Um amigo dado a provocações me pergunta se é verdade que eu deixei de ser "viúva do velho Maracanã". Viúva, na verdade, nunca fui de coisa alguma, mas continuo lamentando que o estádio que marcou minha vida, de torcedor e de jornalista, tenha sido posto abaixo para que outro surgisse em seu lugar. O que não me impede de achar que o esse outro seja, como escrevi, "colorido, harmonioso moderno e - por que não? - bem vindo". Nenhuma contradição nisso. O velho Maracanã morreu, foi enterrado, está quase esquecido. Levou consigo toda uma aura, todo um espírito, toda a magia que fez dele o que era: um templo. O novo vem, como se costuma dizer, preencher uma lacuna.
É a falta do que era o velho Maracanã que as pessoas confundem com viuvez. O novo é bem-vindo porque o Rio já não pode ficar sem um grande estádio, um estádio à altura de um Fla-Flu, de outros clássicos, dos melhores jogos do Brasileiro. Assim, fosse qual fosse a sua cara, tinha que vir logo para não deixar o torcedor carioca sem futebol.
Um dos pontos que me fez sentir saudade do velho Maracanã é o fato de ele não ter sido erguido sobre escombros de outro. Nem de estar ligado a tanta coisa suspeita, para não dizer desonesta. Ninguém explica por que o Governo gastou tanta grana por uma obra que entregaria, quase de graça, a outrem. Ninguém explica por que uma construtora superfatura obras e, depois, vai ser meio dona do resultado pelo qual foi paga. Ningum explica por que fecharam o Engenhão, deixando a dupla Fla-Flu sem outra alternativa se não tornar-se cliente do novo estádio. Ninguém me explica por que todos os novos estádios, perdão... arenas, tem de ter o padrão Fifa, autoritário, europeizado, elitizante, se a Copa do Mundo passa e nossos times ficam, escravos a tal padrão.
Mas por que haveriam de explicar? São coisas diferentes: o espírito que fazia do Maracanã o nosso estádio, o estádio do povão, e a beleza fria deste que acaba de ser inaugurado. Frequentar o novo não é uma traição ao velho. Nem é gesto de viúva alegre. Porque, se o nosso Maracanã se foi, partiu, morreu, só nos resta dar boas vindas ao que chega.