quarta-feira, 9 de maio de 2012

Na final criador x criatura, técnicos argentinos dão tempo na amizade por glória em times contrastantes

Eles começaram como treinadores na própria Argentina, mas é da Espanha que Marcelo Bielsa e Diego Simeone chegam à Romênia como peças importantes de Athletic Bilbao e Atlético de Madri na grande final da Europa League 2011-12, nesta quarta-feira, com Abre o Jogo a partir das 15h15 na ESPN e ESPN HD.

A decisão marca, além do reencontro dos dois bons amigos sul-americanos, a primeira final continental entre o criador do País Basco e a criatura da capital espanhola - o Atlético foi fundado por um grupo de estudantes bascos que viviam em Madri e queriam montar uma filial do time do norte da Espanha.

Do lado do Bilbao, a decisão é a primeira a nível europeu em 35 anos, já que a única vez que o time chegou à final da então Copa da Uefa acabou com o vice-campeonato em 1977. E o time volta ao cenário continental na primeira temporada de Bielsa, que recusou proposta da Internazionale de Milão para assumir a equipe.
 

Bielsa x Simeone fazem duelo paralelo em Bucareste, nesta quarta-feira
Bielsa x Simeone fazem duelo paralelo em Bucareste, nesta quarta-feira
Crédito da imagem: Reuters / Montagem ESPN.com.br
Na chegada, Bielsa logo impôs o estilo pelo qual ficou conhecido. Em pouco tempo saiu devorando videotapes da equipe, mudou jogadores de posição e montou um time versátil, de jovens atletas e sem grandes estrelas. Agora, busca o primeiro título continental depois de bater na trave com o Newell's Old Boys na Libertadores de 1992 e até com a seleção argentina, ao cair para o Brasil no famoso gol de Adriano que levou a decisão aos pênaltis na Copa América de 2004.

E foi exatamente no comando da equipe nacional que Bielsa começou uma relação próxima a Simeone. O ex-volante era um dos homens de confiança do então treinador da Argentina, que bancou a escalação do meio-campista na Copa de 2002 mesmo em recuperação de lesão sofrida atuando pela Lazio.

Simeone saiu jogando, foi titular na estreia sobre a Nigéria, mas acabou perdendo espaço durante a precoce eliminação argentina no Mundial. "Não venho aqui para recordar momentos e sim jogar uma final. Já declarei minha admiração por Marcelo. Sabem muito bem o que penso dele", disse o comandante do Atlético de Madri que assumiu o time em dezembro do ano passado.
Na época da seleção argentina: Simeone era volante de confiança de Bielsa
Na época da seleção argentina: Simeone era volante de confiança de Bielsa
Crédito da imagem: Reuters
Juntos, disputaram 30 jogos pela seleção, com 19 vitórias, seis empates e cinco derrotas. Na época, Simeone se tornou o jogador que mais vezes vestiu a camisa argentina, com 106 partidas, marca depois superada por Ayala e Javier Zanetti.

O encontro marca ainda um duelo de times com fortes contrastes. Bielsa chegou depois de fazer história no Newell's (o estádio do clube até leva o nome de Marcelo), passar por futebol mexicano, Vélez, Espanyol e seleções da Argentina e do Chile. E, no time basco, conseguiu colocar o padrão que lhe agrada: posse de bola, ofensividade e velocidade - Pep Guardiola, por exemplo, já citou a seleção argentina de 2002 armada por "El Loco" como uma das grandes inspirações da carreira. Além disso, o Athletic não tem grandes estrelas e mantém o perfil de só contar com jogadores de origem basca, uma raridade nos tempos de futebol globalizado.

Já Simeone pegou um novo Atlético, que tem uma base diferente da que conquistou a mesma Europa League em 2010. Se aquele time tinha Forlán, Aguero, Simão e Reyes, este tem a força de Falcao, Diego, Arda Turan e Adrián. O centroavante colombiano, ex-Porto, é o artilheiro da atual edição com dez gols após ser o maior goleador no ano passado pelo clube português; já o meia brasileiro, ex-Santos, futebol alemão e Juventus, é o líder em assistências do torneio que termina nesta quarta. Se não tem o poder financeiro do vizinho Real Madrid, o Atlético não deixa de possuir a política de importar talentos.

Assim, "Cholo" aposta num time mais estático, sólido. O próprio rival deu a letra do que espera do jogo. "O melhor recurso do Atlético é conceder espaços para depois poder atacar num campo amplo e livre. Sabemos que é um risco e sempre tentamos não permitir desajustes no nosso time. Por outro lado, teríamos mais tempo de posse de bola e ataque. Nos sentimos bem e devemos estar bem. Temos de mostrar nossos recursos com naturalidade", apontou Bielsa.
No encontro pelo Campeonato Espanhol: amigos se encontram agora pela Europa League
No encontro pelo Campeonato Espanhol: amigos se encontram agora pela Europa League
Crédito da imagem: Divulgação Liga BBVA
Em campo, o único grande desfalque é Tiago, expulso pelo Atlético de Madri após se envolver numa briga quando o jogo contra o Valencia já estava praticamente decidido na segunda partida semifinal. E qualquer que seja o vencedor, a Espanha chega ao sétimo título da Europa League, deixando Inglaterra e Alemanha, com seis, para trás. Agora, só ficam atrás da Itália, maior vencedora com nove taças.

Independente de quem vença, um acordo entre os comandantes garante que eles não voltarão a se falar por pelo menos 30 dias. "Acordamos não dirigir a palavra", contou Bielsa. O próximo papo entre Loco e Cholo fica então para depois de 9 de junho, já bem longe de Bucareste e, para alegria de um e tristeza de outro, só com uma medalha de campeão europeu como treinador.