domingo, 13 de novembro de 2011

Courinho número três

O ridículo jogo que a Seleção Brasileira fez no Gabão – partida inútil sob todos os aspectos – me remeteu, de repente, a uma excursão do Santos ao continente africano na década de 60, quando eu e José Trajano estávamos começando nossa carreira no Jornal do Brasil. Oldemário Vieira Touguinhó (1934-2002), ainda como repórter, foi o convidado especial do clube da Vila Belmiro para acompanhar a delegação. Explica-se: Oldemário era amigo de Pelé e o craque, com a mais absoluta das certezas, fez questão de que seu clube chamasse um jornalista, embora carioca, para acompanhar a delegação.

Oldemário, embora com dificuldades de comunicação da África para o Brasil, nos remeteu matérias curiosas e absolutamente incríveis. Numa delas – não me perguntem onde ocorreu, pois minha memória não é de ferro – Touguinhó contou que o lugar onde o Santos atuou não tinha bola número cinco e o jogo teve que ser disputado com um courinho número três. Para fazer seus gols – sempre uma enxurrada deles – os jogadores do Santos não podiam chutar com força, pois a bola passava pelas malhas das redes e o juiz – imaginem o tipo de juiz – anulava os gols, já que os courinhos não eram contidos pelas redes – sempre em péssimas condições. O chute a gol tinha que ser suave para que o courinho morresse dentro da baliza.

Houve um jogo – perguntem ao Trajano – em que Pelé foi expulso de campo, por reclamar demais com o árbitro. Formou-se um tumulto completo. Os torcedores, que estavam ali para ver Pelé – já bicampeão mundial pela Seleção Brasileira – ameaçaram invadir o campo (seria um campo?) se o tal soprador de apito não voltasse atrás. Empurra daqui, empurra dali e o juiz teve que chamar Pelé de volta, anulando a expulsão. É claro que foi aplaudido pela multidão que antes exigia a presença de Pelé.

Nem tudo o que ocorreu na excursão pôde ser passado por Oldemário, que só na volta à redação do JB, ainda na Avenida Rio Branco, nos contou as peripécias de sua viagem África. É verdade que nos tempos atuais a coisa mudou e a África do Sul pôde até sediar uma Copa do Mundo. Mas reparem no estádio do Congo onde o Brasil jogou e venceu por 2 a 0. O gramado era um lamaçal e a Seleção Brasileira só lá se apresentou em razão da cota milionária que recebeu – um milhão de dólares.

Agora será a vez do Egito, no Catar, pois o Norte da África está agitado e o Cairo não seria um bom local para o amistoso. Agora deixo a pergunta para os leitores deste site da ESPN Brasil: de que vão valer os dois jogos na preparação para a Copa do Mundo de 2014? Creio que de nada, até porque o time de Mano Menezes é todo formado por “estrangeiros”. Pelo menos há um consolo: as bola utilizadas já não são mais número três.