quinta-feira, 27 de junho de 2013

Brasil joga mal, mas vence e faz menos faltas! Boa! Que novas idéias iluminem Scolari. Ainda há tempo

Um sufoco, uma vitória com a "cara" de Felipão, um jogo emocionante, um triunfo na raça, etc. São vários os clichês e frases-feitas que podem ser aplicados no resumo de Brasil 2 x 1 Uruguai. Futebol pobre do time brasileiro, o bastante para vencer, com sofrimento, a atual versão da Celeste, mas com tantos defeitos que chega a assustar, mesmo sem ser algo surpreendente. 
No começo do jogo Oscar ficou à direita e Hulk à esquerda. Neymar foi jogar como meia. Os três não ficaram "amarrados" nesses setores, é evidente, mas o camisa 10 passou boa parte da peleja voltando para organizar o jogo, mas pela canhota. Não é a dele. Em consequência, foi afastado do gol. Mesmo assim, é tão talentoso que na único passe certo que deu dentro da área rival conseguiu ser fundamental. Foram duas assistências dele num jogo encrencadíssimo.
O Brasil não tem um bom time, não avança, não evolui. Segue sem saída de bola, dependente ao extremo do ex-santista e de lampejos individuais de homens como o próprio Paulinho, autor do lançamento que resultou no primeiro gol e que fez o segundo. Ele mesmo, o volante que faz gols, aquele que a imprensa gosta, como disse Luiz Felipe Scolari — clique aqui e leia.
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"A seleção ganhou em 1994 e quem eram os volantes?
Mauro Silva e Dunga? 2002? Gilberto Silva e Kleberson.
Essa história de volante goleador é muito bonito para a
imprensa
. É bonito, só não é bonito para o técnico e o
time. Quando tu tens laterais como os nossos, Daniel
Alves e Marcelo, tem que ter proteção"
.
Luiz Felipe Scolari à Folha de S. Paulo, em 22 de abril
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Getty
Felipão comemora gol do Brasil: treinador não precisa ser refém dos seus velhos conceitos futebolísticos
Felipão comemora gol do Brasil: treinador não precisa ser refém dos seus velhos conceitos futebolísticos
O que houve de ruim?O time de Luiz Felipe Scolari segue com sua crônica dificuldade na saída de bola. Não chegou a ser ruim como diante do México, quando, sem conseguir sair tocando, o time errou 29 (!) lançamentos. Luiz Gustavo, por diversas vezes, voltou a ocupar a posição de um dos zagueiros para que os dois, mais técnicos do que o volante, saísem jogando, até conduzindo a pelota em determinados momentos. Previsível. Sem repertório. É preciso melhorar isso, ou alguém acha que está bom?
As bolas esticadas, sem sucesso, ou seja, rifadas, foram quatro partindo da dupla de zaga "canarinho", duas com David Luiz e outro par pelos pés de Thiago Silva, que falhou (em parceria com Marcelo) no gol de Edinson Cavani. Ao todo foram 22 lançamentos equivocados, cinco de Júlio César, quatro de Daniel Alves e o mesmo número com Neymar, que errou todos os passes longos que tentou. Para comparar, nos três jogos anteriores o camisa 10 havia feito apenas dois lançamentos, ambos sem o destino certo. O lugar do novo barcelonista não é no meio-campo.
Brasil x Uruguai - passes
Daniel Alves 58 (2)
Luiz Gustavo 48 (2)
Paulinho 42 (2)
Marcelo 41 (4)
David Luiz 36 (1)
Neymar 36 (3)
Thiago Silva 31 (3)
Oscar 25 (1)
Hulk 19 (4)
Bernard 18 (1)
Fred 17 (2)
Hernanes 13 (2)
* entre parênteses os errados
O que houve de bom?
O Brasil não cometeu tantas faltas. Foram 13 contra 28 do jogo com a Itália. Até mesmo diante de México (24) e Japão (16) os brasileiros foram mais faltosos. Será que toda a discussão a respeito do tema repercutiu no desempenho dos jogadores comandados por Scolari? É possível, desde que críticas justa, construtivas, honestas, sem bajulação, valham alguma coisa para a seleção.
Outro ponto positivo: Oscar voltou a desarmar bem, foram três roubadas de bola sem falta. Neymar também foi bem no quesito, com duas recuperações de posse limpas, marca idêntica às de Luiz Gustavo e Fred, que fez um jogo bastante digno Como o Uruguai passou 42% do seu tempo de posse de bola no campo de defesa, era preciso que os homens mais à frente do time cebeefiano aparecessem bem nos desarmes. E eles não decepcionaram. Como Bernard, que entrou bem na partida e fez o time subir de produção.
Desarmes certos:Chiellini (Itália) 12
Torrado (México) 12
Oscar (Brasil) 11
Godín (Uruguai) 11
Maxi Pereira (Uruguai) 11
Marcelo (Brasil) 10
Luiz Gustavo (Brasil) 10
Tehau (Taiti) 10
Fonte: Footstats
Domingo, contra Itália ou Espanha, mais importante do que vencer e erguer mais um troféu, que será esquecido pouco depois; é que, na medida do possível, o time brasileiro finalmente evolua. Scolari tem esse estilo, claro, sabemos bem. Mas não é proibido pedir, reclamar, cobrar mudanças. Mudanças para a melhor. O povo segue fazendo isso nas ruas. Vamos continuar nesse espaço reivindicando uma seleção que jogue bem e a partir daí vença.
Felipão tem 64 anos. Jupp Heynckes estava lá, discreto no Bayer Leverkusen quando tinha a mesma idade. E 16 dias depois de chegar aos 68, com o Bayern Munique,voltou a ser campeão europeu, feito que obteve pela primeira vez aos 53, à frente o Real Madrid. E ainda faturou campeonato alemão e Copa da Alemanha na mesma temporada, a inédita tríplice coroa! E com um time excelente, competitivo, que joga bem, se impõe e vence. Moderno!
Acho difícil, sei que mudanças não são simples, mas ainda é possível Scolari perceber que novas idéias podem fazer bem. Inclusive a ele. Não há lei alguma que o obrigue a ficar preso no passado, reféns dos conceitos futebolísticos que tão bem funcionaram em 2002, por exemplo. Espero dizer, um dia, que Felipão se reciclou e virou o Heynckes brasileiro. Pelo bem do nosso futebol.