terça-feira, 4 de junho de 2013

O patchwork de Felipão

Nos próximos 12 meses, o maior adversário de Felipão será o tempo. O Brasil não vence uma grande seleção há quase quatro anos, e o que se vê dentro de campo é um treinador, perto da Copa, ainda em busca de um formato para sua equipe. É possível discutir uma ou outra convocação, mas o problema não está nas escolhas, e sim na construção de uma identidade, de um caráter.
É fundamental olhar para o time e entender como ele funciona, qual é o seu perfil. A partida contra os ingleses começou com Luiz Gustavo e Paulinho como volantes, depois teve Hernanes e Paulinho, passou para Fernando, Hernanes e Paulinho, e terminou com Fernando e Hernanes.
Felipão preferiu começar o confronto com um time fisicamente mais forte e mais alto. O primeiro tempo foi melhor, até porque os ingleses pagaram para ver, jogaram num ritmo mais brando, sem a intensidade que veremos nas partidas da Copa das Confederações e do Mundial.
No entanto, o que mais chamou a atenção foi o posicionamento de Neymar, com liberdade para circular pelo campo ofensivo e não mais restrito ao setor esquerdo. Ver o futebol genial do novo jogador do Barcelona na seleção é uma das tarefas mais difíceis de Felipão. Deslocado para o lado direito, Oscar provou que pode ficar por lá.
Scolari deixou claro, em busca da consistência, que o primeiro tempo servirá de referência para os próximos passos. Por mais que um treinador conheça os jogadores, apenas a convivência diária será capaz de trabalhar pelo equilíbrio da equipe, até atingir o mantra do momento, a compactação.
É muito mais fácil jogar entre linhas de marcação fragilizadas por lacunas que deveriam ser preenchidas por cultura tática. Mas o futebol brasileiro chegará lá, atrasado, mas chegará.
O treinador Roy Hodgson montou a Inglaterra com duas linhas de marcação bem definidas, oferecendo o jogo ao Brasil, com a marcação iniciando no meio de campo. Rooney atuou entre os zagueiros brasileiros e Carrick posicionou-se atrás da linha de meio de campo, formada inicialmente por Walcott, Jones, Lampard e Milner.
Assim o Brasil produziu um bom primeiro tempo. O rendimento dos jogadores é resultado do que tem sido feito por eles nos clubes, mas nem sempre é possível jogar no mesmo nível, pois é preciso reconhecer que o desempenho na seleção é fruto de todo um sistema que ficou lá no time, e que não foi desenvolvido da noite para o dia.
A missão do treinador é reconhecer o talento, convocá-lo e criar condições para que ele floresça num vaso novo. Paulinho terá de se adaptar para tornar seu jogo mais confortável, até conseguir ser o Paulinho do Corinthians, o que foi convocado, acostumado aos atalhos do meio de campo, como se fosse um meia. Do jeito que fez o gol.
A natureza da formação de uma seleção desafia o tempo. A missão do treinador é costurar os retalhos, como se fosse um luxuoso patchwork com pedacinhos de Barcelona, Chelsea, Real Madrid, Grêmio, Corinthians, Fluminense, Lazio, Bayern... Não é simples.
Felipão pode reclamar, e com razão, da falta de tempo, sempre escasso para a seleção, corajosa ao eliminar o trabalho de Mano Menezes e começar tudo de novo a um ano do Mundial. Depois do jogo, Scolari foi sincero ao expor os problemas do grupo, principalmente os de ordem física. Será que vai dar tempo? Essa resposta vale uma fortuna.
Feriadão. Quem trabalha com o futebol sabe que sua agenda é bem diferente da dos outros mortais. Sabe também que sua missão é pegar no batente justamente no momento de lazer de seus leitores, ouvintes e telespectadores. Sábados, domingos e feriados são dias repletos de trabalho. É assim que funciona.
A CBF, que deveria estar de prontidão todos os dias, assim como todos aqueles que lidam com o esporte, simplesmente emendou o feriadão, em pleno Brasileirão. É mole?