Montes e anunciou que sua seleção jogaria tiki-taka.
A história leva à Arena Pernambuco e à atuação impecável contra o Uruguai.
Leva também à fama justa de melhor seleção do mundo, construída em 54 jogos com Aragonés e 73 sob o comando de Vicente del Bosque --em 127 partidas, foram dez derrotas, um aproveitamento de 86% dos pontos em nove anos.
Aragonés não estava superado, como hoje se sabe, mas até a véspera da semifinal da Eurocopa de 2008, contra a Rússia, brincava-se com suas manias e superstições. A Espanha teria de jogar com o uniforme reserva contra os russos. Aragonés chamava a camisa amarela de mostarda.
Nada grave como sua decisão de 2006, de devolver a titularidade a Raúl na partida decisiva contra a França. A vaca sagrada do Real Madrid contrastava com o tiki- taka. A Espanha foi eliminada nas oitavas de final.
Raúl nunca mais foi chamado, Aragonés levou o tiki-taka ao título europeu e entregou a herança a Vicente del Bosque.
A chance de a Espanha ganhar a Europa era Aragonés ser Aragonés.
Andrés Montes criou a expressão tiki-taka, mas Aragonés não inventou o estilo. Copiou o jeito Barcelona, troca de passes + marcação por pressão.
A posse de bola é característica de outras equipes da história. Os times de Parreira, por exemplo. Fluminense campeão brasileiro de 1984, o Corinthians campeão da Copa do Brasil de 2002, o Brasil campeão de 1994.
Na época, dizia-se que o Brasil era europeizado. Era brasileiro. Trocava passes como os sul-americanos e não marcava por pressão, como os europeus.


A maior lição dos espanhóis para o Brasil não é o estilo de jogo. É a certeza de que só com paciência se faz uma boa seleção.