terça-feira, 15 de maio de 2012

A importação de técnicos pelo país do futebol

Sempre que o futebol brasileiro vai mal - ou parece ir mal - aparece alguém a sugerir que contratemos técnicos estrangeiros para pôr ordem na casa. A sugestão não se restringe aos limites dos clubes. Fala-se mesmo em abrir uma porta para que, pela primeira vez na História, a seleção brasileira seja entregue a um professor lá de fora. Valerá a pena? Será que nossos craques jogarão mais ou melhor com um deles do que com Mano Menezes? Em que Pep Guardiola, por exemplo, poderia nos ajudar?

A história não é nova. Quando ia completar dez anos sem ganhar o Campeonato Carioca, na transição do amadorismo para o profissionalismo, o Flamengo mandou buscar em Viena o húngaro Dori Kruschner, cuja única contribuição importante ao futebol brasileiro seria a de trazer para cá o então moderno WM. Pela mesma época, o Fluminense andou recorrendo a técnicos uruguaios (Hector Cabelli, Carlos Carlomagno, Ondino Viera) convencido de que, nascidos num país que ganhara duas Olimpíadas e uma Copa do Mundo, eles sabiam mais que qualquer brasileiro. Depois, Botafogo e Vasco, para nos limitarmos a clubes do Rio, também importaram seus 'coaches'.

Na seleção brasileira, sempre houve certo pudor quanto a entregá-la a um comando estrangeiro. Como se, com isso, estivéssemos tingindo as cores verde e amarela de nossa Pátria em calções e chuteiras. Ma foi só perdermos duas Copas do Mundo seguidas, as de 1950 e 1954, para chegarmos à conclusão de que só um feiticeiro importado nos levaria ao título em 1958. E que maior feiticeiro havia se não o paraguaio Fleitas Solich, a quem a nação rubro-negra idolatrava? Solich realmente ajudara o Flamengo a ganhar seu segundo tricampeonato (1953-1954-1955), depois de tentativas meio bizarras do clube para encontrar o substituto de Flávio Costa (entre elas, a de Togo Renan Soares, o Kanela, técnico de basquete, e Cândido de Oliveira, um português). Foi assim que o nome do paraguaio apareceu como forte candidato a dirigir a seleção na Suécia, o que foi abandonado em nome do tal pudor. No caso, para sorte da seleção.

Não por pudor, nem por posições xenófobas, muito menos por achar que temos os melhores treinadores do mundo, devemos olhar com muita cautela as soluções salvadoras que apontam para a importação de ideias, filosofias, métodos de trabalho como solução para o futebol brasileiro. Se este vai mal? ou parece ir mal ? as causas hão de estar mais dentro do campo do que na boca do túnel. A expressão é antiga, reconheço, porém o lugar é mais definidor do papel do técnico do que o atual quadrilátero onde ele atua na lateral do campo. Porque o túnel era ou ainda é o espaço que liga o vestiário (o lado de fora) ao campo (onde tudo acontece). Os limites de quem comanda são estes.

Até ali, ideias, filosofias e métodos de trabalho do técnico talvez funcionem. Dali para dentro do campo, é nos pés do craque que a bola rola.

Parece-me que o que falta ao futebol brasileiro, hoje, é justamente a quantidade de craques como nos tempos em que a seleção não se formava com ampla maioria de ?estrangeiros?. Quer dizer, craques brasileiros jogando em outros países. Tempos em que Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, São Paulo, Vasco da Gama (sempre citados alfabeticamente), ou o Santos da era pré-Neymar, conseguiam formar grandes times, independentemente da nacionalidade de quem os dirigia. O curioso em tudo isso é que os que hoje sugerem a contratação de técnicos de fora para salvar o futebol brasileiro são o mesmos que vivem clamando para que o futebol brasileiro volte a se abrasileirar.