terça-feira, 9 de outubro de 2012

Coisa de criança


Em domingo de eleição, sem o nosso indispensável Brasileiro, a compensação pra quem não passa sem o joguinho de bola foi curtir os campeonatos dos gringos. E, dentre eles, claro que a atração principal ficou para Barcelona x Real Madrid, o duelo entre clubes mais badalado do mundo na atualidade. Só não viu quem não gosta de futebol, além dos milhares de patrícios convocados para trabalhar como mesários e fiscais. Sei como é, me chamaram várias nos anos de chumbo, na época de Arena x MDB.
Festa bacana no Camp Nou, com direito a protestos dos catalães, que mais do que nunca querem independência da Espanha, sobretudo agora que o país está em crise econômica das bravas e a região é rica e se basta. Bem, isso lá é problema deles. Impressionaram também os milhões de euros dentro de campo, na soma do valor dos passes dos jogadores. Se as duas equipes fizessem uma liquidação dos elencos, daria para abater bem a dívida e ainda sobrava algum.
Mas dois detalhes me chamaram a atenção no empate de 2 a 2, e para os quais faço reverência. Primeiro, brilharam os artistas, como deveria ser sempre. Em vez de discussões sobre erros do juiz, a conversa depois do jogo girou em torno de Cristiano Ronaldo e de Messi, os protagonistas, pelos gols que marcaram, pelos passes; enfim, pela diversão que proporcionaram para o público.
A rivalidade entre esses rapazes é bacana e enriquecedora. Como são foras de série, cada um trata de caprichar em dose extra, quando se encontram, para não ficar por baixo. O português marcou primeiro? Ótimo. O argentino devolveu duas vezes. Lindo! Mas Cristiano é de ficar a ver navios, ó pá?! De jeito nenhum, e carimbou as redes de novo.
Essa rixa parece coisa de criança, no que tem de lúdica. Cristiano e Messi fazem lembrar aqueles garotos que eram os bons nos timinhos de ruas rivais e se esmeravam nos duelos do século que ocorriam a cada semana. Antigamente, como hoje, só podia dar coisa boa. Cristiano e Messi voltam para casa prosas, a contar vantagem, na base do "viu o que fiz"? Sim, vimos e lhes somos gratos.
O segundo aspecto que coloco em discussão tem a ver também com esses gigantes. Messi festejou os gols à maneira dele, discreto, com abraços e seguidos do sinal da cruz. Cristiano Ronaldo estufou o peito, empavonado que só, e fez o sinal de silêncio para os espectadores nas tribunas. Claro que se dirigia fãs do Barça, como a dizer-lhes: "Fiquem quietinhos, que cá mando eu! Neste terreiro, posso cantar de galo!" O gajo é assim mesmo, enjoado. Perto dele, Mourinho vira um frade capuchinho.
Pois bem, o que aconteceu após os gols do atacante do Real Madrid? Como?! O quê?! Isso mesmo, nada! Não se viu nenhum jogador do Barcelona correr pra cima dele para tirar satisfação e exigir-lhe "respeito" com a plateia local. O juiz não encostou no rapaz nem o advertiu com amarelo, por atitude antidesportiva. Em resumo, prevaleceu o fair-play e a resposta veio por meio dos gols de Messi.
Assim que se faz, o troco é na bola, na categoria, não no machismo tolo e oco como vemos com tanta frequência nestas bandas. Também sem justiceiros a ver provocação em qualquer gesto mais espalhafatoso. E daí, se houvesse? Futebol é gozação, sarro, zoeira. Não a tristeza na qual muita gente se esforça por transformá-lo.
Fato. O presidente Lula disse ontem que o povo está mais interessado em saber se o Palmeiras vai pra Segunda Divisão do que em discutir o Mensalão. Que pena, mas é verdade.